quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O poeta que virou prosador (sem destorcer nada)










manhã seguinte partimos e nada novo se deu. dia inteiro reavemos caminho que havíamos gasto à ida. Certinhos de nem querer esperar o tempo de um suspiro, rodámos carroça ininterrupta ansiando, como por vida, proximidades de nosso pai e ermesinda. o aldegundes falava na sarga, e eu anuía, e a sarga, pobre coitada, sozinha para várias noites, despalavrada de ninguém, ainda se morre de estupidez por ignorância de saber que viajámos ao invés de morrer. 
o remorso de baltazar serapião. valter hugo mãe


Não é leitura para seres sensíveis mas é preciso ser sensível para lê-lo. Aviso: li-o do princípio ao final com a alma (pois, isso que já não tenho) encolhida. Agradável não é adjectivo para definir a emoção de quem segue a viagem pela mente do baltazar serapião, ao contrário, foi para mim e muito, muito convulsiva a força da escrita do valter hugo mãe*, são potentes as imagens que transmite, fez-me vibrar, sofrer com quem sofria e desfrutar da beleza com que transforma o mundo (os seus abismos e cimeiras, os seus horrores e excelências) em literatura de maiúsculas minúsculas.

Transformar o mundo em literatura era o título da conferência que me levou ao pé dele ontem, numa manhã de bágoas dessalgadas e ventos como ar de pulmões que se agarram à vida, sol por dentro de mim desafiante. Ele falou de si, de vencer os medos, de lutar contra as vertigens, de perseguir os sonhos. Como se fosse qualquer um de nós, mortais. Porque é gente, afinal, nem que escreva como um anjo sem céu.

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* As letras e a voz são dele... Xiça!

8 comentários:

Teté disse...

Posso ser sincera? A voz do homem, como cantor, não me convenceu.

Como poeta não o conheço, excepto de um trecho ou outro que leio aqui e ali, mas ler e/ou analisar poesia não faz parte do que entendo essencial. Como prosador talvez me convença muito mais, mas certezas só lendo! Obrigada pelo aviso!

Last but not least, nem sempre os grandes escritores são simpáticos e se assumem como um mortal comum, com medos e sonhos como todos nós. A escrita não precisa desses predicados para ser deslumbrante, né?

Beijoquitas!

Sun Iou Miou disse...

Então não podes ser sincera, Teté? Deves (se quiseres)!

A história é dura, eu aviso. `_^

Ana disse...

Ei, chamaste a minha atenção. Gosto de livros assim, que mexam connosco enquanto gente e que nos digam, não faz mal seres humana, nao faz mal chorar.

Sun Iou Miou disse...

Acho que não me espremi bem, Vani. O romance não me fez chorar: é muito duro, só isso (não é pouco). Gostei da história e de como está contada, mas para mim não é de chorar, é de estremecer: é diferente.

Kapikua disse...

Vou ter de o procurar nos escaparates...

logo logo te darei conta da minha opinião sobre esta obra!

Beijo

Sun Iou Miou disse...

Nas montras, Kapikua? Duvido que encontres aí. Isto é mais nas prateleiras e aguçando a vista: afinal é um livro antiquíssimo já, 1ª edição de 2006 e Prémio Saramago de 2007! Mas se encontrares, porque os best-sellers deixaram um lugar livre e algum funcionário achou que tinha o tamanho e as cores idóneas para o preencher, então toma cuidado, não te vás ferir ao partir os vidros. Uma pedra pesada dá jeitinho, atirada de longe.

Beijito


(Aguardo a tua opinião porque acho que tu si vais gostar. Gostas do que escreve a Cassamia, e eu também: isso já é um sinal.)

Ra disse...

Me gusta el escenario de presentación de sus lecturas :)

Sun Iou Miou disse...

Grazas, Ra. Benvida por aquí, aínda que xa hai tempo que frecuentamos as mesmas paraxes. `_^

(A min gústanme as miñas lecturas, punto.)