terça-feira, 23 de novembro de 2010

Assim ou doutra maneira

Estão os três à mesa da sala e é noite, plenilúnio ou quase ―não vi as fases no calendário―, reparem. Falam, quem sabe?, o que interessa isso?, da inexistência dos deuses ou de como seriam longas as tardes dos domingos do outono não fosse pela play. Dizem eles, Mãe ―é a mãe que põe no mundo os nomes―, o pequenito já nem tanto e como passou o tempo, o mais velho não me quer endireitar essas costas?, valha-me Zeus ou Marte. Olha. Estão à mesa, pois, será a hora do jantar. E eu que nem sei se nos arquipélagos as pessoas comem sopa (caldo, canja ou vichysoise), mas fruta, na sobremesa, é preciso comer sempre. Comam fruta, meninos (os meninos, já disse, que são dois, tem nome, o seu cada; a mãe é a Mãe pela casa dentro). Falam, ainda, de sonhos, sobre as cascas de tangerina e o aroma, e declama cada um o seu, de seu nome, um copo de leite, em letras pequenas de todas as cores: algum dia o mundo será um continente onde a gente possa caminhar, em linha quase recta, sem perder nunca o pé.



(Esta garatuja até poderia estar desenhada em verso lá no Fragmentos, mas ficou aqui feita traços de "prosia" para quem quero e sabe, mulher-pessoa sem fronteiras nenhumas, ilha navegável.)

2 comentários:

Anónimo disse...

Lindo texto
(falan, claro que falan os tres, ao amor do lume probablemente, e iso si, de soños)

Sun Iou Miou disse...

Certo, Kaplan, finais de outono quere lume e moito ao amor do ídem.