sexta-feira, 29 de maio de 2009

Tantas miradas / Tantos olhares










Sei que os meus olhos tinham uma mágoa tão grande como a manhã, uma mágoa invisível, num instante em que o invisível era a única coisa que se podia ver.

A filha da cozinheira em Nenhum olhar do José Luís Peixoto


Era o ceo a apagarse enriba iluminando o rio embaixo. En min era o lusco-fusco contra o que lidaba por aprehender nas derradeiras páxinas o final da historia. O final que foi final mesmo, onde o mundo acaba. E así foise extinguindo como a luz a melodía pola que até entón planara eu, incorporada en todos os personaxes, sendo tremor ante o sorriso do demo como o José pai e inocencia en Salomão; remorso que pesa da viúva que foi antes muller do José e nai do José fillo, o que dixo vou e non foi porque lle dixeron non vas; as mans que ven da prostituta cega e que no mestre Rafael foron primeiro ledicia e despois loito convertido en labras incendiadas; a tristura da cadela vellísima e a sabedoría dos anos infinitos do Gabriel; alimento esculpido polo espírito da cociñeira e paciencia na filla dela, sempre á espera, figura amasada tamén; e os dedos maimiños dos irmáns Elias e Moisés, que máis ca corpos unían sangue.

Era o céu a apagar-se acima iluminando o rio abaixo. Em mim era o lusco-fusco contra o que brigava por apreender nas derradeiras páginas o final da história. O final que era final mesmo, onde o mundo acaba. E assim foi-se extinguindo como a luz a melodia pela que até então pairara eu, incorporada em todas as personagens, sendo tremor ante o sorriso do diabo como o José pai e inocência em Salomão, seu sobrinho; remorso que pesa da viúva que foi antes mulher do José e mãe do José filho, o que disse vou e não foi porque lhe disseram não vais; as mãos que vêem da prostituta cega e que no mestre Rafael foram primeiro alegria e depois luto convertido em maravalhas incendiadas; a tristeza da cadela velhíssima e a sabedoria dos anos infinitos do Gabriel; alimento esculpido pelo espírito da cozinheira e paciência na filha dela, sempre à espera, figura amassada também; e os dedos mindinhos dos irmãos Elias e Moisés, que mais que corpos uniam sangue.

Polos ollos deles observei as paisaxes, as sensacións, as vidas e as mortes, con pinceladas de prodixio sobrenatural, mentres ao fondo se sentía baixiño o riscar da pluma contra o papel do home que está fechado nun cuarto sen ventás a escribir.

Pelos olhos deles observei as paisagens, as sensações, as vidas e as mortes, com toques de prodígio sobrenatural, enquanto ao fundo se ouvia baixinho o riscar da pena contra o papel do homem que está fechado num quarto sem janelas a escrever.

9 comentários:

Rafeiro Perfumado disse...

Pelos olhos deles?!? Tu arrancaste-lhes os olhos?!? AAAAHHHHHHH!!!

Sun Iou Miou disse...

Não, Rafeirito, não: decapitei-os, depois abrir os cránios por baixo, desocupei-os da miolada com uma colher enfiei a minha carola dentro e voilá... Mas que foi uma trabalheira, um por um, isso foi, acredita. Afinal já nem sabia pelos olhos de quem olhava, fora o caso da prostituta cega, que não via ponta dum corno e por isso sabia que estava a olhar pelos olhos dela. (Na verdade, aconteceu-me o mesmo com outro, mas fora que o pusera do revés; dei-me conta porque me entrava frio no cogote e era que ficaram todos de boca aberta, como pasmados.) (O_O)

Teté disse...

Ora aí está um olhar sobre um autor que não conheço (por acaso são muitos, embora possa não parecer).

É dos tais que está na calha, para breve...

Beijocas e bom fim-de!(*_*)

Sun Iou Miou disse...

O José Luís Peixoto já era para mim um excelente poeta, Teté, e pelo que acabo de descobrir, é ademais um narrador formidável, capaz de transmitir uma força brutal em quanto escreve. Acho que vou devorar a sua obra toda.

Bom e activo fim-de! (`_^)

Sun Iou Miou disse...

Esterilizar acho que havia que esterilizar algum descerebrado que outro. Dava mais jeito, mas sou alérgica à palavra obrigatório obrigatoriamente (Já estou numa pura comichão...)

E digo-o eu, que acabo de esterilizar a minha Lima...

Aqui falava-se de poetas, pessoas que escrevem com os dedos todos...!

Anónimo disse...

Só me asomo para desexarlle unha feliz semana (daquela, os narradores con cantos dedos escriben, dando por suposto que sexan eles persoas)

Sun Iou Miou disse...

Os narradores, Kaplan, escriben só cos dedos das mans. (`_^)

Grazas polo da feliz semana e igualmente. Por aquí hase facer o que se poida.

LM disse...

pega lá em uma casa na escuridao. é brutal.
beijos

Sun Iou Miou disse...

Penso-os ler todos, LM, não tenhas medo. (`_^)

(E não foi que ontem me lembrei do Mati e a Laura ouvindo falar uma cativa no rio? Era mais simpática ca as pesetas...)