Depois de muito matutar, só tenho isto para dizer:
Obrigada, CãoSarnento!
(As palavras que não percebeste bem coloquei-as em vermelho)
CãoSarnento disse...
Agora não podes dizer que me não esforcei para entender o texto.
Mas valeu a pena o tempo ganho na tradução.
Miss Anyeska não parou a olhar para trás. Se fosse milionária havia de correr assim o mundo inteiro, sem parar, sem pisar nunca duas vezes no mesmo palmo de chão (ai, não me venham agora com Heráclito...)
[Aqui tive de recorrer aos livros: heracliteísmo: doutrina que considera como prevalecente a constante mobilidade das coisas]. No entanto, os réditos
[rédito = lucro; rendimento; existe com o mesmo significado no português, mas pouco utilizado na linguagem corrente] das falcatruas, ainda que dessem para viver com desafogo, obrigavam a passar fronteiras ao ritmo marcado pela justiça. No fim tampouco era assim tão livre. Na esquina, aguardava o carro já com o motor em marcha.
—Bem-vinda de volta ao mundo, rapariga.
—Não era sem tempo. Trouxeste-me roupa?
—Trouxe. Vamos à minha casa, ou tens outra ideia prevista?
—É melhor irmos para a pensão da francesa. Vai ser o último sítio onde me vão procurar.
A Cedofeita
[no Porto?] estava deserta, como sempre a essas horas. Um gato branco e cinzento espreitou-lhes os passos desde o fundo castanho dos olhos
[os olhos dos gatos não são amarelos na Cedofeita eheheh]. Quando passaram por ele, Miss Anyeska deteve-se um segundo, desconfiada.
—Uma cara conhecida.
—Quem? —a menina Jennifer olhou ao redor.
—O gato.
—Tu estás parva.
—Estarei.
—Rrrrrr… —ronronou
[os cães rosnam, os gatos ronronam] o gato, atrevido, pousando os olhos no abanar das ancas das duas amigas.
Tocaram a campainha ao chegar ao número 13. A dona da pensão assomou a cabeça despenteada
[?] à janela
[dúvida: por analogia com a finestra italiana, ou a fenetre francesa sem certezas de alguma delas estar correctamente escrita eheheh] do primeiro andar.
—Oui! Quem é?
—Sou eu! Recorda-se de mim?
—Ai, avemariapurísima! Quelle surprise! Anda, sobe, que já vos abro a porta.
Sentiu-se estalar o cordel que pujava do passador. A porta não se abriu. Nervosas, aguardaram uns segundos infinitos até que sentiram passos pelas escadas. Um moço louro da raiz às pontas do cabelo apareceu do outro lado da porta, descalço, metendo a camisa por dentro das calças de ganga
[ou jeans] e ajeitando o cabelo revolto.
—Passem, passem —dito com pronúncia de longe e voz
aguda [pito ≠ de adolescente]—Muito boas noites —contivo o alento a señorita Jennifer,
fincando-lhe um cotovelo nas costelas.
[com esta é que me lixaste eheheh]—Oi, que se partiu o cordel da porta! Vou ver se o amanho
[“arranjo” é mais utilizado por cá] num segundo! — gritou com voz de gralha
[pássaro da família dos corvídeos que tem um piar estridente e irritante] o
faz-tudo [milmañas ≠ atrevido], com receio de estragar tanta beleza.
—Não demores, rei, que arrefece a ceia!
[frase retirada, provavelmente, de algum clássico da literatura? Perdoa a minha ignorância]O tom confirmava que a voz do moço não batia, em absoluto, com o seu aspecto
[aqui poderia dizer-se que “não batia a bota com a perdigota” eheheh]. La Queue Bleue franqueou-lhes a passagem, com uma bata de seda violeta acabada de estrear e o lábio superior escaldado numa depilação apressada.
—Passem, passam! Não estava à sua espera! Vale uma alegria pela outra —murmurou acenando para baixo, saudosa do descanso interrompido.
—
Parece que [Seica ≠ nome próprio] não dispensa a boa mesa —disse a fugitiva piscando o olho.
—Ai, a este cangalho já não lhe resta outra coisa que soltar a galinha para comer quente
[a esta também não entendi o sentido, tinha que pagar para comer comida quente... entende-se o quê?] —
suspirou [salaiou ≠ brincou] agudizando as palavras com pronúncia afrancesada.
—Não seja modesta, que está esplendorosa. Tomara eu chegar assim à sua idade. Em tudo cabe bem a medida —mentiu Miss Anyeska citando um apotegma
[apotegma existe no português mas será utilizado talvez em linguagem mais erudita. Eu próprio a desconhecia, apesar de agora verificar que uso bastantes “apotegmas” na minha linguagem corrente eheheh] dos antigos sofistas gregos, diz-que.
—É, caber cabe bem, cabe —concordou, desta vez falando verdade a amante da sabedoria experimentada.
[aqui talvez se pudesse utilizar “sabedoria popular”, em vez de “sabedoria experimentada”, se bem entendi o sentido. Não, "experimentada" de que sabe por experiência própria.]