quinta-feira, 31 de março de 2011

segunda-feira, 28 de março de 2011

O ogro mascarado de plácida leitora de poesia (2)

Prova de que a poesia não me (nos) faz melhor(es) pessoa(s)

É, já foi dito, domingo de entrudo. Escolho o canto mais apartado, que tem por ali à solta duas crianças a engrinaldar tudo quanto é mundo com serpentinas ao tempo que a mamãe ralha nelas com inhóspita correnteza de voz e proveito zero (o pai, ao que parece, é felizmente surdo ou de espécie muda... e quase ainda bem). Porém (ei-lo, como previsto) terei azar. Chega agora a priminha com os pais ―beijos, alaridos e abraços― e os três putos resolvem deslocar a bagunça justamente (engulo cuspo, pigarreio para temperar a secura da garganta) por tris-trás de mim, para uma zona, sedutor o chão tapizado de seixinhos brancos, a que uma fita atravessada no vão sem porta supostamente veda passagem sob pena capital nenhuma (pena!, franzo o sobrolho, a alma encrespa-se-me...). O Huguinho e a Mariana, travestidos de punkie (com muletas) e ratinha Minnie (com orelhas), respectivamente, entretêm-se com a Fada (com chapéu) Cor-de-Rosa Helena a remexerem nas alvas pedras e procuram, sem pejo nem sigilo, tesouros!!! (vidralhada multicolorida, enferrujadas caricas finiseculares, alumínicos anéis de indegradáveis abrefáceis..), acompanhados pela gritaria já-se-sabe improfícua que a mãe arremessa por cima da minha paciência: que não fossem sujar as mãos, nem os vestidos, que era, aliás, aquilo em que o trio em venturosa impunidade se empenhava, aproveitando a parede que cega a materna pose vigilante. Entretanto, pugna o monstro em mim: sangue num ferve-não-ferve, blups-blups, babas que fermentam sob a língua, bafo a assomar pelas narinas fora, escamas que se excitam sobre a palidez verde da pele... Herodio-me.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Fachada

00:11:29:12. Conxelo o seu rostro na pantalla. A cámara que mostra o que o espectador debe ver centrouse nela. A súa expresión denota desprezo, repugnancia, odio profundo no trazo levemente curvo dos labios finos. Unha carga de tristura inmensa na mirada e o cansazo das noites mal durmidas na pel, escepticismo e tensión nas ventas distendidas do nariz. A cabeza e as costas ergueitas, pescozo de garza que axexa, unha carpeta a amparar o peito, contempla a parella que se deixa fotografar. O espectador ve a través dela. Coñece a través dela os segredos máis ocultos. Sabe por ela que non cumprirá falsear a imaxe: os retratados parapétanse tras un perfil falso, a portada perfecta de revista.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Ar iluminado

Para o besugo

Que eles e nós eramos feitos de ar ninguén dubidaba e quen dubidase, dentro das excepcións pertinentes, era apenas por ser feito duns outros gases raros e extravagantes. Sabíase isto a pesar de que nas horas de ceos moi toldados, en que as augas se espellan así mesmo toldadas, un manto de líquida cinza oculte as borbullas de peixes e algas que acolá nos medios fundos trocan os seus osíxenos e os seus hidróxenos en desproporcións dispares. Era tamén verdade científica comprobada até proba en contra que había ademais bastante carbono ao barullo, o que a todos nos daba a solidez táctil, pois un exceso de permeabilidade na esencia implicaba risco de fusións infindables. E en relativas porcentaxes de chisca e migalla, os corpos contiñan outros elementos tales coma o ouro dos dentes, o titanio das próteses internas e externas e os fósforos do cerebro, eses que resplandecen en noites desluadas e nalgúns casos notorios se localizan en cristais polas nádegas, distinguíndose así as especies que salpican a atmosfera a aboiar en dous grandes grupos indiverxentes de escaso peso, os poéticos vagalumes e os prosaicos lucecús, xente, ao final, sempre de palabra, ou como dicía, ar. Ar, con todo, iluminado.

terça-feira, 22 de março de 2011

Água!

Uma tarde levo com um stick na fuça e já na noite a seguir, bimba!, batem-me com uma música numas frases quebradas rascunhadas algures. De ambos acidentes, em aparência, a gente sai indemne. Só que aparências, já se sabe, enganam: o nariz ainda dói e os tímpanos vibram como se um manancial lhes falasse.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Locuras (ou sons)

Não tarda em propalar-se aldeia fora o rumor. A mulher ―dirão num burburinho no segredo dos confessionários, comentarão em surdina na mercearia, vociferarão sem pejo nos cafés― endoideceu e vagueia ao lusco-fusco pela margem do rio... sozinha.

O problema não é as pessoas nos julgarem doidos, mas não sabermos nós que estamos. Talvez, afinal, endoideceu mesmo, mas os cães agradecem tanto...

Depois estão as perspectivas, porque a mulher não vagueia sozinha: acompanham-a o alento dos cães, os patos que regressam ao ninho apregoando-se, o gralhar duma garça indecisa, um coro estridulíssimo de grilos, o plof-plof dos sapos que lhe abrem passo não os pise, os remos duma barca de pesca a chapinhar sobre tanta calma...

domingo, 20 de março de 2011

sábado, 19 de março de 2011

sexta-feira, 18 de março de 2011

O ogro mascarado de plácida leitora de poesia (1)

Prova de que a poesia não me (nos) faz melhor(es) pessoa(s)

É domingo de entrudo. Almocei já, cedo hoje, mais do que é costume, meu. Estaciono (um falar) a burra sob a janela fechada da Biblioteca fechada, talvez ainda elas venham a aprender alguma coisa por contágio. Olho em volta. Está o ambiente animado. Toca fugir, pois. Pois. Não fossem os "porens..." que virão mais tarde. É preciso ter (a gente, eu) muita calma. Entro na pastelaria e peço, sff, para me levarem um bolinho de maçã e um chá bastante preto à esplanada. A esplanada são três paredes e nenhum tecto dum prédio antigo, enfrente, com vistas ao edifício e o jardim da Biblioteca, belíssimos, estáticos, calados. É para o que der, e dá-me, o lugar idóneo, numa rua próxima ao terreiro e afastada do seu bulício, em que pouso o corpo dolorido e lanho das páginas dum livro irregular de capa roxa poemas, imatéria dum poeta excelente se fosse mais crítico consigo ou tivesse um bom amigo que às claras lhe dissesse: olha, que isto aqui é merda, mesmo.

A morte do carocho

quinta-feira, 17 de março de 2011

O tamaño é relativo

Mala baba

Na caixa do supermercado, cando me toca a vez, deixo de ter présa, a tensión reláxase e escoito as conversas que aboian arredor. A metro e medio de min unha muller di que non entende a xente que non quere revelar os anos que ten. Eu penso que alá cada un co seu corpo e os seus espellos. Non, non quero bolsas, grazas, repito en ton automático antes que me pregunten. Vou gardando no carro as cousas que antes tirei para colocar na cinta transportadora e que a caixeira foi pasando polo lector de códigos de barras, que emite un zunido de cada vez, zunido que se transforma en cifras. (De súpeto sinto nostalxia daquelas caixas que dicían money, pola estética clara da boca que se abre e canta o seu contento, sen enganos, transacción física de papel e moedas que manchan as mans... non que eu desexe de forma e en forma ningunha regresar á puta (avaliación adxectiva crítica e enfática sen connotación literal substantiva ningunha) da adolescencia, á merda (ídem de idem) toda da vida miña que felizmente foi quedando atrás. Ela, a outra, insiste en que non entende esa xente, que ela ten corenta e mal lle importa recoñecelo. Eu por fin acabei de gardar as cousas no carro, e pásolle a tarxeta e mais o dni á caixeira. Aproveito a pausa para pór corpo á voz da señora cunha leve ollada de esguello e penso que fai ben en confesar que ten corenta anos, porque non parece. Eu botáballe bastantes máis. Sen dó. Mala baba teño.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Sincronías























Parrulos cristados (Aythya marila)