quinta-feira, 30 de abril de 2009

Microsismo / Microssismo

E visto que son tan susceptibles, chamo a súa atención para un textiño grande que hai ao lado (nunca me aclaro coas dereitas e as esquerdas), titulado As cousas rara vez son o que parecen, que está aí por algo.

E visto que são tão susceptíveis, chamo a sua atenção para um textinho grande que têm no lado (nunca me entendo com direitas e esquerdas), titulado As coisas rara vez são o que parecem, que está aí por algum motivo.


Morrer —a morte miña, enténdase— debe de ser así coma quen que me dea por pensar que hoxe estou sen gana ningunha de me erguer; coma quen que sinto o espertador mooooi ao lonxe, ou nin iso, nin o sinto; ou coma quen que o apaguei sen me apercibir, nun xesto que nin lembro nin xa máis vou lembrar, e despois aínda que soe o teléfono, nin me molesto en atendelo, porque á parte é que tampouco ouvín nada. Morrer, imaxino, talvez sexa deixarme quedar estarricada, silenciosa, inerte (velaí a palabra exacta que procuraba) e que a chuvia me esfarele, coma cando sendo un —eu para o caso— un gran de area que sobresae todo farruco, pasa por riba unha onda e o esmaga, alisando lisa lisiña a praia, sen que haxa máis ca unha mínima alteración de átomos ou nin iso, que xa era ben pouco. Se cadra morrer —morrer eu, insisto— é ceder, perder a vontade de loitar e de rebelarse, como daquela vez en que me doía tanto todo que nin daba comido, nin endereitado o corpo e só devecía por ver vir a enfermeira coa xiringa, abrir un chisco os ollos para observar como a chuzaba no pitufo e ía amolecendo no espernexar, na resistencia, coma un louco sometido.

Morrer —a morte minha, entenda-se— deve ser assim como a modos de desatar a pensar que hoje estou sem vontade nenhuma de me levantar; como se ouvisse o despertador muuuito ao longe, ou nem tanto, nem o ouço; ou como tal que o desliguei sem dar por isso, num gesto que nem lembro nem já mais vou lembrar, e depois mesmo que tocasse o telefone, nem me dou o trabalho de o atender, porque também não ouvi nada. Morrer, imagino, talvez seja me deixar ficar estatelada, silenciosa, inerte (eis a palavra exacta que procurava) e que a chuva me esfarele, como quando sendo a gente —eu para o caso— um grão de areia que sobressai todo charmoso, passa por cima uma onda e o esmaga, alisando lisa lisinha a praia, sem que dê para mais do que uma mínima alteração de átomos ou menos, que já era pouco. Se calhar morrer —morrer eu, insisto— é ceder, perder o desejo de lutar e de se rebelar, como daquela vez em que me doía tanto tudo que nem era capaz de comer, nem de endireitar o corpo e só ansiava ver vir a enfermeira com a seringa, abrir um bocadinho os olhos para observar como a espetava no soro e ia amolecendo no espernear, na resistência, como um louco submetido.

Como digo, morrer —sendo o suxeito do infinitivo conxugado quen isto escribe, que veño a ser eu— é quizais o mundo a facer tris-tris, un axuste mínimo, unha restruturación de lugares e xerarquías, a voz miña a renegar das memorias (a voz é o primeiro que se esquece...), unha vaga idea do meu rostro que esvaece no maxín de alguén, e outros, quen sabe quen, a tocar estas teclas que toco aínda, sen repararen en que hai algunhas máis gastadas ca outras, poucas, as do teu nome.

Como digo, morrer —sendo o sujeito do infinitivo conjugado quem isto escreve, que afinal sou eu— é quiçá o mundo a fazer tris-tris, um consertamento mínimo, uma restruturação de lugares e jerarquias, a voz minha a renegar das memórias (a voz é o primeiro que se esquece...), uma vaga ideia do meu rosto que se esfuma na mente de alguém, e outros, quem sabe quem, a tocar estas teclas que toco ainda, sem repararem em que tem algumas mais gastadas do que outras, poucas, as do teu nome.

sábado, 25 de abril de 2009

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Para as ondas do mar dele







O Guincho


Não era para escrever cá tão logo, Carlos, mas ao saber que partia ao fim à sua Comala particular, fiquei entre a alegria e a tristeza, egoísmos meus da felicidade sua. Lembrei então a estrela, onde há tempo (tanto ou nada) nos encontrámos, e saí a procura-la na noite, pelos caminhos escuros onde a ausência de luz permite distinguir melhor os sons, só por ver se entre grilos, rãs e o sussurro do vento na folhagem que anuncia chuva para amanhã me brindavam as notas com que lhe inventar uma melodia. Foi este concerto que ouvi e roubei, só para si, como um bater de ás que o eleve sobre o Atlântico, por cima do seu Rochedo e da admiração minha.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Seguro de morte / Seguro de morte

Botei dous meses de angustia inconstante, sendo aquela mina de carozos en que me empeñara o inferno propio —non réplica deste como presumía? Con receo de non me encontrar nin me ollaba ao espello, escusándome no pretexto de que nin para min era exemplo que debese imitar (dobrada en xeira e en imaxe desdobrada?). De cando en cando soaba o teléfono, eran sempre os que manexan o látego; as cartas recibidas eran só confirmacións de recepción deses churros que dei en fabricar agora en serie, sen que ninguén se alporice, mentres vaian normativamente coordenados. E se me transmutara así na apatía do desespero, na inercia do que vos dean merda polo mesmo prezo, pola mesma presión, total para se anestesiaren os estúpidos topeneando no sofá, que non merecen máis... que me certificaba a prórroga do óbito? O seguro de morte!

Passei dois meses de angústia inconstante, sendo aquela mina de caroços em que me empenhara o inferno próprio não réplica deste como presumia? Com receio de me não encontrar nem me olhava no espelho, escusando-me no pretexto de que nem para mim era exemplo que devesse imitar (dobrada em jornada e em imagem desdobrada?). Vez por outra tocava o telefone, eram sempre os que governam o chicote; as cartas recebidas eram só confirmações de recebimento dessas farturas que acabei por fabricar agora em série, sem ninguém se irritar, enquanto forem normativamente coordenadas. E se me transmutara assim na apatia do desespero, na inércia do levem é mais merda pelo mesmo preço, pela mesma pressão, afinal para se anestesiarem os estúpidos a cochilarem no sofá, que não merecem mais... o que me certificava a prorrogação do óbito? O seguro de morte!

Así é, a primeiros de cada mes desde hai mil e un anos, aparece puntualmente o Pepe do Fadista ou a muller del, no seu defecto ou virtude, a cobrar a póliza con que me aseguro a incineración polo ben de amigos e parentes que non enterre eu antes. Non imaxinan a mala chispa que me come cada vez que sinto o telefonillo e vexo a calquera dos dous na cancela a me lembrar a miña condición mortal, como frades nas misións a esbardallar arrepentídevos pecadores que a fin está próxima pola boca podre, cilicios pingándolles nas costas sanguinolentas. Foi, non obstante, decisión previsora que tomei, cando me morreu o primeiro morto, meu máis vello, e á dor sumouse a rabia do atraco a man armada dos coveiros traxados contra os desvividos sen vontade (non é que me importe o que fagan cos meus restos, fóra o acto inomisible da homenaxe do tan boa como era coas medallas moi póstumas elas).

Era assim, a primeiros de cada mês desde há mil e um anos, aparece pontualmente o Pepe do Fadista ou a mulher, na falta dele ou virtude, a cobrar a apólice com que me garanto a incineração pelo bem de amigos e parentes que não vá enterrar eu antes. Não imaginam como me ponho cabreira cada vez que ouço o intercomunicador e vejo um qualquer dos dois na cancela a me lembrar a minha condição mortal, como frades nas missões a farfalhar arrependei-vos pecadores que o fim está próximo pela boca podre, cilícios pingando-lhes nas costas sanguinolentas. Foi, contudo, decisão previdente que tomei, quando me morreu o primeiro morto, meu mais velho, e à dor somou-se a raiva do assalto a mão armada dos coveiros bem trajados contra os desvividos sem vontade (não que me importe o que fizerem com os meus restos, fora o acto inomissível da homenagem do e ela era tão boazinha com as medalhas muito póstumas).

Na primeira quincena de xaneiro e sen calefacción nin auga quente nos días máis xélidos que sementou o ano acoitelándome, amortallada en cobertores fronte ao ordenador, coa Lima aos pés, non tiven dúbida da miña existencia, por iso desatendia as voces que me alertaban da alteración da rutina. (Han de pasar a cobrar, han de pasar, respondía eu repetitiva, non hai présa. Sempre pasaron —ben o sabe a historia— por riba dos nosos cadáveres aínda quentes.)

Na primeira quinzena de Janeiro e sem aquecimento nem água quente nos dias mais gélidos que semeou o ano esfaqueando-me, amortalhada em cobertores frente ao computador, com a Lima aos pés, não tive dúvida da minha existência, por isso desatendia as vozes que me alertavam da alteração da rotina. (Eles passam a cobrar, eles passam, respondia eu repetitiva, não tem pressa. Sempre passaram —bem sabe a história— por cima dos nossos cadáveres ainda quentes.)

Veu febreiro e nada, nada, o telefonillo sen soar, nin un tintinar sequera, eu cismando xa polo baixo, o sol abrindo flores, a conta corrente algo máis recuperada, veña a debullar espigas de millo anacarado para os porcos amarrados polo piercing (noutrora brinco) á doméstica causa, a desconfianza asolagándome: será que morrín mesmo e os cabróns intereseiros, na certeza do meu billete pago ao inferno, avaros en custes e emanacións de CO2, deixaron o cargo da miña cremación no demo?!

Veio Fevereiro e nada, nada, o intercomunicador sem tocar, nem um tintinar sequer, eu cismando já com os meus botões, o sol desabrochando flores, a conta corrente um bocado mais recuperada, sempre a debulhar espigas de milho nacarado para os porcos amarrados pelo piercing (noutrora brinco) à doméstica causa, a desconfiança alagando-me: será que morri mesmo e os cabrões interesseiros, na certeza do meu bilhete pago ao inferno, avaros em custes e emanações de CO2, deixaram o cargo da minha cremação no demo?!

Apalpei nos pómulos osudos, na nítida liña dos dentes, nas rótulas marcadas, no ángulo agudo dos nocellos, os artellos un por un, exquisitos no renxer tan autoinmunes, e en desconcerto vivo, baixei ata a casa do Pepe do Fadista, petando na porta con medo de meter medo, se é que, barrunto apenas, asustan os espectros a quen ten trato cos mortos:

—Ai, ola, Sun Iou, eras ti!
—É que como non aparecestes a cobrar o mes pasado nin este, pensei que…
—Pois aínda estiven esta mañá alí e tiñas a moto na porta. Chamei un par de veces no telefonillo...

Apalpei nos pômulos ossudos, na nítida linha dos dentes, nas rótulas marcadas, no ângulo agudo dos tornozelos, os artículos um por um, esquisitos no ranger tão auto-imunes, e em desconcerto vivo, desci até a casa do Pepe do Fadista, batendo na porta com medo de meter medo, se é que, conjectura apenas, assustam os espectros a quem tem trato com os mortos:

—Ai, olá, Sun Iou, era você!
—É que como não apareceram a cobrar no mês passado nem este, pensei que…
—Pois ainda estive de manhã lá e estava a mota na porta. Toquei um par de vezes no intercomunicador...

E eu sorrindo aliviada, notando a lingua en carne a rozar nos incisivos. O telefonillo, claro, nin polo maxín me pasara que puidese estar avariado, habendo como houbo andazo de máquinas desafiuzadas, e eu morrendo así aos poucos, feita idiota.

E eu sorrindo aliviada, notando a língua em carne a roçar nos incisivos. O intercomunicador, então?, nem pela cabeça me passara que pudesse estar avariado, havendo como houve andaço de máquinas desafiuçadas, e eu morrendo assim aos poucos, feita idiota.

sábado, 11 de abril de 2009

terça-feira, 7 de abril de 2009

Unha ra de fábula / Uma rã de fábula

Ouvín a alarma do espertador, lonxe, lonxe, quince segundos —poucas veces, longos; tantas, tan breves. Logo me decatei de que o soñara, pois a Lima non se movera do sitio. E por aproveitar a vixilia decidín que se me espertara un soño, ben podía inventar un soño que me adormecese. E matinando, matinando nunha historia para contar adormecín. E soñei...

Ouvi o alarme do despertador, longe, longe, quinze segundos —poucas vezes, longos; tantas, tão breves. Logo percebi que o sonhara, pois a Lima não mexera. E por aproveitar a vigília decidi que se me acordara um sonho, bem podia inventar um sonho que me adormecesse. E matutando, matutando numa história para contar adormeci. E sonhei...

Eu era meniña, como sempre fun, a destempo: a máis nova entre os máis vellos; a máis vella entre os máis novos. Estaba na escola, unha casiña de madeira —e este detalle, nótese, foi a infame serie que traduzo que se me filtrou na fábula—, cun xardín inmenso, verde sobre verde, e un estanque diminuto, cos seus nenúfares, claro. Entón chegou a ra, grande coma un ourizo cacheiro, e os seus catro rebentos ao lombo, que descargou na auga, ante o noso asombro infantil de ollos arregalados de manga xaponés:

—Vistes como lles aprende a mamá a nadar?!
—Que catro tartaruguiñas lindas tivo! E que pequerrechas son!
—Xa, xa —dixen eu despuntando na bióloga que non fun— agora son pequerrechas, pero cando medren, van ser máis grandes ca a mamá, porque son sapoconchos, coma os de Darwin.

Eu era criança, como sempre fui, a destempo: a mais nova entre os mais velhos; a mais velha entre os mais novos. Estava na escola, uma casinha de madeira —e este pormenor, repare-se, foi a infame série que traduzo que se me filtrou na fábula—, com um jardim imenso, verde sobre verde, e um tanque diminuto, com os seus nenúfares, claro. Então apareceu a rã, grande coma um ouriço cacheiro, e os seus quatro rebentos ao lombo, aos que descarregou na água, ante o nosso espanto infantil de olhos arregalados de manga japonês:

—Vocês viram como lhes ensina a mamãe a nadar?!
—Olha que quatro cágados lindos teve! E como são pequerruchos!
—Pois são —disse eu despontando na bióloga que não fui— agora são pequerruchos, mas quando crescerem, vão ser maiores do que a mamãe, porque são tartarugas, como as de Darwin.

E as tres compañeiras quedamos estáticas na ventá altísima da escola, como tres signos de exclamación, tan admiradas do prodixio, ata que sentín, desta si, real, a melodía maldita e a impaciencia contida da Lima debruzada no ombro...

E as três companheiras ficamos estáticas na janela altíssima da escola, como três signos de exclamação, tão admiradas do prodígio, até que senti, desta sim, real, a melodia maldita e a impaciência contida da Lima debruçada no ombro...