quarta-feira, 11 de março de 2009

Em tudo cabe bem a medida... fora os comentários do CãoSarnento

Depois de muito matutar, só tenho isto para dizer:
Obrigada, CãoSarnento!
(As palavras que não percebeste bem coloquei-as em vermelho)

CãoSarnento disse...

Agora não podes dizer que me não esforcei para entender o texto.
Mas valeu a pena o tempo ganho na tradução.


Miss Anyeska não parou a olhar para trás. Se fosse milionária havia de correr assim o mundo inteiro, sem parar, sem pisar nunca duas vezes no mesmo palmo de chão (ai, não me venham agora com Heráclito...) [Aqui tive de recorrer aos livros: heracliteísmo: doutrina que considera como prevalecente a constante mobilidade das coisas]. No entanto, os réditos [rédito = lucro; rendimento; existe com o mesmo significado no português, mas pouco utilizado na linguagem corrente] das falcatruas, ainda que dessem para viver com desafogo, obrigavam a passar fronteiras ao ritmo marcado pela justiça. No fim tampouco era assim tão livre. Na esquina, aguardava o carro já com o motor em marcha.

—Bem-vinda de volta ao mundo, rapariga.
—Não era sem tempo. Trouxeste-me roupa?
—Trouxe. Vamos à minha casa, ou tens outra ideia prevista?
—É melhor irmos para a pensão da francesa. Vai ser o último sítio onde me vão procurar.

A Cedofeita [no Porto?] estava deserta, como sempre a essas horas. Um gato branco e cinzento espreitou-lhes os passos desde o fundo castanho dos olhos [os olhos dos gatos não são amarelos na Cedofeita eheheh]. Quando passaram por ele, Miss Anyeska deteve-se um segundo, desconfiada.

—Uma cara conhecida.
—Quem? —a menina Jennifer olhou ao redor.
—O gato.
—Tu estás parva.
—Estarei.
—Rrrrrr… —ronronou [os cães rosnam, os gatos ronronam] o gato, atrevido, pousando os olhos no abanar das ancas das duas amigas.

Tocaram a campainha ao chegar ao número 13. A dona da pensão assomou a cabeça despenteada [?] à janela [dúvida: por analogia com a finestra italiana, ou a fenetre francesa sem certezas de alguma delas estar correctamente escrita eheheh] do primeiro andar.

—Oui! Quem é?
—Sou eu! Recorda-se de mim?
—Ai, avemariapurísima! Quelle surprise! Anda, sobe, que já vos abro a porta.

Sentiu-se estalar o cordel que pujava do passador. A porta não se abriu. Nervosas, aguardaram uns segundos infinitos até que sentiram passos pelas escadas. Um moço louro da raiz às pontas do cabelo apareceu do outro lado da porta, descalço, metendo a camisa por dentro das calças de ganga [ou jeans] e ajeitando o cabelo revolto.

—Passem, passem —dito com pronúncia de longe e voz aguda [pito ≠ de adolescente]
—Muito boas noites —contivo o alento a señorita Jennifer, fincando-lhe um cotovelo nas costelas. [com esta é que me lixaste eheheh]
—Oi, que se partiu o cordel da porta! Vou ver se o amanho [“arranjo” é mais utilizado por cá] num segundo! — gritou com voz de gralha [pássaro da família dos corvídeos que tem um piar estridente e irritante] o faz-tudo [milmañas ≠ atrevido], com receio de estragar tanta beleza.
—Não demores, rei, que arrefece a ceia! [frase retirada, provavelmente, de algum clássico da literatura? Perdoa a minha ignorância]

O tom confirmava que a voz do moço não batia, em absoluto, com o seu aspecto [aqui poderia dizer-se que “não batia a bota com a perdigota” eheheh]. La Queue Bleue franqueou-lhes a passagem, com uma bata de seda violeta acabada de estrear e o lábio superior escaldado numa depilação apressada.

—Passem, passam! Não estava à sua espera! Vale uma alegria pela outra —murmurou acenando para baixo, saudosa do descanso interrompido.
Parece que [Seica ≠ nome próprio] não dispensa a boa mesa —disse a fugitiva piscando o olho.
—Ai, a este cangalho já não lhe resta outra coisa que soltar a galinha para comer quente [a esta também não entendi o sentido, tinha que pagar para comer comida quente... entende-se o quê?]suspirou [salaiou ≠ brincou] agudizando as palavras com pronúncia afrancesada.
—Não seja modesta, que está esplendorosa. Tomara eu chegar assim à sua idade. Em tudo cabe bem a medida —mentiu Miss Anyeska citando um apotegma [apotegma existe no português mas será utilizado talvez em linguagem mais erudita. Eu próprio a desconhecia, apesar de agora verificar que uso bastantes “apotegmas” na minha linguagem corrente eheheh] dos antigos sofistas gregos, diz-que.
—É, caber cabe bem, cabe —concordou, desta vez falando verdade a amante da sabedoria experimentada. [aqui talvez se pudesse utilizar “sabedoria popular”, em vez de “sabedoria experimentada”, se bem entendi o sentido. Não, "experimentada" de que sabe por experiência própria.]

10 comentários:

condado disse...

Eu ben te dixen un día de practicar en catalán... Os tugas só comprendem bem se falar em español, pa :))

Sun Iou Miou disse...

O CãoSarnento trabalhou que nem um cão para traduzir isso, Condado, que nem sequer merecia o esforço, só para entende-lo e da-lo a entender aos meus tugas.

Acho que vá sendo hora de cortar os dedos.

Anónimo disse...

Sun, não valia a pena nova publicação.
Quanto ao comentário do condado, acho que ele não leu um comentário que fiz há tempos. A maior parte dos "tugas" entendem mesmo é o "portunhol" eheheh.
Em Portugal há um desconhecimento profundo da realidade do país a que toda a gente teima em chamar irmão.
Os "tugas" acham que em Espanha se fala espanhol e de "castelhanos" apenas ouviram na escola que eram uns tipos que desde o tempo de D. Afonso Henriques (o nosso primeiro rei) vivem do outro lado da fronteira, obcecados com a ideia de nos virem invadir e não imaginam que aqui ao lado se fala galego, castelhano, catalão (ou catalán), basco e penso que haverá outras línguas regionais que desconheço.
Curioso que, para além da língua galega, que se entende muito bem (é muito parecida com apronúncia transmontana), o catalão tem uma entoação muito parecida ao português, embora não se entenda nada. Da primeira vez que estive na Catalunha fiquei confundido com a diferença. Penso que isso acontece porque ambas as línguas tiveram menos influencia externa e por isso conservam certas características dos dialectos onde tiveram origem (estou em dúvida se tem a ver com o provençal).
Eu gosto de vasculhar nestas coisas da linguística. Pena que as circunstâncias me tenham levado para a indústria, mas era preciso ganhar a vida de algum modo e como não me ensinaram a roubar, fui trabalhar aos 11 anos.
Bom, estão a chamar-me (a berrar eheheh) para jantar.
Obrigado pelo trabalho.
Beijinhos.

Teté disse...

Bom, eu acho que valeu a pena! Pelo menos li e percebi tudo. Ao Heráclito talvez ainda chegasse (o Parménides não era o que tinha a teoria oposta?), mas ao apotegma, oh Sunzinha, tem dó!!! (`_^)

Isto aliado a uns "Seicas" e outras palavras que não descortinaria o sentido, pois, só perceberia pela metade...

Já agora uma pequena curiosidade: esse rei faz-tudo não vem de nenhum trecho literário, pois não? E a referência à bota, hummm... soa-me a algum blogotipo!

De qualquer forma, obrigada, Cão Sarnento! Quanto ao texto, menina, depois de "descodificado" está supimpa!!! (*_*)

Beijocas!

Sun Iou Miou disse...

Estamos em trocas de "obrigados", CãoSarnento? Então pensavas o quê? Que depois de passares a trabalheira de traduzir isso não ia publicar? Se neste reduto de loucura fica algum respeito por alguém é pelos que fazem o esforço de me ler -comentando ou sem comentar.

E no referente à discussão linguística, melhor não continuarmos por aí, porque então vai-se me juntar a hora de deitar com a de acordar... (`_^)

Beijo

Sun Iou Miou disse...

Pois, Tetezinha, blogoglobicamente, vou ver se respondo às tuas perguntas.

1) O apotegma é coisa do Jonas, que é o filósofo; como também a alusão a Heráclito... mas esta bem de longe.

2) O gato é também leitor do Cabaré, mas não devera dizer quem antes de tempo, que estrago o mistério.

3) O faz-tudo não é quem pensas, mas sim em quem pensas, porque até pensei em ti quando pensei nele, e não sendo visitante deste blog (pena!), é conhecido pelo "giraço". "Rei" simplesmente é um apelativo carinhoso em galego, não sei em português. Podia ser o da "bota", mas esse nem sei que voz tem, moço pela foto do blogue dele não me parece, e aquela bota é mais de rebentar com tudo. Aliás, falar em bota foi nota do tradutor, não minha. (`_^)

E sim, o texto ganhou tudo com a tradução e os comentários do Cão Sarnento.

Beijoquita

Rafeiro Perfumado disse...

Conheço um blog que faz sempre as postagens em duas línguas. Porque não começares a fazer isso também, pelo menos nos mais pequenos? Seria uma óptima forma da malta ir apanhando algumas expressões!

Beijoca!

Sun Iou Miou disse...

Já pensei nisso, Rafeiro, mas não sou capaz de traduzir tudo. Entendo o português perfeitamente, mas traduzir bem, lá isso não é fácil. Já tentei traduzir as histórias da Velha Polaca (o antecedente de Miss Anyeska) e é bastante frustrante. Quando escrevo em português, faço directamente sem traduzir, de maneira que se escrevo um texto em galego pensando que o devo traduzir depois, a pouca ou muita qualidade que possa ter diminui inevitavelmente. Talvez de aqui a uns tempos... Ou talvez faça uma prova se consigo encontrar alguma coisa sobre a que escrever (`_^).

Tá-se bem! disse...

Y decirles que en mi casi perfecto español? loooool

Bom Trabalho do cão sarnento!

Podias por um daqueles tradutores manhosos próprios para blog?? :( mas não acho boa ideia!
O teu talento merece melhor! :)

Besoss atarefadosssss

Sun Iou Miou disse...

Duvido que exista tradutor galego-português mecânico, Tá-se bem, e menos com os comentários intercalados do CS!

Bom trabalho!