sábado, 14 de março de 2009
Latência
Acordou-me a claridade espreguiçando-se... e a dor: estava na luz só a novidade, que a outra é companheira antiga quando a manhã me tarda. Regressei devagar do longe: Tocara o telefone e do outro lado falava o editor (Já cá só ligam vozes de trabalho, até em sonhos? Dá que pensar...) Dentro da sala, um melro meninho, olhos negros imensos em corpo de pardal, batia em desespero contra o vidro da janela. Então apareceu enorme o melro macho —grande coma um corvo, só distinto no laranja do bico cantando— e segurado um segundo em equilíbrio aéreo, pegou no trinco e abriu.
—Pára aí! —exclamei—. Nem sabes o que aconteceu...!
Mas já os pássaros fugiram feitos aves. Fui eu quem ficou presa na agonia e no grito, sem asas de voar sempre e de tanto sol, cega dos olhos de ver para fora.
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14 comentários:
Ui que me arrepiei...
Essa melancolia trespassa-me também.. a primavera tem destas coisas..
Bom Domingo e beijooo ;)
É impressão minha ou anda por aí uma onda de grande melancolia? Sonhar com o editor dá que pensar mesmo... se não for demasiado parecido ao Clooney!
Gostei da música, embora dentro dessa mesma "onda"...
Beijocas!
Desarrepia-te, Tá-se benzinho, que está um dia lindo de morrer, digo, viveeerrrr!
Beijo dominical!
É a primavera, Teté (quando não é o verão, o outono ou o inverno, hehehe!)
Ai, se o editor fosse parecido com o Clooney... e pagando pelos meus serviços...?! Isso já não era sonho, era loucura prodigiosa!
A música hoje está de Walking on sunshine, Teté, que é o que vou fazer!
Beijito
cega dos olhos de ver para fóra? pois para dentro também é bom caminho a mirar...
beijos
Não, LM, para dentro já olho muito a cada hora.
Biquiños
Não sei se os melros gostam dessas comparações, ou parecem pardais, ou parecem mochos... ;)
Beijo!
Não tenho culpa, Rafeiro: tomara eu mandar nos meus sonhos... A próxima vez, que escolham melhor lugar do que o meu subconsciente para passarem a noite.
Beijito
Cuidado para os pólens não afectarem a vista.
Saudações do Marreta.
Quanto aos pólens, Marreta, fica tranquilo. A primavera afecta-me mais ao sentido comum do que ao resto dos sentidos.
Beijo
Esto precisa unha revisión detallada. Páseme mañá polo oculista sen falta.
Estás triste?
Beijinho.
Non quero saber de oculistas, Raposo, que porfían en que vexo máis do que realmente vexo: tudo mesquiño e descontornado, mesmo a magnificencia colorida das bolboretas a destempo.
Estou pior do que triste, CãoSarnento: imperméavel, refratária, apassivada. Noutrora construiria um poema sobre esse trípode de elevação inversa e instabilidade plana, hoje não dá: estamos no tempo em que as camélias murcham e ainda as rosas não desabrocharam.
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