Se
isto é uma verdade absoluta empiricamente demonstrada, não tenham dúvida que está aí a solução definitiva que a
Antónia precisava. Se não for, pronto, sempre se livra dele umas horas. Chegado o fim-de-semana, ó Antónia, manda o maridão às compras!
Se me tivessem perguntado a mim os tais cientistas (reparem que isto é uma notícia de muito rigor jornalístico em que ninguém se dá ao trabalho de inventar uma universidade chinesa a que impingir o experimento), poupavam desgaste mental, que também deve produzir impotência ou no mínimo infelicidade. Compreendo, contudo, que não me perguntassem: acabavam jornalistas e cientistas no desemprego, que é igualmente origem de muita disfunção eréctil e desdita. No fim de contas, a hecatombe.
Mas explico já a minha teoria. Paciência. Jornalistas e cientistas, vão dar um passeio e voltam de aqui a uns dias, quando este emplastro caducar. Porque eu já tinha reparado em que há duas classes de maridos que cada vez se impõem mais no cenário dos supermercados.
Vejam se não. Estão, num extremo, os espertalhões que ficam no carro afirmando-se na presumível condição de machos (ou serão mesmo?), com ar aflito, enquanto lêem as letras grossas das páginas desportivas (atenção, sinédoque: futebolísticas) e, em simultânea acrobacia do seu cérebro mono-neurónico, escutam no rádio os programas desportivos (atenção sinédoque: futebolísticos) e olham de esguelha para as gajas boas como eu que atravessamos a imensa esplanada ao sol do parque empurrando os carrinhos atestados, abanando ancas e mamas acompassadamente ao ritmo da música ambiente (e pimba) e com o excitante brilho do suor a escorrer pelo decote e os ombros nus... (vamos parar por aqui, que me foge das mãos a análise exaustiva do estudo e também não me lembra a figura estilística a que esta imagem fabulosa corresponde).
No outro extremo (e estes extremos não se tocam, que há muita testosterona comprometida), estão os que acompanham a mulher às compras ("acompanham", sim, disse, o mesmo que há os que "ajudam" em casa). Pertencem a uma espécie que se extasia perante as prateleiras de cerveja (é verão, está calor, a visão colorida de garrafas e latas é esplêndida e o animal, fraco) e se demora longamente nas zonas de congelados, iogurtes e afins, onde o objecto de estimação são os mamilos, que a tal temperatura estão tão rijos quanto acabrunhados os pirilaus (olhem que eu me comedi na escolha do calão, sei pior), em ambas as situações com um fio de baba a pingar do queixo abaixo. Já e inevitavelmente na caixa, para compensarem a virilidade humilhada tiram sobranceiros o VISA da carteira, manuseiam o talão envenenado num esforço vão por decifra-lo, pois não trouxeram os óculos de perto, e até que enfim pagam, impotentes, às cegas.
Fosse eu a fazer o estudo, porém, diria que a causa da impotência (e a barriga) não é o tal bisfenol (mesmo que a própria denominação do composto oriente onomatopeica e perversamente as investigações), antes uma conjunção de três factores objectivos: a temperatura enregelante das zonas frias dos supermercados e os seus efeitos negativos fulminantes sobre a tesão, a despeito dos inúmeros pares de mamilos túmidos insinuados; o consumo de cerveja e salgados em círculo viciante que as visitas a estes locais promovem; e,
last but not least (e nem gosto de clichés mas hoje amanheci virada para aí, aturem-me a inglesice o mesmo que me já me vêm aturando este maçada prenhe de estereótipos), a bonita cifra que figura no talão e que o pagador engole sem dar um ai que se ouça ante o rosto impassível da menina da caixa.
No fundo receio que o tal estudo venha financiado por alguma associação machista de maridos que ficam no carro enquanto a mulher vai às compras (o grupo deverá estar já criado no fb) para não compartilharem tal acto de submissão doméstica e, o que é bem pior, verem-se obrigados a ajudar, também!, a dar biberão! às crianças. E até porque divulgar a presunção criminosa de ser a cuja dita substância ingrediente do plástico que substitui as mamas no processo de nutrição de futuros machos não é inocente, não.