María Alonso Seisdedos
segunda-feira, 31 de maio de 2010
In memoriam
Este caderno de exercícios de tradução para aliviar a tristeza está dedicado a todas as pessoas que amam o Ademar, mas principalmente à sua irmã, Laura Ferreira dos Santos, e aos filhos dele ―Henrique, Francisco e Alexandre.
domingo, 30 de maio de 2010
Secuelas?
A próxima vez que me gabe de privilexiada por mor do meu oficio, lémbrenme sen dó que fun eu quen traduciu os 197 episodios de walkerrangerdetexas e que pasei a mañá dun domingo esplendoroso revisando a tradución de deltaforce2. Qué pánico meten os números ao final dos títulos. Pánico e secuelas no cerebro. Non vai ter unha pesadelos!
Calcetíns de coelliños ou mar
Non son xente de levar bichos nos pés. (Hai quen sexa, fauna e flora a discreción, viva ou reproducida, sen comentarios.) A ver, é que están novos e non podo andar sempre por aí de roupa vella, coma un cocido do día seguinte e menos en plena primavera. Fica mal. Só por iso iso os puxen. E porque viñan no conxunto de tres daqueloutros de riscas negras e grises que me gustan tanto. Pero estes, ai, xa os imaxino, asomando as orellas entre o botín e a perneira dos vaqueiros, o fulano do coche que vai detrás de min, dicindo ou pensando, depende: Mira, mira, esa da moto leva coelliños presos nos pés. Ridículo. E eu vou ver o mar. O mar é unha terraza cunha botella de Pedras fría sobre a mesa.
―Café não? ―estrañouse a camareira―. A senhora sempre pedia café e uma Pedras (fresca)! Por isso.
―Tiraram-me o café... também ―e sorríolle, non é só para ela o sorriso e o adverbio, senón para as fonduras de min, que é onde se navega.
Gústame este bar, o seu nivel de barullo tolerable, que me fai sentir no mundo sen me roubar os adentros. Aquí pódese ler.
Falar alto no escuro é também uma das grandes violências, é grave, é desrespeitar a natureza das coisas. Por isso dos mortos nada escutamos porque morrer é a terra cobrir os corpos, e é denso, um escuro permanente, sólido, como uma construção negra, mas sem matéria. Não os ouvimos.*
Este rapaz escribe verdades soltas, pero aquí non leva a razón nin lla eu dou. Por algo ando hoxe de calcetíns de coelliños. Nunca, endexamais!, iría ao pé de ti con estes calcetíns. Quen te aturaba! E o xelado que pido despois é de chocolate e vainilla, non de amorodos derretido con anacos de froita. A antuca gárdame do sol na cabeza e no xelado. Haxa quen pense inventos destes!
Levanto os sentidos ao horizonte. O mar non é meu, cousa que, señoras e señores, coelliños do mundo todos!, non impide que me bañe nel, que lle sinta o cheiro, a frialdade aberta e atlántica nos tornecelos, que lle ouva o crepitar da escuma esvaecendo na capa finísima última que me borbulla na area, que o vexa espello do ceu gris-verde-azul, consoante, e/ou que mastigue contra o padal un consomé-esencia de algas desconstruídas... sen afogar. Meus son os calcetíns de coelliños. Apanda, rapariga!
____________
* En "Os movimentos de ficção", água, cão, cavalo, cabeça do Gonçalo M. Tavares.
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sexta-feira, 28 de maio de 2010
Vai nas asas, nas asas!
―Foda-se, Maria! Quantos golos levas já? Que tens tu hoje?
―Raiva ―rosnei roendo as lágrimas nas entranhas.
―Raiva ―rosnei roendo as lágrimas nas entranhas.
Joguei a raiva nos golos, como se a baliza fosse a morte, a bola todos os poemas que ficaram na gaveta dos futuros inéditos. Depois tomei duche e jantei, sem te dizer, que estranho, não me doem as canelas, ou comi salada, maçã e iogurte, o teu olhar severo, tch-tch-tch, sem te perguntar, e agora, achas que vá de carro ou de mota?, nem responderes tu, vai nas asas, nas asas!
E fui nas asas. Nas asas para alcançar a lua no céu, Senhora da Hora, olho vazo amarelo, mordido pelas nuvens como o meu corpo pálido desfalecido, entre os dentes teus entregue. E num além escaso de ali, ali parei e vi, vivi, ouvi cacarejar a galinha que parece frango, ri, rimos, ristes, riram com ela à gargalhada, enquanto, enquanto de pescoço esticado, peito ondulante, trémula a crista, acompanhava o canto lírico cómico cáustico arquitec-tónico, contra uma sucessão incessante de edifícios hiperconstruídos ou hipogrifos de tijolo pedra betão-batom azulejos de loiça partida ou ira gaudiniana, redondezas arestas em aleatoriedade instavelmente equilibrada: a sustentável gravidade do absurdo. E eu o que? Eu rebentando os silêncios numa risada franca, o brilhozinho da felicidade breve, intervalo da raiva.
Depois a música. A música não são palavras. É batucar de sapatos, coiros, cordas perpendiculares em ângulo obtuso de contrabaixo e guitarra, é paus-baquetas, cascavéis ou castanholas cascateando-me nos sentidos, menos tristes, tronantes, mansos.
E mais tarde as palavras. As palavras são, às vezes, só às vezes, música a duas vozes requintada na quinta das quintas, a dita supradita: Antes a poesia que é a coisa mais séria. Seria?* Só se for de boca escancarada e fôlego no fole dos pulmões em alento feitiço. Assim sim, só.
O final é nunca mais, digo-te, mas é a mim que digo, pensa bem, ao escolheres lugar, mede medita, que os altifalantes são altiloqüentes, altíssonos numa harmonia que é de fábrica, bater de maça, ronco de sirene no nevoeiro, facho na voz, na luz, na luz, na voz, na luz serena, na voz sereia, na calma incerta, sou eu, altibaixos, amputada de ti recente, extrema extremidade fantasma, beijo-te contra o precipício e tu ainda me dizes, então vem, vem-te.
E fui, vim, vim-me, voltei, voltei nas asas das tuas interjeições rotundas, radicais, reverberantes... Só não houve sms que enviar-te, cheguei nem não cheguei, que já não lhe é preciso ao teu descanso.
____________
*Alexandre O'Neill, "Amigos Pensados: Vate 65"
E fui nas asas. Nas asas para alcançar a lua no céu, Senhora da Hora, olho vazo amarelo, mordido pelas nuvens como o meu corpo pálido desfalecido, entre os dentes teus entregue. E num além escaso de ali, ali parei e vi, vivi, ouvi cacarejar a galinha que parece frango, ri, rimos, ristes, riram com ela à gargalhada, enquanto, enquanto de pescoço esticado, peito ondulante, trémula a crista, acompanhava o canto lírico cómico cáustico arquitec-tónico, contra uma sucessão incessante de edifícios hiperconstruídos ou hipogrifos de tijolo pedra betão-batom azulejos de loiça partida ou ira gaudiniana, redondezas arestas em aleatoriedade instavelmente equilibrada: a sustentável gravidade do absurdo. E eu o que? Eu rebentando os silêncios numa risada franca, o brilhozinho da felicidade breve, intervalo da raiva.
Depois a música. A música não são palavras. É batucar de sapatos, coiros, cordas perpendiculares em ângulo obtuso de contrabaixo e guitarra, é paus-baquetas, cascavéis ou castanholas cascateando-me nos sentidos, menos tristes, tronantes, mansos.
E mais tarde as palavras. As palavras são, às vezes, só às vezes, música a duas vozes requintada na quinta das quintas, a dita supradita: Antes a poesia que é a coisa mais séria. Seria?* Só se for de boca escancarada e fôlego no fole dos pulmões em alento feitiço. Assim sim, só.
O final é nunca mais, digo-te, mas é a mim que digo, pensa bem, ao escolheres lugar, mede medita, que os altifalantes são altiloqüentes, altíssonos numa harmonia que é de fábrica, bater de maça, ronco de sirene no nevoeiro, facho na voz, na luz, na luz, na voz, na luz serena, na voz sereia, na calma incerta, sou eu, altibaixos, amputada de ti recente, extrema extremidade fantasma, beijo-te contra o precipício e tu ainda me dizes, então vem, vem-te.
E fui, vim, vim-me, voltei, voltei nas asas das tuas interjeições rotundas, radicais, reverberantes... Só não houve sms que enviar-te, cheguei nem não cheguei, que já não lhe é preciso ao teu descanso.
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*Alexandre O'Neill, "Amigos Pensados: Vate 65"
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terça-feira, 25 de maio de 2010
domingo, 23 de maio de 2010
Nem um dia
Para o Ademar Santos
Tem muitos dias em que acordo destas horas e já logo-logo me levanto. Escrevo-te, então, um bilhete de madrugada para te dar o bom dia. Hoje não consegui dormir. Antes que o telefone tocasse, às 02.04 (HE), eu não conseguira dormir, como se... quem sabe? Deixara o telemóvel na mesa de cabeceira, por se me devolvias a chamada que preocupada pelo teu silêncio te fiz. Quando tocou, ao meu "bom dia" de brincadeira aliviado (!), não foi a tua voz que respondeu, mas um silêncio longo, e depois já, num sussurro, senti alguém que não eras tu a pronunciar o teu nome e a seguir, um pretérito imperfeito. E eu agora a escrever para ti, como se me lesses, sem te poder dar o bom dia, nem um dia, mais um dia... para nós.
Tem muitos dias em que acordo destas horas e já logo-logo me levanto. Escrevo-te, então, um bilhete de madrugada para te dar o bom dia. Hoje não consegui dormir. Antes que o telefone tocasse, às 02.04 (HE), eu não conseguira dormir, como se... quem sabe? Deixara o telemóvel na mesa de cabeceira, por se me devolvias a chamada que preocupada pelo teu silêncio te fiz. Quando tocou, ao meu "bom dia" de brincadeira aliviado (!), não foi a tua voz que respondeu, mas um silêncio longo, e depois já, num sussurro, senti alguém que não eras tu a pronunciar o teu nome e a seguir, um pretérito imperfeito. E eu agora a escrever para ti, como se me lesses, sem te poder dar o bom dia, nem um dia, mais um dia... para nós.
María Alonso Seisdedos
Tempo desconjugado
Para o Ademar Santos
Está um silêncio de horror ou tristeza, nem sei, instalado na minha caixa do correio electrónico. És tu que já não és. E eu aqui, tão longe, num infinito em que as distâncias carecem de medida que as contenha. E eu aqui ainda. E tu já nem. Nós nada já mais. Nem o teu olhar. Os olhos, lembras, que me deste? Não, não lembras. Sou só eu a lembrar doravante. E as mãos, as tuas mãos na mesa na hora do almoço dos domingos tão poucos. A tua voz, a silabar o meu nome inteiro, a tua voz na rua a me guiar entre ruínas inexistentes, como nós agora, que já nem entulho somos. E eu, os verbos cativos, que me recompunhas, agora só conjugados no tempo passado contigo, impresente.
Está o frio em mim, mas em ti é o mundo uma prancha de aço em contacto com as costas que nem sentes.
Está um silêncio de horror ou tristeza, nem sei, instalado na minha caixa do correio electrónico. És tu que já não és. E eu aqui, tão longe, num infinito em que as distâncias carecem de medida que as contenha. E eu aqui ainda. E tu já nem. Nós nada já mais. Nem o teu olhar. Os olhos, lembras, que me deste? Não, não lembras. Sou só eu a lembrar doravante. E as mãos, as tuas mãos na mesa na hora do almoço dos domingos tão poucos. A tua voz, a silabar o meu nome inteiro, a tua voz na rua a me guiar entre ruínas inexistentes, como nós agora, que já nem entulho somos. E eu, os verbos cativos, que me recompunhas, agora só conjugados no tempo passado contigo, impresente.
Está o frio em mim, mas em ti é o mundo uma prancha de aço em contacto com as costas que nem sentes.
María Alonso Seisdedos
sexta-feira, 21 de maio de 2010
A bota e o resto...
Adormece. Urina para a garrafa de água e despeja-a
sobre as flores. Adormeceu. Não o acordes.
"Um coração de rosas" em água, cão, cavalo, cabeça.
Gonçalo M. Tavares.
sobre as flores. Adormeceu. Não o acordes.
"Um coração de rosas" em água, cão, cavalo, cabeça.
Gonçalo M. Tavares.
Ela nem gosta de lembrar memórias sujas, mas como lembra, afinal, será bom, pensa, escrever para enxotar ao menos o mais. E o detalhe, revisto à câmara lenta, até teria piada se não fosse a bota a bater contra a porta e o resto. O resto...
Deitara-se bêbado, como quase sempre, o quase da mamadeira a mama-lo, não o deitar-se, que esse era sempre sem quases. E adormeceu, se já não estava adormecido para a vida. Por isso, quando se levantou também não estava acordado. Levantou-se, pegou na bota que estava no chão, de lado, ao pé da cama, e encostou-a ao pénis.
―O que é que fazes?! ―virou-se ela ao senti-lo, quem sabe se triste, se zangada, se cheia de vazio― Estás parvo ou?
Ele atirou a bota contra a porta e o resto, salpicando a raiva e o resto. Deitou-se adormecido ele. O resto a pingar pela porta, as paredes, o chão. Ele adormecido e ela a atravessar a praça enquanto o sol saciava na pele dela a sede.
Estado de excepción
Agora ―pídemo a razón― debera barrenar sobre os tales oviños estrelados, pero esta mañá, antes incluso de abrir os ollos, espertei coa emoción simple do gol de onte, eu que son unha manta amarrada a un pau tras unha bóla, coma o burro que persegue a cenoria. Por unha vez, non caín (a ver, caer caín, pero non desa, senón doutras e diversas), tireime!, coma o chulo do conto, debruzada, esticando o estique, batendo na bóla negra e marcando. E descubrín que as xeonlleiras foron inventadas para algo: erguinme (os colegas aínda paralizados e encollidos coa dor, imaxinada, allea, ou sexa miña, inexistente), coma quen sacode o po das cachas, like a pro. Isto non se repite a cada hora.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
O meu primeiro fã ou... no tecto "pital" da maralha pita
No mesmo dia em que descobri que estava já, já!, no tecto "pital" da maralha pita, nem que nunca tenha proferido um grito histérico, encontrei, com poucas horas de diferença, o meu primeiro fã, que também não gritou nem histérica nem gravemente, mas olhou para mim com uma admiração que nunca me julguei capaz de suscitar em ninguém, menos numa pessoa de tamanho tão enormemente pequeno.
Fora feriado aqui dia inteiro e imaginei a invasão no jardim, na outra margem do rio, por isso fui um bocado mais tarde do costume. Todavia, ainda havia lá galegos para dar e vender (se houvesse quem comprar...). Suspirei. Vamos ver se não atropelo ninguém, vai estar difícil, disse para os meus botões, que não responderam. Ao rematar, balanço feito, somei alguma travada brusca, mas nenhuns mortos nem sequer óculos partidos.
Já no final, aproveitando que apenas sobraram seres humanos na contorna, pus-me a praticar a marcha atrás e os giros. Reparei num puto duns sete anos (digo eu, que sou incompetente nisto de cálculos que não sejam renais) quieto a um lado do trilho. Acabou por sentar na relva, o corpo afincado sobre um braço, as pernas ligeiramente dobradas, baixo os cabelos curtos, louros, o olhar triste e doce, o rosto pálido, redondo, de bochechas coloradas, a seguir-me os passos. Sorri para ele e falei-lhe em galego, quer-se dizer, não me perguntem, mas notava-se que era galego.
―Gústache patinar?
Acenou afirmando, tímido, movendo um quasemente a cabeça.
―É divertido, non é?
Sorriu.
Eram horas e decidi que chegava de piruetas. Fui para a mota, o puto atrás de mim. Falamos. Perguntei-lhe se tinha patins. De duas rodas não, respondeu, daqueles outros.
―En liña?
―Iso.
―Xogas ao hóquei?
Sacudiu a cabeça, a olhar-me ainda, de fite, desde ali em baixo, frente a mim, os dedos roçando a mota.
―Tes que practicar moito para despois xogares ao hóquei. Vas ver que ben que se pasa.
―E vas montar na moto así cos patíns? ―atreveu-se-me a perguntar baixinho, case num murmúrio.
Ainda falamos um bocado, apareceu o irmão mais velho, mais loquaz também, muito diferente, morenote, forte, cabelos de ouriço-cacho, a tratar-me de "vostede". Perguntei-lhes de onde eram. De Pereira, respondeu o pequeno, como se Pereira fosse o centro do mundo, o centro do seu orgulho. Pereira? Ourense, esclareceu o mais velho. Ah, Pereira de Aguiar. Xiça, isso é longe. Pois é. E fazem aqui ainda o quê? Pus cara de gente que finge seriedade. Não têm escola amanhã?
Sacudiram os dois a cabeça. Estavam tristes. Não tinham escola. Fiquei sem saber porquê. Depois continuamos a falar de motas, de bicicletas, e os sorrisos voltaram. Apareceu a avó a chama-los para irem embora.
―Cóllenos aquí ―pediu o mais velho.
A avó chegou logo ao volante do carro.
―Espera máis un pouco ―voltou pedir o mais velho.
―Se estades á espera de verme saír a facer caballitos, ides dados. Nunca souben facer caballitos... nin na bici.
Sorriram com todos os dentes. Cavalinhos era coisa que eles sabiam fazer. Eu vai ser difícil que aprenda já, estando, como disse, no tecto "pital" da maralha pita, mesmo com a admiração ingénua e meiga dum puto de sete anos capaz de me ensinar.
Fora feriado aqui dia inteiro e imaginei a invasão no jardim, na outra margem do rio, por isso fui um bocado mais tarde do costume. Todavia, ainda havia lá galegos para dar e vender (se houvesse quem comprar...). Suspirei. Vamos ver se não atropelo ninguém, vai estar difícil, disse para os meus botões, que não responderam. Ao rematar, balanço feito, somei alguma travada brusca, mas nenhuns mortos nem sequer óculos partidos.
Já no final, aproveitando que apenas sobraram seres humanos na contorna, pus-me a praticar a marcha atrás e os giros. Reparei num puto duns sete anos (digo eu, que sou incompetente nisto de cálculos que não sejam renais) quieto a um lado do trilho. Acabou por sentar na relva, o corpo afincado sobre um braço, as pernas ligeiramente dobradas, baixo os cabelos curtos, louros, o olhar triste e doce, o rosto pálido, redondo, de bochechas coloradas, a seguir-me os passos. Sorri para ele e falei-lhe em galego, quer-se dizer, não me perguntem, mas notava-se que era galego.
―Gústache patinar?
Acenou afirmando, tímido, movendo um quasemente a cabeça.
―É divertido, non é?
Sorriu.
Eram horas e decidi que chegava de piruetas. Fui para a mota, o puto atrás de mim. Falamos. Perguntei-lhe se tinha patins. De duas rodas não, respondeu, daqueles outros.
―En liña?
―Iso.
―Xogas ao hóquei?
Sacudiu a cabeça, a olhar-me ainda, de fite, desde ali em baixo, frente a mim, os dedos roçando a mota.
―Tes que practicar moito para despois xogares ao hóquei. Vas ver que ben que se pasa.
―E vas montar na moto así cos patíns? ―atreveu-se-me a perguntar baixinho, case num murmúrio.
Ainda falamos um bocado, apareceu o irmão mais velho, mais loquaz também, muito diferente, morenote, forte, cabelos de ouriço-cacho, a tratar-me de "vostede". Perguntei-lhes de onde eram. De Pereira, respondeu o pequeno, como se Pereira fosse o centro do mundo, o centro do seu orgulho. Pereira? Ourense, esclareceu o mais velho. Ah, Pereira de Aguiar. Xiça, isso é longe. Pois é. E fazem aqui ainda o quê? Pus cara de gente que finge seriedade. Não têm escola amanhã?
Sacudiram os dois a cabeça. Estavam tristes. Não tinham escola. Fiquei sem saber porquê. Depois continuamos a falar de motas, de bicicletas, e os sorrisos voltaram. Apareceu a avó a chama-los para irem embora.
―Cóllenos aquí ―pediu o mais velho.
A avó chegou logo ao volante do carro.
―Espera máis un pouco ―voltou pedir o mais velho.
―Se estades á espera de verme saír a facer caballitos, ides dados. Nunca souben facer caballitos... nin na bici.
Sorriram com todos os dentes. Cavalinhos era coisa que eles sabiam fazer. Eu vai ser difícil que aprenda já, estando, como disse, no tecto "pital" da maralha pita, mesmo com a admiração ingénua e meiga dum puto de sete anos capaz de me ensinar.
terça-feira, 18 de maio de 2010
Ao sol
Regresaba de Cidadeabertaomar e ao pasar por el quedoume gravado o cadro. Seguín camiño, pero ía pensando, cache...!, ben puiden parar a tirar unha foto. Seguín camiño, a imaxe non se me borraba da cabeza, pero xa me parecía ridículo dar volta. Un quilómetro máis adiante non aguantei. Virei á primeira de cambio.
Era coma nas películas pero na realidade, na realidade cutre.
(Parvadas á parte, se fose eu a empoleirada, baixo o sol do mediodía, destas horas estaba na unidade de queimados.)
segunda-feira, 17 de maio de 2010
E cada día
17 de maio.
Día das Letras Galegas
Cuidades vós, meu amigo,
ca vos non quer' eu mui gran ben,
e a mi nunca ben venha,
se eu vejo no mundo ren
---que a mi tolha desejo
---de vós, u vos eu non vejo.
E, maca-lo vós cuidades,
eno meu coraçon vos ei
tan grand' amor, meu amigo,
que cousa no mundo non sei
---que a mi tolha desejo
---de vós, u vos eu non vejo.
E nunca mi ben que(i)rades,
que me será de morte par,
se souberdes, meu amigo,
ca poss'eu ren no mund' achar
---que a mi tolha desejo
---de vós, u vos eu non vejo.
Vasco Praga de Sandim, séc. XIII
En Antologia da Poesia Trovadoresca Galego-Portuguesa. Alexandre Pinheiro Torres (ed.)
domingo, 16 de maio de 2010
Danza para dous... ollos
sábado, 15 de maio de 2010
Tchaikovsky no sangue
Préstalle ao corpo asistir de cando en cando a unha produción disparatada sobre a construción dun soño, nin que o edificio se sustente sobre alicerces de cartón pedra. É cine, ilusionismo, xogos malabares imposibles, que se nutren da complicidade co público, en troco de música, tenrura, denuncia e redención. Unha dose de optimismo sen efectos colaterais perniciosos.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Ela está farta!
24horas, 09.05.2010
Valha-me deus! Sim, porque uma coisa são sextas, todas, vá lá, todas as sextas. E sábados, pois, sexta e sábado, afinal, escrevem-se com "s" de sexo. Mas ainda nos domingos por vezes?! (Já não há nada sagrado?) Dois dias de sexo na semana e por vezes três! E se calhar é capaz de empregar até três minutos em cada. Não, não posso deixar de me solidarizar com a senhora. Experimente com um caldinho de aranha, e se não der, sempre tem o veneno das formigas. É lento mas seguro. Morte ao insaciável!
___________
Não me digam que não há cá argumento para a inspiração duma bela melodia pimba? Eu ofereço o refrão.*
Ela está farta
de que não farte.
Sofra um enfarte,
que um raio o parta!
'Tá aborrecida
de tanta queca
que grande seca
virou a vida!
'Tá a Antónia cheia,
não mais atura
'tar volta e meia
na tal tesura.
Venha uma droga
p'ró maridão,
que o mande, roga,
já p'ró caixão!
Venha um remédio,
morra a tesão!
Parem o assédio,
por compaixão!
*Eu podia morrer milionária com isto.
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quinta-feira, 13 de maio de 2010
A lámpada sobre o rostro
Ben sei que estás con medo. Instalóuseche a opresión no interior da caluga coma unha dor de cervicais, unha puñalada sen ferida que sitúas no corazón e é no estómago, un abatemento que altera os circuítos do equilibrio emocional e a poesía somática. Se polo menos non existisen as tripas para nos recordar a conexión íntima de pensamento e dixestións a dar cabo do lirismo e a melancolía...
Ben sei que estás con medo. Non adianta, logo, dicir non vai ser nada. Mesmo así, haberá unha voz que diga non vai ser nada. De alí a nun instante vas notar unha man a che agarimar no brazo, a luz que se abre paso entre as pálpebras e unhas certas náuseas que che trastornan o regreso lento á consciencia, o que vén sendo, máis ou menos, nada.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Solo de guitarra
Fecho os ollos cando tocas para que nada me distraia do abandono calmo de sentir, escoitar, anulada a distancia do patio de butacas, a barricada misteriosa derruída.
Como se fose na sala da vosa casa, o mar de fondo, unha copa de tinto, María Jesús pendente de cada nota, de todas as notas, na tensión das cordas tensa, e nós (estrañámoste, Olga), a lágrima no canto dalgún ollo, o brillo ilimitado. E a vosa xenerosidade sempre. Beleza, digo.
David Russell.
Gran Canón (Arizona)
Máis un síntoma de primavera
cría de
ferreiriño común (gal.)
chapim-carvoeiro (pt.)
carbonero común (cast.)
Parus ater
Saíu a voar da poza en canto os cans chegaron a beber e refuxiouse entre as silveiras, á espreita, dividido entre a curiosidade inxenua dos seus poucos días e o receo do instinto, que lle foi encrespando as plumas á medida que eu máis me aproximaba coa cámara, como queréndose facer enorme, temible ogro que me aterrorizase, as forzas todas concentradas no rostro para deseñar a súa mellor cara de ferreiro... e nada.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Harmonía
Non parece, vendo e ouvindo a que está a caer, que onte a chuvia dese tregua para saír a ventilar o balor que se vai adherindo a medula dos ósos e comprobar, de paso e ao paso, que o mundo aí fóra, mesmo a rente do chan, continúa vivo e indiferente á agonía deste inverno interior que nunca máis termina.
(E agoniándome, desconfío que cando as nubes se disipen a calor se me vaia facer mesmo insoportable.)
domingo, 9 de maio de 2010
O parvo, se é anónimo, passa igualmente por parvo
A propósito desta embaraçosa questão, encontrei na casota do Rafeiro Perfumado um comentário que me permiti roubar e cujo autor ou autora não cito simplesmente porque aquilo é obra! (força de expressão) dum ser que se ampara na modéstia pudibunda do anonimato. É assim que nos mostra a luz no fim do túnel a mente privilegiada e esclarecedora:
Depende. Há casos provados em laboratórios de biologia de que a própria mulher pode ter um filho seu sem haver fecundação por parte de um espermatozóide. É um caso em cada mil milhões (óbvio que aproximado e exagerado) mas ocorre. Há uma interacção neurológica e a mulher quando está em ovulação, esse óvulo (oócito II) começa a desenvolver-se sem haver penetração e fecundação. Origina um ser humano (óbvio que cheio de problemas* genéticos pois contém um cariótipo reduzido e nem chega a sobreviver. Há casos que sobreviveu.
Perante tamanha evidência científica e pomposo domínio da gíria, impõe-se a interrogação retórica: o tal anónimo assinante não será fruto sobrevivente (óbvio que cheio de problemas genéticos e interacções neurológicas) duma dessas fecundações sem penetração nem espermatozóide que nos valha? Há casos, há, um cada dois mil dez anos, mais ou menos.
_______________
* Ignorava que ser preto pudesse ser entendido como problema, mas pronto, se a ciência o diz quem sou eu ―que deixei o curso de Biologia ao meio e nas aulas de Genética só fiz experimentos com moscas― para rebater nada?
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xente e xentiña
O parvo, se é calado, pasa ben por asisado
Pola presente confeso que cada día estou peor, non digo para encerrar, que xa me eu encerro sen axuda, nem de amarrar, que bastante me amarra a mortalidade ao chan. Digo peor de parva. Hai un par de días entrei nun blog cuxa xerencia anunciava o feche temporal por viaxe a Escocia. Convencidiña de que estaba no estaminé da Teté, abrín a caixa de comentarios para disuadila de que me trouxese unha botella de malte, que aló, pola cousa dos impostos sobre os vapores etílicos, sae muito máis caro. Chamoume a atención que non houbese a macacada de costume para pór a nota colorida no texto, estrañeza de que deixei constancia por escrito. E quedei tan pancha á espera do regreso. Até que onte me acordou ir visitar o tasco do Marreta e bato coa fuza nun kilt estendido a corar...
sexta-feira, 7 de maio de 2010
A dura e crúa realidade en 3D
Onte á noite pasei a maior parte da película que puxeron no Poleiro (que xa vira pero non me importou repetir) parapetada detrás do respaldo da butaca, non fose fuxir da pantalla unha bala perdida. E é que non era para menos despois de ler a noticia que un bo amigo tivo a ben me enviar para me evitar males maiores sabendo da miña afección a frecuentar as salas de cine. Non obstante, vendo que saín ilesa do tiroteo e lembrando un conto similar que ouvín en tempos, cando aínda non fixera a promesa de nunca máis lavar o ouvido dereito, estou convencida de que a americana non preñou vendo unha peli porno (ou si, se foi quen de facer dúas cousas a un tempo), senón mercé á ubicuidade do espírito santo, que por certo (aquí vén a revelación!) non é un pombo, como se cría, non. O espírito santo ―velaí a dura e crúa realidade en 3D― é o carallo!
Terapia de choque
Nunca tal me acontecera e foi unha das experiencias máis alucinantes que vivín no hoquei, fóra todas as outras que xa vivín, varias. A teoría é simple: para que un suceso se produza cómpre que conflúan circunstancias determinadas nun punto exacto nun momento concreto. Onte déronse as premisas.
Circunstancias:
1) A bóla viña na miña dirección e eu ía na dirección da bóla, cega. Fronte a fronte.
2) Tres xogadores ían cegos detrás da bóla, en cadanseu ángulo con respecto á traxectoria recta que seguiamos a bóla e eu.
3) Os meus patíns tiñan rodas e rolamentos novos: velocidade a máis para a miña pouca pericia.
Hora:
19.36h, que veñen sendo uns quince minutos de partido e mais unha hora de técnica ao lombo.
Lugar:
A 1,13m da portería, en diagonal, comigo no medio da traxectoria de tiro.
Suceso:
Dous corpos magros ―dun peso que calculo equivalente e a velocidade incalculable― bateron óso con óso e saíron despedidos polo ar en sentidos opostos, quedando estendidos no chan a unha distancia entre os pés dun e outro de 1,52m.
Experiencia alucinante:
Nunca antes experimentara a sensación de caer en cámara lenta, de sentir que os pés se levantan do chan co impacto, de me prever a aterrar sobre as costas ―e digo ben, sobre as costas, porque o normal é levar un batecú― e ter a certeza de que non me vou mancar, porque percibo o espazo de ar que hai aínda entre o meu corpo e o chan a me amortecer o golpe e dispoño de tempo dabondo para tensar uns músculos e distender outros. Bim... ba!
Conclusión:
As endorfinas, dígovos, son a mellor e máis barata droga que existe.
Circunstancias:
1) A bóla viña na miña dirección e eu ía na dirección da bóla, cega. Fronte a fronte.
2) Tres xogadores ían cegos detrás da bóla, en cadanseu ángulo con respecto á traxectoria recta que seguiamos a bóla e eu.
3) Os meus patíns tiñan rodas e rolamentos novos: velocidade a máis para a miña pouca pericia.
Hora:
19.36h, que veñen sendo uns quince minutos de partido e mais unha hora de técnica ao lombo.
Lugar:
A 1,13m da portería, en diagonal, comigo no medio da traxectoria de tiro.
Suceso:
Dous corpos magros ―dun peso que calculo equivalente e a velocidade incalculable― bateron óso con óso e saíron despedidos polo ar en sentidos opostos, quedando estendidos no chan a unha distancia entre os pés dun e outro de 1,52m.
Experiencia alucinante:
Nunca antes experimentara a sensación de caer en cámara lenta, de sentir que os pés se levantan do chan co impacto, de me prever a aterrar sobre as costas ―e digo ben, sobre as costas, porque o normal é levar un batecú― e ter a certeza de que non me vou mancar, porque percibo o espazo de ar que hai aínda entre o meu corpo e o chan a me amortecer o golpe e dispoño de tempo dabondo para tensar uns músculos e distender outros. Bim... ba!
Conclusión:
As endorfinas, dígovos, son a mellor e máis barata droga que existe.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Almorzo con formiga e radio
Deambula unha formiga solitaria polo mantel e eu penso en ti. Pola radio falan da fusión das caixas, de que se o presidente e o líder da oposición concordan na necesidade das axudas a Grecia ―hoxe por eles, non vaia ser o demo―. Encabalga a voz do locutor sobre a folga xeral, o cóctel molotov, que absurdo, un cóctel molotov mata tres persoas e deixa outra ferida grave. Uns saen á rúa a defender o dereito a conservar o pouco que teñen, catro non regresan á casa esa noite, dúas mulleres e un home deixan para sempre un espazo seco, frío, na cama, no sofá, na punta dos dedos que os acariciaban. Tomo o primeiro sorbo do único café do día. Non me gusta este café. Debera ir até Monção. Non sei por que penso en ti tanto. As pastillas. Hoxe non falan da marea negra, nin de responsabilidades, nin do prezo do irremediable, do que non ten prezo. Fechar os ollos non é a solución, nin sequera cando non existe solución. A dor é para rillala, fragmentala, esnaquizala, antes que nos devore. Cae unha parede sobre un rapaz de trece anos que xogaba. Aínda é cedo para notar a ausencia. Cantas persoas choran neste momento no mundo unha morte imprevista? Cantas bágoas se necesitan para encher o baleiro dunha ausencia repentina? A formiga anda ás voltas mentres eu xiro ao teu redor gravitatoriamente. Mastigo a torrada devagar, sen apetito. Din pola radio que en Galicia hai probabilidades de chuvia? O ceo, do outro lado da fiestra, está limpo. A paxarada peteira nas migallas de pan. Pésasme cada vez máis. Recollo a mesa e saio a sacudir o mantel ao eido. A formiga cae. Apágame o son da túa voz o ruído da auga mentres frego a louza.
terça-feira, 4 de maio de 2010
À sobrevivência pela abstinência
Andava com um espaço enorme em branco no devenir e na cabeça que não sabia como havia de encher. Isto preocupa-me especialmente porque consequência dessa lagoa mental e vital é a falta de textos, de que o blogue e a minha concentração no trabalho se ressentem... muito. Até que esta manhã caí no tasco do Marreta e fui espreitar à ligação com que ele nos ilumina no caminho à superação da crise. Estes indianos têm uns mistérios paradoxais que abalam com a incredulidade convicta de qualquer um. Há quem tem sede depois de morto e há quem viva sem comer e sem beber (sen comer e sen beber, toda cheíña de frío, toda chea de dolor, diz a cantiga popular galega, aprendam alguma coisa de passagem). A mim, como a todos, assaltou-me a curiosidade. Será que também não...? De qualquer maneira, não adianta escarafunchar: já nunca o saberemos. Reparem que a investigação científica tem o gajo "em observação permanente, sob o olhar atento de 30 médicos", com câmaras a segui-lo dia e noite, do que se deduz que nem na casa de banho pode estar sozinho. E quem é o bonito que consegue meditar assim, hein?! (já não digo mijar ou cagar, que disso se calhar nem precisa), com sessenta olhos ―presumindo, no pior dos casos, a ausência de zarolhos no grupo de investigadores― ferrados nas intimidades duma pessoa?!
Ah, talvez pensaram que a minha dúvida existencial era se a abstinência em comidas e bebidas do abençoado pela deusa abrangia as fodas? Pois, também.
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O fulano, digo-vos, nesse regime não dura três telejornais.
Ah, talvez pensaram que a minha dúvida existencial era se a abstinência em comidas e bebidas do abençoado pela deusa abrangia as fodas? Pois, também.
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O fulano, digo-vos, nesse regime não dura três telejornais.
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sábado, 1 de maio de 2010
Carballo albino?
Quen manexa os fíos do monicreque?
Nun transbordador aparece un coche abandonado e as ondas en retirada vacilante descobren o cadáver do escritor sen sinatura sobre a area. Despois formúlase a proposta na barra dun bar e a tensión está servida. Unha viaxe en avión ao outro lado do Atlántico, ao outro lado da curiosidade e a incerteza. O negro, o fantasma, a pluma que se mete na pel doutro... deberá continuar a biografía supostamente inacabada, conxugando o que o cliente quere mostrar co que o público quere ler mentres as pezas do enigma se van mostrando na pantalla: só os que se moven dentro dela non as ven. O escenario é unha casa-oficina perdida onde o ar dá a volta, ancorada nunha praia de ceos sempre cincentos, un hotel sinistro nunha vila de filme de terror e unha música de fondo que sutilmente suxire un cineasta gordo e baixo detrás da cámara argallando tormentos para as actrices. A verdadeira historia, porén, xa estaba escrita.
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