domingo, 23 de maio de 2010

Tempo desconjugado

Para o Ademar Santos







Está um silêncio de horror ou tristeza, nem sei, instalado na minha caixa do correio electrónico. És tu que já não és. E eu aqui, tão longe, num infinito em que as distâncias carecem de medida que as contenha. E eu aqui ainda. E tu já nem. Nós nada já mais. Nem o teu olhar. Os olhos, lembras, que me deste? Não, não lembras. Sou só eu a lembrar doravante. E as mãos, as tuas mãos na mesa na hora do almoço dos domingos tão poucos. A tua voz, a silabar o meu nome inteiro, a tua voz na rua a me guiar entre ruínas inexistentes, como nós agora, que já nem entulho somos. E eu, os verbos cativos, que me recompunhas, agora só conjugados no tempo passado contigo, impresente.

Está o frio em mim, mas em ti é o mundo uma prancha de aço em contacto com as costas que nem sentes.
María Alonso Seisdedos

1 comentário:

Sun Iou Miou disse...

Por uma vez, peço-vos, não me leveis a mal que não responda aos comentários.

Maria