terça-feira, 31 de agosto de 2010
Auga!
O cheiro ao fume infíltrase polo nariz adiante até o cerebro mentres se dorme... Esta noite soñei que me ardían as árbores do eido mais próximas ao camiño ao prenderen nelas as labaredas dun incendio que arrasaba os arredores. Que bo é ás vezes sentir o espertador tocar confundido coa sirena dos bombeiros!
domingo, 29 de agosto de 2010
Éramos poucos...
Sexta-feira passada, depois de matutar até o ponto de quase fundir o cérebro, achei que não devia limitar-me a espreitar e clicar em "gosto" pelo feisebuque fora. As palavras do Vítor Oliveira Jorge que entre delicados dardos contra os voyeurs (ai!) aludiam às revoluções internas, animando a rebentar esquemas, remoíam em mim num fervo não fervo quase incandescente que me queimava nos dedos. O que é que eu podia fazer nessa imensa montra de egos? Como quer que a ideia de entregar esforços a alimentar vaquinhas que nem se deixam comer não me enchia, optei por fazer o único que sei... mais ou menos: traduzir. Assim, criei nas "notas" um compromisso comigo para ir passando poemas de autores de que gosto (uns de sobra conhecidos, outros nem por isso) de português para espanhol e mesmo, vez por outra, com muito atrevimento, ao contrário.
Mais tarde ocorreu-me que bem podia expor esse trabalho (porque é um trabalho mesmo, ou pensam que enfio os poemas no tradutor-bimby do google, hein?!) além do círculo reduzido e selecto de amiguíssimos feseibuqueanos, criando mais um blogue com idêntico esquema, aberto ao planeta Terra e parte de Vénus, por enquanto. De certa maneira, uma ponte que se juntava ao que esta tem chegado a ser pouco e pouco.
E como se tratava de partilhar e havia um apartado do Abnóxio de Ademar Ferreira dos Santos de cujo contido e epígrafe sempre gostei... à maneira nasceu o título:
No blogue irei colocando os poemas que escolher para o féisebuque. Como quer que alguns já saíram lá desde Sexta-feira, aparecem agora n'O poema... com essas mesmas datas. Só a partir de hoje é que começarão, notas e blogue, a estar sincronizados.
Eu sei que há por aí algum amigalhaço que não aprecia poesia (e ainda bem, porque então, olhem que nojo, ele seria perfeito!), mas eu também te digo, meu caro, não lerás meia palavra a gabar bola neste tasco. Porém, isto será mote para outra postagem...
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quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Garrafas com mensagem (2)
Eu aludi no texto anterior a um amigo da minha época estudantil que o sucesso (bem pouco sucedido, com certeza) me trouxe à memória. Não que não o tenha lembrado triliões, aproximadamente, de vezes. Mas nesta oportunidade decidi provar fortuna no feisebuque, com muito pouca fé, seja dito de passagem, pois conheci-o bem e não o imaginava a cair numa destas de redes. Mas, ó surprise!, lá estava. Um perfil absolutamente desperfilado sem dados nem fotografia, só com a possibilidade de enviar uma mensagem, qual garrafa de boca aberta. E eu pensei, já que cá estamos, vamos é lançar a garrafa à internete assuntada num conciso "és tu?", ver o que se passa. E, ó mais surprise! ainda, nessa mesma tarde recebi resposta, que traduzo à vossa ignorância despolíglota:
Fosga-se!!!
Acho que sim... que se tu és tu, eu sou eu! Mas... tens certeza que tu és tu? Maria...? De Lmbrd (lá vão mais de 20 ou 30 anos que se me agarrou o nome pela musicalidade, filha)? Enfim, se somos, apesar de tudo, os que somos: envio-te um beijão enorme, e é que nem imaginas a alegria que me entrou, que já vês como escrevo todo atrapalhado...
Depois que foi uma coisa sobrenatural, olha! Estou de jolidayses na casa de Grrtx, a evitar qualquer contacto com portáteis, telemóveis... e zaca!, ocorre-me hoje ligar-me para procurar uma receita* e deparo com a mensagem. E isso não é tudo, pois não! Abri conta no feisebuque nos inícios, para um estudo sobre minaria de dados1, que eu nunca liguei às redes sociais, mas, coisas!, não eliminara a conta2 e além do mais tinha lá o meu nome e tudo3!
Pronto... que na verdade tens de contar muitíssimas coisas, de maneira que responde-me logo-logo (pelos teus pecados!), que fiquei tão nervoso como um dia em que enfiei o fio dental4 ao contrário...
Ai que um dia destes me vejo a gabar as bondades do bigbrotherzão!
________________
*. Hehehe...! Sempre há algum pretexto.
1. Já vi escusas melhores!
2. O coitado nem sabe que isso é tão difícil ou mais! do que apostatar do catolicismo...
3. Eu mais diria "e nada".
4. No vocábulo empregado no original não restam dúvidas: não alude ao fio de limpar os dentes mas ao que designa uma prenda de lingerie. Ups!
Fosga-se!!!
Acho que sim... que se tu és tu, eu sou eu! Mas... tens certeza que tu és tu? Maria...? De Lmbrd (lá vão mais de 20 ou 30 anos que se me agarrou o nome pela musicalidade, filha)? Enfim, se somos, apesar de tudo, os que somos: envio-te um beijão enorme, e é que nem imaginas a alegria que me entrou, que já vês como escrevo todo atrapalhado...
Depois que foi uma coisa sobrenatural, olha! Estou de jolidayses na casa de Grrtx, a evitar qualquer contacto com portáteis, telemóveis... e zaca!, ocorre-me hoje ligar-me para procurar uma receita* e deparo com a mensagem. E isso não é tudo, pois não! Abri conta no feisebuque nos inícios, para um estudo sobre minaria de dados1, que eu nunca liguei às redes sociais, mas, coisas!, não eliminara a conta2 e além do mais tinha lá o meu nome e tudo3!
Pronto... que na verdade tens de contar muitíssimas coisas, de maneira que responde-me logo-logo (pelos teus pecados!), que fiquei tão nervoso como um dia em que enfiei o fio dental4 ao contrário...
Ai que um dia destes me vejo a gabar as bondades do bigbrotherzão!
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*. Hehehe...! Sempre há algum pretexto.
1. Já vi escusas melhores!
2. O coitado nem sabe que isso é tão difícil ou mais! do que apostatar do catolicismo...
3. Eu mais diria "e nada".
4. No vocábulo empregado no original não restam dúvidas: não alude ao fio de limpar os dentes mas ao que designa uma prenda de lingerie. Ups!
Garrafas com mensagem (1)
Em tempos tive um amigo catalão cuja mãe, ainda solteira, face à inchação crescente da barriga, num outro milénio em que a prenhez fora dos limites do matrimónio era, além de opróbrio, pecado (ou viceversa), defendeuse da ira paterna e a vergonha materna alegando que aquilo vinha dependido de se ter banhado repetidas vezes (reparem na reincidência a lata da pecadora, se não é isto tentar o demo...) na praia da Barceloneta. Hoje, oito anos depois do lavado de cara das Olimpíadas, presumo aquelas águas tão limpas que a gente pode afogar nelas sem qualquer risco para a saúde, mas naquele então os argumentos da futura mãe do meu amigo eram de peso e evidente gravidez.
Primeira garrafa com mensagem
Lembrei isso há dias, ao deparar no Alpendre da Lua com uma notícia, em cujo final, aliás, o administrador do coiso citava, muito amavelmente, um texto deste blogue (estamos aqui num puxa-saquismo quase patético). Vejam.
Um executivo com ar de não ter pisado nunca fora do rego (talvez não é muito feliz a escolha da expressão) colocou repetidas vezes sémen próprio na garrafa de água duma colega de trabalho. Até aqui tudo bem: uma ideia perfeita para a mente dum tarado conceber. Mas há algumas incógnitas de índole para-científica não esclarecidas no jornal que me têm desde a data numa de insónias inquietantes.
Como é que fez o Michael Kevin (este pessoal tem mesmo nomes de telenovela) para enfiar o esperma pela boca (quase ia utilizando à galega "bico" para dar nisto um toque etno-medieval, mas depois ficam-me todos nervosos) da garrafa? Eu só imagino aquilo tudo esporrado por fora, visto que a maioria dos homens nem para mijar, com a pila bem segurada e fixa, acertam no wc, que tem um diâmetro consideravelmente maior, quanto mais...
Ora, a água é, como bem aprendemos na escola, um líquido incolor, inodoro e insípido. A mim não me digam que uma gota de esperma que seja não dá nas vistas por ali a aboiar com aquela corzinha esbranquiçada? Quanto ao sabor, ainda levou três meses a gramar água choca antes de notar qualquer coisa de estranho?! Se calhar, a papalva ia pensando, "Olha que isto que estou a beber é bom como a água, tem um gosto que me traz belas recordações mas não identifico" e tal. Acontece muito nos cursos de cata entre pessoas inexperientes. Já relativamente ao odor, aí pronto, concede-se-lhe o benefício da dúvida, pois nem toda a gente consegue farejar que um colega de trabalho possa trazer água no bico ou que essa água não fosse flor que se cheirasse.
Porém, um dos poucos pormenores que levou a vítima a desconfiar foi o facto de ela ficar indisposta depois do acto, vamos denomina-lo assim, de libidinagem. Esta também não percebi. Eu já fiz inquéritos para me documentar seriamente e das 1637 mulheres entrevistadas, 78% afirmou que jamais se sentiram indispostas por ingerirem esperma pela boca, muito ao contrário, algumas (67'9% destas) sentiram-se muito bem dispostas; houve 12% que alegou preferirem água com gás; 7% declararam-se lésbicas; e o 3% restante não souberam barra não responderam (aqui incluo uma senhora que me bateu impiedosamente com a mala).
É por isso que, ao meu parecer, este insólito episódio só se explica através das subtis apreciações feitas no Alpendre, o que me leva a animar os governos das sociedades mais avançadas a proverem de fundos à comunidade científica para investigar na linha aventada com tão pouco êxito pelo Michael Kevin.
Primeira garrafa com mensagem
Lembrei isso há dias, ao deparar no Alpendre da Lua com uma notícia, em cujo final, aliás, o administrador do coiso citava, muito amavelmente, um texto deste blogue (estamos aqui num puxa-saquismo quase patético). Vejam.
Um executivo com ar de não ter pisado nunca fora do rego (talvez não é muito feliz a escolha da expressão) colocou repetidas vezes sémen próprio na garrafa de água duma colega de trabalho. Até aqui tudo bem: uma ideia perfeita para a mente dum tarado conceber. Mas há algumas incógnitas de índole para-científica não esclarecidas no jornal que me têm desde a data numa de insónias inquietantes.
Como é que fez o Michael Kevin (este pessoal tem mesmo nomes de telenovela) para enfiar o esperma pela boca (quase ia utilizando à galega "bico" para dar nisto um toque etno-medieval, mas depois ficam-me todos nervosos) da garrafa? Eu só imagino aquilo tudo esporrado por fora, visto que a maioria dos homens nem para mijar, com a pila bem segurada e fixa, acertam no wc, que tem um diâmetro consideravelmente maior, quanto mais...
Ora, a água é, como bem aprendemos na escola, um líquido incolor, inodoro e insípido. A mim não me digam que uma gota de esperma que seja não dá nas vistas por ali a aboiar com aquela corzinha esbranquiçada? Quanto ao sabor, ainda levou três meses a gramar água choca antes de notar qualquer coisa de estranho?! Se calhar, a papalva ia pensando, "Olha que isto que estou a beber é bom como a água, tem um gosto que me traz belas recordações mas não identifico" e tal. Acontece muito nos cursos de cata entre pessoas inexperientes. Já relativamente ao odor, aí pronto, concede-se-lhe o benefício da dúvida, pois nem toda a gente consegue farejar que um colega de trabalho possa trazer água no bico ou que essa água não fosse flor que se cheirasse.
Porém, um dos poucos pormenores que levou a vítima a desconfiar foi o facto de ela ficar indisposta depois do acto, vamos denomina-lo assim, de libidinagem. Esta também não percebi. Eu já fiz inquéritos para me documentar seriamente e das 1637 mulheres entrevistadas, 78% afirmou que jamais se sentiram indispostas por ingerirem esperma pela boca, muito ao contrário, algumas (67'9% destas) sentiram-se muito bem dispostas; houve 12% que alegou preferirem água com gás; 7% declararam-se lésbicas; e o 3% restante não souberam barra não responderam (aqui incluo uma senhora que me bateu impiedosamente com a mala).
É por isso que, ao meu parecer, este insólito episódio só se explica através das subtis apreciações feitas no Alpendre, o que me leva a animar os governos das sociedades mais avançadas a proverem de fundos à comunidade científica para investigar na linha aventada com tão pouco êxito pelo Michael Kevin.
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segunda-feira, 23 de agosto de 2010
A-videncias e amigos invisibles
O neboeiro da tarde en Moledo que me conxelou os dedos sobre as páxinas do Anna Karénina fixérame presentir unha noite máis fresca para o concerto da noite na Nova, onde, entre tanto, rachaban as piñas poucas que van restando dos incendios. A servidora xa non lle quedaría estranxeiro ao que fuxir se se dedicase a vender estas videncias con libro de reclamacións e dereito ao reembolso da "vontade" dos crédulos (esa que os adiviños saben que se ha mostrar magnánima, porque a mesquindade non presta ante os ollos omniscientes dos poderes sobrenaturais) expresada nos negros billetes coloridos.
Porque ao final a noite foi quente. Non abondase a temperatura real, estaba a sensación térmica transmitida desde o palco por el, polo vento cálido da súa voz e a súa simpatía vertidas en cancións de amor e paixón, e eu deixándome arrolar na música para non me consumir nas letras, a lúa entre nubes acenando, o meu amigo invisible case corpóreo a evitar, as súas mans tenras e firme nas miñas, que me arrastrase ao fundo a negrume.
sábado, 21 de agosto de 2010
Sinais de vida ou isto
Acho que continuo viva, contudo, nem de evidências falsas disponho. Os mortos têm dor de canelas? Já sei que ninguém me vai responder a esta pergunta, e caso que alguém viesse com a resposta não demonstraria eu muito juízo em da-la por válida, mas, acreditem ou não (a administração deste coiso descrê de crenças, porém, a volubilidade é obstinada), é questão que me preocupa mais do que bastante. Talvez, se os deuses se decidissem a executar o projecto do Éden (para isso ainda deverão encontrar um operador que forneça um serviço de internet móbil decente, e milagres não se fazem a toda a hora), conseguiria comunicar com o XLV e inquiri-lo sobre esta dúvida subsistencial, mas também não tenho muita confiança em que isso se vá produzir antes dos próximos 1374 anos. Por enquanto, vou-me sedar. Tenham boa noite, que já o sol vai alto.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Ante un ermo vasto (10)
Cando terminou de ler as Memórias póstumas de Brás Cubas, quedou a pasmar un bo anaco. Entre tanto íalle abrollando a golpes suaves e ondulados unha idea que apenas uns séculos depois, xa consciente dela, había qualificar de fabulosa. El tamén ía escribir de morto! Que ocorrencia xenial! Acelerado polo entusiasmo, Xoán Lobo Vieira dirixiuse á casa galgando vila através sen desviarse ante paredes nin mirar aos lados para cruzar as rúas, sen pedir paso aos veciños que cumprindo a tradición se xuntaban ao luscofusco nas terrazas para falaren da calor e enxotaren en comuñón a impertinencia teimuda dos mosquitos. Non ben chegou, considerou oportuno ao decorado colocar un malte seco nun canto do escritorio. Deseguida librou o espazo de papelada, colleu unhas poucas de cuartillas limpas dunha resma xa mediada e sentou, na man dereita a pluma, entre o furabolos teso e o gordo da esquerda pousado moi intelectualmente o queixo, pronto a acometer a maior obra literaria nunca escrita: o relato da súa existencia real no alén. A brancura do papel foise tinguindo de amarelo mentres nun remuíño zoaba o baleiro da atemporalidade.
(Nunha dimensión diferente os deuses, parados ante un ermo vasto suspendido na eternidade por columnas xónicas cuns repoludos querubíns trompeteiros a modo de capiteis, continuaban a debater un proxecto á medida do soño humano: un xardín abundante en regatos e maceiras, con conexión wifi.)
(Nunha dimensión diferente os deuses, parados ante un ermo vasto suspendido na eternidade por columnas xónicas cuns repoludos querubíns trompeteiros a modo de capiteis, continuaban a debater un proxecto á medida do soño humano: un xardín abundante en regatos e maceiras, con conexión wifi.)
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domingo, 8 de agosto de 2010
Danza de partituras ao vento
O anfiteatro enchíase mentres os acomodadores pedían para nos aconchegarmos uns aos outros coma se fose inverno. E non era. A superficie das bancadas, nas que estivera día enteiro batendo o sol de cheo, queimaba como se fose ao tacto baldosas dun piso que tivese a gloria a arder por baixo. Só que non era.
O que era era un vento de suspiros que quitaba as follas das partituras a bailar, pretendendo conquerer, envexoso, os aplausos en que os espectadores prorrompían mal acabada a peza, nin se sabe se satisfeitos do ouvido se ansiosos por ouvir máis. Os pianistas, á deles, viraban en círculo, trocando os instrumentos coma quen muda de parella sen desafinar no clímax, que se reflectía nos rostros levantados dos ocupantes do patio ou nos debruzados dos que abrazabamos o espazo no escano superior evitando que o son se perdese na penumbra.
Había nenos por todas partes: os máis vellos escoitaban en silencio, beneducadísimos; os máis cativos ían adormecendo sen roncar sequera nin ousar soñar de alto un conto de medo ou de marcianos orelláns, aniñados no colo que os acollese.
No anfiteatro da Nova o público réndese sempre ao final en pé porque hai poucas ocasións de ouvir música decente por aquí, fóra o verán, e percíbese a entrega dos músicos, en xeral1, que chegaron con día aínda e levan pintado no resplandor dos ollos a caricia desta paisaxe que ancorou entre o norte e o sur de ningures.
_________
1Vale, dixen en xeral porque o verán pasado estivo por aquí o túzaro dos calcetíns cor de rosa, que non deu de máis nin as boas noites e saudava tan envarado que non lle collía unha palla no cu, como se tivese medo de que os pantalóns lle rachasen. O farruco, xa pode tocar onde lle pete, que a min só pagándome unha millonada me volve ter de público. Ese non sabe quen son eu!
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Receita para adiar máis un día a compra
Onde vai xa que da neveira sumiron os iogures e só lle abro a porta para sentir o frescor na cara a aboiar de calor e desleixo. Petisco aquí e alá para compor un menú de migallas e restos: una lata de atún baixo en sal ou o derradeiro toro de peixe conxelado, as ídem ervellas ou unha cenoria mirrada, arroz ou pasta que ameazan xa cun alarmante fin de existencias e a froita do eido, ende ben, que non me falta. Velaí, entón, que nesta desolación alimentaria aparéceme o veciño co agasallo duns tomates (vexetais, non me sexan mal pensados, que non estou para chanzas), que eu non sei se será a fome de comer verdades ou a desgana de ir á compra pero morrería así á fronte dunha prata deles, nun baño de aceite denso transmontano, un orballo de tomiño e albaca e as pingas finais de vinagre (meu, de por min co viño que non bebín e o oxíxeno que non respirei criado) a sobrancealos. E pan para mollar, claro.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
A cor, a luz
Anêmonas vermelhas, Dacha
Eu nunca pensei mercar un cadro, digo, pensar pensei moitas veces pero sempre como un imposible. Por iso fun á exposición que a Dacha (Dália Faceira, que descubrín no Alpendre da Lua) colgara en Caminha apenas coa intención de agasallar de cores a vista e acender coa luz dos lenzos a temperatura corporal. Saín do local, dígovos, tamén con algún centímetro a máis de altura no ánimo. Agora cómpre buscarlle un sitio onde quebre a brancura inane das paredes.
domingo, 1 de agosto de 2010
Xa podía vir o outono...
É día e vai unha calor tal que nin caen a fío os paxaros nin xa as piñas rachan: ultrapasado o límite da resistencia, funden estas nun mazacote de breo, denso e castaño, sobre a terra pulverizada, mentres aqueles quedan suspensos nun letargo de contra-hibernación, o bico aberto nunha regaña, os ollos embazados, medias estendidas as asas e o corazonciño nun pulsar de mínimos máximos. A iso, tan natural, engádeselle o pregón das poxas para os santos (cuxos beneficios os devanditos dubido que caten) que chapodan a calma das doce en punto con restras de cifras por forza breves, pois preferen a cor negra dos billetes á venda a crédito rexistrada en tarxetas plásticas; os arraiais continuos que me lañan o pouco xuízo coas agullas das tiples en falsete amansadas no rumor das concertinas; os turistas que arrastran polas prazas vizosas de antucas a indolencia no petar mol das sandalias ou no máis rítmico chocolear das chancletas, os nativos que os espreitan de esguello desde a altura digna duns zapatos dos domingos ben lustrados e a camisa branca toda estiradiña; os forasteiros que me levantan poeiras e sufocos nos camiños de andar a pasear os cans ou me asaltan nos recunchos máis recónditos roncando sobre a herba ou non roncando, explico, nun rozamento de suores e respiracións arfadas, que se delata nun rastro de clíneses e preservativos correctamente usados, espero, pero pesimamente tirados. E a noite, pensaron que a noite era máis doada?! A noite é un chunda-chunda trepanador que nin os tapóns nos ouvidos abrandan e me obriga a cocerme nunha humidade morna de fiestras fechadas.
Menos mal, menos mal que hai fogos de lucerío que me estoupan a negrume do firmamento e a outra.
Menos mal, menos mal que hai fogos de lucerío que me estoupan a negrume do firmamento e a outra.
Artigo roubado, porque sim
Hoje apeteceu-me trazer aqui este artigo de opinião da Laura Ferreira dos Santos editado no jornal Público de 31 de Julho 2010
A beleza dos funerais laicos
Não é fácil fazer um funeral laico a norte do Porto. Falta de liberdade religiosa para os não-crentes?
Através dos media, tenho observado a beleza de alguns funerais laicos, como o de Saramago: os/as amigos/as e os/as estudiosos/as podem falar à vontade de aspectos da obra, do trabalho ou do carácter de quem morreu. A pessoa falecida tem direito ao seu nome, à sua biografia, a testemunhos sobre o melhor da sua vida. De funerais laicos muito mais discretos dizem-me que correm de modo semelhante. Ora, eu nunca vi acontecer isto num funeral religioso católico: quem morre é reduzido a um cadáver a enterrar, e não a uma pessoa, a uma tessitura de afectos, compromissos e paixões, por mais humilde que tenha sido a sua vida. De repente, deixa-se de se ser aquele homem ou mulher que os familiares e amigos recordam com afecto, e de que tantas histórias conhecem, para se ser apenas um "servo de Deus" (mas até Cristo disse: "Não vos chamo servos, mas amigos") que exemplifica a vulnerabilidade humana e serve para dizer que a vida terrestre é uma completa miséria. Mesmo quando dizem o nome do "servo", custa aos familiares e amigos ver como o padre mostra não saber ao certo onde o apontou. Afinal, aquele é um cadáver de quem não sabe nada, por que raio havia de ter um nome? O protocolo que rege os funerais católicos só diz que aquele corpo tem de ser enterrado com umas tantas orações e bênções, não fala de afectos nem de ternura. Afectos e ternura não se protocolam, logo não existem nas instituições que tanto amam os protocolos.
O meu único Irmão, com quem tinha um elo mágico, morreu-me abruptamente há pouco, apenas com 57 anos. Apesar de ele ser não-crente, quis fazer-lhe um funeral católico. Era como se, desse modo, tentasse acompanhá-lo a outras margens de ternura e serenidade. Ele dizia que, se houvesse deus, ao menos que fosse parecido com o meu, por isso achei que compreenderia, ou perdoaria, o meu gesto. Mas tive as minhas dificuldades. Sim, poder-se-ia fazer funeral católico por não-crente, mas, atenção, não por suicida; os alunos dele, que encheram a igreja, poderiam ler antes do final da missa um texto que tinham escrito em sua memória, mas o pároco não podia permitir que a missa fosse de "homenagem". Quanto a outro padre que concelebrou, os alunos estariam "riscados", eu é que disse peremptoriamente que já obtivera autorização para eles. E, sem entender que eu tivesse escolhido para o meu Irmão um caixão sem cruz, o pároco fez-me desejar fazer-lhe um funeral laico. Só que já não tinha tempo, e não é fácil fazer um funeral laico a norte do Porto. Falta de liberdade religiosa?
Estavam na igreja amigos/as que poderiam ter de facto ajudado naquela despedida tão abrupta, cada um falando de uma faceta do Ademar, que até era bem conhecido na cidade e que há anos editava o seu singular Abnóxio. A antiga directora do Mosteiro de Tibães pegou na sua urna, em memória de toda a luta que ele travara pelo mosteiro. Mas ficámos sobretudo a cumprir um protocolo. E foram os seus alunos a personalizar a cerimónia, num texto lido com pressa por causa da emoção e que a todos comoveu. Muitos desejaram bater palmas. Era a emoção contida que se queria manifestar, pelos alunos e pela despedida. Mas estava-se a cumprir um protocolo, e toda a gente se inibiu.
Alguns padres cultos portugueses desfazem-se em elogios a Gran Torino. Não entendo: Gran Torino abre com uma cerimónia de funeral em que, perante a homilia do jovem padre ingénuo, o actor Clint Eastwood exclama baixinho, com despeito: "Jesus!" Acharão estes padres cultos que procedem de modo muito diferente?
________________
Laura Ferreira dos Santos é docente de Filosofia da Educação da Universidade do Minho e membro da Comissão de Ética da ARSN
A beleza dos funerais laicos
Não é fácil fazer um funeral laico a norte do Porto. Falta de liberdade religiosa para os não-crentes?
Através dos media, tenho observado a beleza de alguns funerais laicos, como o de Saramago: os/as amigos/as e os/as estudiosos/as podem falar à vontade de aspectos da obra, do trabalho ou do carácter de quem morreu. A pessoa falecida tem direito ao seu nome, à sua biografia, a testemunhos sobre o melhor da sua vida. De funerais laicos muito mais discretos dizem-me que correm de modo semelhante. Ora, eu nunca vi acontecer isto num funeral religioso católico: quem morre é reduzido a um cadáver a enterrar, e não a uma pessoa, a uma tessitura de afectos, compromissos e paixões, por mais humilde que tenha sido a sua vida. De repente, deixa-se de se ser aquele homem ou mulher que os familiares e amigos recordam com afecto, e de que tantas histórias conhecem, para se ser apenas um "servo de Deus" (mas até Cristo disse: "Não vos chamo servos, mas amigos") que exemplifica a vulnerabilidade humana e serve para dizer que a vida terrestre é uma completa miséria. Mesmo quando dizem o nome do "servo", custa aos familiares e amigos ver como o padre mostra não saber ao certo onde o apontou. Afinal, aquele é um cadáver de quem não sabe nada, por que raio havia de ter um nome? O protocolo que rege os funerais católicos só diz que aquele corpo tem de ser enterrado com umas tantas orações e bênções, não fala de afectos nem de ternura. Afectos e ternura não se protocolam, logo não existem nas instituições que tanto amam os protocolos.
O meu único Irmão, com quem tinha um elo mágico, morreu-me abruptamente há pouco, apenas com 57 anos. Apesar de ele ser não-crente, quis fazer-lhe um funeral católico. Era como se, desse modo, tentasse acompanhá-lo a outras margens de ternura e serenidade. Ele dizia que, se houvesse deus, ao menos que fosse parecido com o meu, por isso achei que compreenderia, ou perdoaria, o meu gesto. Mas tive as minhas dificuldades. Sim, poder-se-ia fazer funeral católico por não-crente, mas, atenção, não por suicida; os alunos dele, que encheram a igreja, poderiam ler antes do final da missa um texto que tinham escrito em sua memória, mas o pároco não podia permitir que a missa fosse de "homenagem". Quanto a outro padre que concelebrou, os alunos estariam "riscados", eu é que disse peremptoriamente que já obtivera autorização para eles. E, sem entender que eu tivesse escolhido para o meu Irmão um caixão sem cruz, o pároco fez-me desejar fazer-lhe um funeral laico. Só que já não tinha tempo, e não é fácil fazer um funeral laico a norte do Porto. Falta de liberdade religiosa?
Estavam na igreja amigos/as que poderiam ter de facto ajudado naquela despedida tão abrupta, cada um falando de uma faceta do Ademar, que até era bem conhecido na cidade e que há anos editava o seu singular Abnóxio. A antiga directora do Mosteiro de Tibães pegou na sua urna, em memória de toda a luta que ele travara pelo mosteiro. Mas ficámos sobretudo a cumprir um protocolo. E foram os seus alunos a personalizar a cerimónia, num texto lido com pressa por causa da emoção e que a todos comoveu. Muitos desejaram bater palmas. Era a emoção contida que se queria manifestar, pelos alunos e pela despedida. Mas estava-se a cumprir um protocolo, e toda a gente se inibiu.
Alguns padres cultos portugueses desfazem-se em elogios a Gran Torino. Não entendo: Gran Torino abre com uma cerimónia de funeral em que, perante a homilia do jovem padre ingénuo, o actor Clint Eastwood exclama baixinho, com despeito: "Jesus!" Acharão estes padres cultos que procedem de modo muito diferente?
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Laura Ferreira dos Santos é docente de Filosofia da Educação da Universidade do Minho e membro da Comissão de Ética da ARSN
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