domingo, 17 de maio de 2009
Cidade, a cidade (a tarde)
Chega a hora do almoço e entro decidida a comer a francesinha comprometida (não, ainda não virei lésbica, haja calma!), mas no último momento recuo ante uns carapauzinhos com arroz de feijão, que pressinto mais ligeiros para vencer a soneca que me ataca sempre no post prandium. Um café e deixo-me embalar no Cais pelo sol morno e o vibrar dos motores sobre a ponte que apaga as vozes dos turistas coloridos e o fluir do rio, enquanto vai avançando a tarde à espera do sms que me avise de que a mota está pronta (não disse, mas a razão primeira da visita foi a revisão dos 50.000 e os rodamentos da direcção que me tinham numa dança pouco elegante).
Já sobre rodas dirijo-me a cumprir o plano para a noitinha: um filme que tinha interesse em ver desde há tempo e que felizmente continua em exibição. E eu ignorando que a cidade, não contenta em me desenhar sorrisos, está para me arrancar uma quase gargalhada, quando ao tirar o bilhete, a funcionária me pergunta:
—É estudante?
Pronto, eu sei que me falta uma fervura, que não consegui superar a adolescência, que ainda não troquei o stick de hóquei pela bengala e que tenho aspecto de rapaz vadio se vista de longe e com miopia, mas quando disse:
—Boa tarde. Um para a sala quatro, faça favor.
...as minhas rugas estavam a cinquenta centímetros dos olhos dela. Devi responder que sim, que sou estudante, aprendiz eterna, mas sendo que vou por livre e não tendo documento oficial que o justifique, se os factos davam direito a regalias, também queria desconto. Porém, só consegui mostrar a dentadura, e já aproveitei o esforço deixando-a em boa disposição para o filme, terno, canalha e simpático, em italiano de Roma em pleno Agosto (É caldo… É, é caldo, é Agosto...), que parece falado sem fôlegos de tanto arrastar a pronúncia. Belo não, belíssssssimo…
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(Vá, não me desiludam dizendo agora que a assistência aos cursos das Novas Oportunidades dá direito a carta de estudante e que também há reformados matriculados na universidade. Deixem cá a gente sonhar! E sorrir.)
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22 comentários:
Mas o que é que queres? Hoje quase toda a gente estuda (?!) em qualquer idade, ela até estava a ser simpática ao tentar saber se também te poderia dar desconto no bilhete... (`_^)
Só uma vez provei as célebres "francesinhas" e fiquei assim... para o "embuchada"! Pareceu-me uma refeição para um dia inteiro, já que não costumo comer muito de cada vez.
O filme ainda não tinha dado por ele, mas ando um bocadinho para o desactualizada nas lides cinematográficas! Há alturas assim...
Beijocas! (e boas passeatas na mota já afinada)
Pois, Teté, a mim aconteceu-me o mesmo com a francesinha. Recomendaram-te esse restaurante da fotografia, A Regaleira, que foi onde ela nasceu e tinha intenção de provar a autêntica, mas com receio de ficar "embuchada", como tu dizes, no último momento arrependi-me. Ali vi como preparavam alguma e acho que não deve ser assim uma "bomba" como a que dão noutros lugares. Fica para outra ocasião, que não hão de faltar. (`_^)
Isso mesmo foi o que me disse a moça da bilheteira. E foi simpática mesmo (não fosse, e seria a primeira pessoa que não era simpática comigo na Invicta, he!).
Pois se tiveres oportunidade, aconselho-te o filme.
Beijito para ti, nina
E é sempre a primeira vez
em cada regresso a casa
rever-te nessa altivez
de milhafre ferido na asa
É que hai cidades que nos re-regressam...
por efecto da ventaniña, a funcionaria fixouse principalmente na mirada. e esa mestura de mirada fúrica, de continua demanda azul, é máis que nada propia dos máis xóvenes.
...e iso que xa non levas o pelo pintado de amarelo.
Eu pensaba máis, Condado, em...
Por ruelas e calçadas,
da Ribeira até à Foz,
por pedras sujas e gastas
e lampiões tristes e sós.
E esse teu ar grave e sério
dum rosto de cantaria
que nos oculta o mistério
dessa luz bela e sombria
Ver-te assim abandonado,
nesse timbre pardacento,
nesse teu jeito fechado
de quem mói um sentimento...
Hai unha cidade que son eu.
Pois, Couselo, non levo o pelo pintado de amarelo e se cadra debera, e mais unha media melena e traxe xastre, zapatos de taco -nin moi alto nin moi baixo-, bolso de marca e carteira grande con variado repertorio de tarxetas a crédito non fiado. Era ese o tempo que me correspondía, asumindo a artrite irreversible, non o de andar trotando para enganar achaques.
¡Que sorte, Sun Iou Miou! Dinme a min algo así a estas alturas da película e quedo contentiña para toda a semana. E máis.
E deduzo que a peli non a puñan en Cidade-Aberta-Ao-Mar, que de ser así, dime onde.
Sigrid
Non, Sigrid, a peli foi na Invicta, que en Cidadeabertaomar non se me perde nada -nin un café contigo sequera (son da pel do demo, xa sei). Pero está atenta, porque de póla nalgún cine ha de ser nos Norte e paga a pena (a pena é que non a poidas ver en versión orixinal, porque o italiano é lingua para se fundir ou derreter, nin sei...).
Con respecto ao lifting mental, quedei coa dúbida de se á parella de velliños que comprou a entrada antes ca min lles fixo a mesma pregunta. (`_^)
Nin penso desiludila, non se preocupe! A min tamén me gusta que me quiten unha década (dúas décadas xa é para desconfiar e instintivamente a man vaise para a carteira, por se acaso)
Agradécese, Kaplan, (`_^). En canto ao da carteira, penso que o "desiludido" había de ser o que soñase con ela, hehehe!
Estás em grande forma, inspirada! Só mesmo tu a esta hora da noite para me fazeres arreganhar a taxa, e ainda por cima sendo 2ª feira!
3 em 1 (comentários):
- Entre a Francesinha (morfes, entenda-se...) e os carapaus com arroz de feijão nem sequer havia dúvidas, venham os carapaus! (até porque não gosto de queijo)
- Quando te perguntou se eras estudante, devias ter dito que ainda andavas na pré-primária e como tal ainda não tinhas documento identificativo (B.I.).
- Por fim, acerca do filme, só para perguntar onde é que se pode ver, já que o que temos de oferta passa quase tudo por Lusomundo, Castello Lopes e Pipocas, e nesses sítios é muito difícil filmes destes entrarem.
Saudações do Marreta.
Pois, lá vai, Marreta, três respostas em um (comentário):
1) Era melhor se te fizesse arreganhar a queixada, que não a taxa. Só espero pelo teu bem que vá ao sítio. (`_^)
2) Se digo isso, talvez não me deixassem entrar à sala e acabasse os meus dias num centro de menores...
3) O filme vi-o no Medeia-Cidade do Porto, no único CC em que projectam algum filme não estritamente comercial. Lá em baixo não sei como é a coisa, mas alguma sala deve de haver com espectáculos decentes, digo. Em português o título é Almoço de Quinze de Agosto. A legendagem tem algumas falhas que me deixaram perplexa, mas pronto, detalhes sem importância no conjunto.
Abraço, meu
Supoño que a nova venta da dereita será por recordar ao Rui e as veces que cantamos esta canción... pero, a min gústame cada vez máis, e agora que penso en rematalo como estaba pensado, teño dúbidas reais de si facelo ou non. Isto pásame por verme sempre para dentro
O da Saudade I foi que levaba tempo pensando en colocalo aí, pero non sabía como encollelo, ata que experimentando co de "Chegou a primavera", dei co truco, e pois, aí o está. E talvez si, sexa, saudade das veces que cantamos ao Rui e a tantos (e ese "cantamos", se fose en tuga, levaba til no "a" para indicar que é pasado, pretérito perfecto...).
A min gústame así. Doutro xeito poida que me gustase menos ou máis... Dúbidas imaxinarias as miñas.
Pois bem me parecia que só podia ser num cinema da Medeia... Realmente os únicos onde ainda se pode ver um filmezito fora do circuito comercial dos grandes interesses instituídos.
O problema é que esses não abundam, mesmo por cá, e os que existem ficam um bocado fora de mão. Cá ao pé de mim tenho algumas 40 salas de cinema, mas tudo Castello Lopes e Lusomundo.
Antigamente ainda havia um cinema que eu costumava frequentar muito e que passava cinema alternativo, independente, de autor. Fechou, evidentemente! Chamava-se Quarteto, tinha 4 salas e 4 filmes diferentes, quase sempre de inegável qualidade, e não tinha PIPOCAS!
Ah! E tinha as melhores, mais espaçosas e confortáveis cadeiras da sétima arte.
Velhos tempos...
Saudações do Marreta.
Tenho aqui um restaurante de gente do norte que serve dessas coisas "francesinhas" mas ainda não tive coragem para experimentar.. :| Se bem que já lá comi outros pratos bem bons (tudo para encher! ehehe)
Quanto ao filme, deve ser daqueles que me põe a chorar, por certo... Agosto e tal...
No entanto folgo em saber que te tomaram por estudante! tomara a mim tomarem-me também! hihihihih
Beijooooooo ;)) na brasa.. sua motoqueira!
Ai, Marreta, eu ontem contestei ao teu comentário mas não ficou gravado! O que eu faria com ele?
Nem me fales em fazer quilómetros para ver cinema: Vigo, Viana, Porto... Entre 40 e 100 Kim tenho de percorrer eu para ver um filmezito, que as salas de cá morreram todas. E temos um cineclube na "Aldea das Carrouchas", mas é só uma vez por mês, snif.
O filme não é para chorar, mas para suar, Tá-se bem!: é Agosto, está calor! E tenho a certeza de que ias gostar.
Beijo motorizado!
Que fosses lésbica não me incomodava, agora pedófila iria beliscar a nossa amizade! ;)
beijoca!
Tu preocupa-te se viro zoófila, Rafeirito. De crianças só gosto assadas e com batata a murro. E criadas a leite materno, até seis meses máximo.
E vai treinando a rubrica, que vais precisar. (`_^)
Abracinho!
Enlazando dende mardaman e a noite de san xoan vin parar a esta historia. Non puiden evitar un sorriso ca pregunta de se eras estudante. Non vai moito cas enrugas, pero na miña vila estudan 3 mulleres de máis de 60 anos. Mellor preguntar.
un saúdo
Benvido, Sinistro. Eu vou ser estudante eterna, pero ultimamente xa vou por libre, como en tantas cousas.
Mellor preguntar, si. Iso foi o que dixo a muller das entradas: agora é que todo o mundo é estudante.
Biquiño
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