A Poeta é incerteza, suma sacerdotisa do paradoxo ponto ela ou dúvida que arrasta à pesquisa dissecante pelo território trépido e fluido dos significados. Assim é que oscilando dissolve interrogações para atingir espaços acústicos que são ecos pelas margens dos ouvidos, espelhos nos horizontes dos olhos e no hálito pulsátil dos lábios, um tremor de oásis. A leitora segura-se nas velas páginas à distância pouca dos antebraços telescópios e enfuna em orgulho, vasto, a húmida estreiteza do peito (transido de nevoeiros) que estoira num foguetório sinfónico, por ser ali, numa página ímpar, nome que se escreveu em digressão e cursivo, por primeira vez, tinta em folha-papel de livro-poemas, sombra clara.
Obrigada, Suzana ―era sem tempo que eu dissesse.
: Descartes aconselhou-me a duvidar de tudo, mas duvido dele e apetece-me não questionar algumas vezes; e gosto desta dúvida ―dá-me uma espécie de asas; dói-me, contudo, aristocraticamente a cabeça e escuto zumbidos transversalmente ao silêncio e ao meu pestanejar na escuridão; pergunto-me, pergunto-me sempre: da própria incerteza. do sentido da dor. da subsconsciência dos sentidos, das ignorâncias, da ignorância da ignorância. do caminho da liberdade. da via do compromisso, dos trilhos do apego. dos desvarios do controle. dos sacrifícios dos orifícios. do que Deus estará a fazer. e fico incerta, insecta, zunindo em torno daquilo que julgo ser a minha cabeça
Suzana Guimaraens
"Dispersões insones" (excerto). Parodox.sou (2010)
4 comentários:
Um Abraç*, Maria.
E um pestanejar pela luz que, tantas vezes, me trazes.
2011 pleno.
Eu só sou espelho, Alma. :)*
Gostei, sobremaneira, do 'sacrifício dos orifícios' !!
Essa Suzana, hein?!
Pois, eu desse sacrifício é que não gosto, ó Jonasito! ;)
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