segunda-feira, 1 de junho de 2009
minusculando-me
passei-me. andei de fim-de-semana com o valter hugo mãe querendo-se fazer peso ligeiro na mochila —o nosso reino (o deles) cangando nas costas, na memória—, tentando eu desentranhar o significado das minúsculas até que dei com a resposta num alto e consegui me esquecer delas e mergulhar no prazer de o ler. Assim, presa no espírito do rapaz atormentado que não soube ser santo, lembrava aqui e alá os meus terrores de infância cristã e culpas incompreendidas que logo me levaram a descrer e hoje a renegar sem piedade até a intolerância. e nessas serpeava deslizando pela estrada quando o indicador duma ponte medieval me disse vem. vou, disse eu. no último desvio, quis descer a pé para não interromper com barulhos tanta paz e detive a mota frente a uma capelinha em que nesse momento entravam um homem e um puto e pensei: lá vai o padre, o sacristão ou o que for explicar os mistérios da vida, do canalha que é a vida, à criatura. e de repente, um estrondo paralisou-me, uns segundos que tardei em perceber que ligaram os alto-falantes da capela a uma potência brutal, os quatro, quatro aos quatro pontos cardinais. "e nós pimba!", proclamava o êmulo do qb aos ventos, furando-me os ouvidos, lacerando-me a sensibilidade toda. agoniada pela alegria reles daquela aldeia morta, tirei rápido umas fotos da ponte, lindamente adornada de remendos de asfalto, e da santinha com a lixeira ao lado em bonito conjunto escultórico... devia ser que antes estercavam de flores murchas o canto. enfim, voltei para mota, e guarda mochila e casaco na mala, e coloca o capacete e as luvas, enquanto o calor do meio dia me cozia a miolada e o bombardeio da changaralhada ma fritava, sem compreender como podia estar aquele fulano ali sentado sem se imutar (à sombra, valha-lhe isso), o padre ou sacristão ou o que quer que for e o miúdo saindo da capela como se aquele volume insofrível (para mim, pronto) a silenciar pecados graves de usar preservativo e tal fosse o murmúrio do rio que corria em baixo... "surdos, estão todos surdos neste lugar?!", gritei achegando-me ao pé do homem. "o que?", dizia o outro que nem sei se era padre, se sacristão, se o quê, com um sorriso amável, e punha a mão por trás da orelha, inquirindo, o que? virei-me de costas e fugi de ali antes que acabasse saindo ao dia seguinte a abrir telejornais. motociclista frita-da-tola enfia-lhe um alto-falante pela cabeça a um padre, sacristão ou o quê nunca mais se soube numa aldeia do sul da europa. passara-me.
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14 comentários:
Em primeiríssimo lugar, as tuas fotos estão fantásticas!
Segundo, pronto, ainda comecei a ouvir a musiqueta (que aqui nem estava muito alta), mas não aguentei! (devo de ir passar uns dias a Caminha/Porto nos feriados, relembraste-me do pior que existia por lá, com a sanfona dos bombeiros a tocar em altos berros música do género, logo às 8 da matina)
Terceiro, lê um pouco mais de Agatha Christie, que logo arranjas um modo mais subtil de "limpar o sarampo" ao padre, sacristão ou que quer que seja, sem ter essa chatice de ir parar com os ossos à pildra... Vários ouvidos te agradecerão! (`_^)
Beijocas!
Obrigada, mas não são os fotos fantásticas, é a paisagem. Sabes? Havia um carro que vinha todo o tempo detrás de mim, quando eu parava, parava também, lá descia um gajo (as duas gajas que o acompanhavam ficam no carro de conversa), tirava uma foto, e vamos para outra. Hehehe!
É verdade, chegado este tempo, essa sanfonada é constante, mas nunca me aconteceu de estar ao lado duma capela: aquilo uma pessoa normal não o aguenta, juro. Desta margem também há casos assim, mas cá nas Carrouchas não se atreveria. Mas que me passei...
Tenho lido muito Agatha Christie nos meus tempos (meu pai gostava muito) e se não lembro mal sempre apanhavam o assassino... (`_^)
Dizer que o padre ia explicar a vida a um rapaz e começar a tocar "nós pimba", é no mínimo suspeito...
Ao volume que estava aquilo, Raf, dava para desconfiar que não fosse para apagar os gritos da criatura. Mas talvez sou mal pensada e eram todos mesmo surdos. Em nenhuma festa nem discoteca ouvi "musica" a essa potência.
Coitados ouvidos teus se chegas a estar lá...
Hostias! Nunca me decatara de que somos o Sur da Europa... Síntome un pouco mellor...
Hostias en vinagre, Condado! Até pensei que a aldea tal era a ideal para vivires ti, co seu rio Vez e a capelinha pimba pimba seguido nesa hora en que che gusta botar unha soneca. (`_^)
(Non deu para confirmar desde o ultralixeiro no que voaches antonte que isto é o sur?)
Epa! O outro dia andei polas tuas duas beiras do rio mas nom te mirei e isso que havia que ir bem amodo, caralho! :)
Isso si, caim na conta (ou botarom-me :P) de que o que eu sempre pensara que era uma cabra (de Osborne, coma quem di :P) no alto do monte em realidade era um cervo! ou umha cerva! Depois disso concluim que a lógica é umha amante esquiva... para mim, claro. (Por nom falar das evidências... si, si, j'ó sei...).
Estiveches por aquí e non chamaches, ó LQB, que lle baleirabamos a adega ao Condado!?
Se tiñas que ir amodo, debia de ser que andabas pola feira. Polos lugares que eu vou, sempre se anda lixeiro e sen présa (`_^).
Non te admires, aquí sempre se lle chamou A Cabra, e non hai máis (a escolla do sexo ou do xénero débese deber simplemente a que en masculino queda pouco elegante).
Hehehe, já me sinto mais aliviada! É que parece talmente 1 cabra...
O de chamar, nom era o dia nem a romaria :) mas estamos perto e havemos repetir e daquela si que si ;)
O pobo é sabio, LQB, cando non é burro, ou unha pola outra. (`_^)
Chama, en serio. En xullo repetimos Filminho: é uma boa ocasión para vires (fóra das outras todas, que tamén son boas).
É un cervo, e moi lindo por certo. Hai moito vago que non sobe até alí e non sabe o que se perde por non andar un cacho... Ou porque o cochiño non da subido a costiña je,je
O cervo non sei se é lindo, Condado; estilizado, si, anoxérico, diría case de tan minimal. Pero paga a pena contemplar o panorama, incluso cos ollos fechados.
Non coñecía o tal pimba! pero agora si que teño tamén eu a sensibilidade aterecida, non digo máis
Non imaxina, Kaplan, o que foi pasar ao lado da capela e soar de pronto aquilo: pensei que me caía un avión enriba ou que sei eu. Apañei un susto que na miña vida. En ningunha festa popular atopei nunca tanto decibelio xunto e ali nin festa había. En canto ao edificante da letra...
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