sábado, 10 de outubro de 2009

A lingua en ti nunca










O idioma é a pel que nos tapiza o interior, endoderme de lingua papiluda, retórica, que ofrece a alma descosturada ao voraz espazo do silencio roto. O meu é camisa de cobra que muda consonte os días e os humores, biliares, líricos, inhóspita de ti, anfitrioa dos baleiros que deixaches, opacos coma este mar que me contempla e agarda, aceno das ondas no sobrancello de escumas. Por detrás prorrompe o pregoeiro do home salvaxe, besta peluda de feira circense con cheiro a farturas, óleo gordo, denso, que mata o hálito invadido de alfabetos alleos como alfombras pesadas, poboadas de ácaros simpáticos, espirros. E sobre as losetas de seixos miúdos mido os pasos preguiceiros, remisos aos paradoxos da realidade. Velaí o mar que desiste de acollerme. Que morte ingrata a miña. Na praia mestúranse as pegadas das gaivotas e os pés ausentes dos humanos descontraídos, leves, colesterólicos, pensativos, remoendo milenios de pedra lavada no ir e vir da maré, como esta lingua tacto en ti nunca foi, nin o meu idioma de agora, 10:24, vibrou na tumba dos teus tímpanos.

2 comentários:

Teté disse...

Opacos estão os paradoxos de realidade... (`_^)

É, parece que ainda temos muito a aprender com as cobras: não só na mudança de pele, como a usar a língua - viperina ou com tacto?! Dependendo mais do humor do que da hora, obviamente...

Sun Iou Miou disse...

Ando um bocado revoltada, Teté. Nem me ligues. Acho que estão a chegar os tempos de impor mudanças. Quem fora cobra!