Que a gente não diga nada não quer dizer que não tenha nada a dizer.
(Talvez é só que não é o momento ou talvez é mesmo que nada tem a dizer.)
sexta-feira, 29 de abril de 2011
quarta-feira, 27 de abril de 2011
Poesia e copos de água
Isaque Ferreira e João Gesta na Fundação Cupertino de Miranda de Vila Nova de Famalicão. "Contribuição para a confusão geral".
Nem só palavras...
As mães sopram as manhãs
e elas ardem
mãe. E leva os filhos nos olhos como se os levasse pela mão
Nuno Higino (texto). Alberto Péssimo (ilustração). Letras&Coisas. 2011
segunda-feira, 25 de abril de 2011
sexta-feira, 22 de abril de 2011
O po sobre os libros
Pasaba o furabolos polo po que cubría os libros e admirábao non arrepiarse ao contacto, admirábao sobre todo comprobar que o dedo non deixara marca ningunha na pátina apagada que se depositara en todos os obxectos do cuarto... e nin así arrepiarse. Foi á cociña e do caixón máis próximo ao fogón quitou un farrapo branco limpo, que sacudiu para domealo, para que adquirise algunha elasticidade. Nas raiolas oblícuas do sol matinal que se filtraban a través das físgoas da persiana navegaban estrelas diminutas que escaparan doutras galaxias, creadas á medida de seres invisbles. Volveu ao cuarto, tentou retirar o po dos libros co pano. Foi en balde. O po persistía nos libros e o pano persistía na brancura. Xoán Lobo Vieira levantou a persiana, abriu a fiestra e só viu noite fóra. Mirou para as súas mans e o pano era unha labareda azul que non queimaba. Pousouno no beiril à espera de que unha picaraza se achegase a namorar con el. Despois notou terra entre a lingua e os dentes e decidiu dar un paseo.
quinta-feira, 21 de abril de 2011
A carón do soportal azul...
Postal
Para escribir esta postal sentei na praza
a carón do soportal azul onde os vellos da vila
toman café e fuman mirándonos a nós, os estranxeiros,
cunha expresión de aburrimento sabio,
alén da curiosidade
e tamén do desprezo.
E cando escribía as follas das palmeiras
rozábanse coma coitelos. Este vento de inverno
é cálido e despexa a morte.
As palabras parecen fluír máis facilmente.
Poden facer algo máis que describir
o vento e os vellos e a cabalgada feroz dos días.
Recuperar algo que respira moi atrás,
alí onde non hai follas
afiadas coma coitelos.
Rabat, outono de 2007
Manuel Darriba. Os indios deixaron os verdes prados. Dep. Provincial da Coruña. 2010
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Sobre isso que já não sei o que era... (e talvez sobre mim)
De repente, sem mais nem mais, ao meio da tarde, absolutamente concentrada numa tradução, lembrei que esta manhã, enquanto falávamos ao telefone, eu disse uma coisa a que achámos piada. Que eu acrescentei depois que iria escrever alguma coisa sobre isso... se não esquecia de ali a cinco minutos, que era o mais provável. E tu riste. E eu ri mas menos. Esqueci-a ―seguramente ainda antes de desligar. Eu pergunto-me agora por que lembro o acessório e não o essencial? Será que um dia esqueço também quem eu sou? Serei assim tão acessória mesmo para mim que apenas lembre que sou quem irá esquecer tudo aquilo com que se importa?
Eva
Eva naceu hai unha semana. Sei eu porque a tiven no colo e a nai paríraa de madrugada, aínda non se atrevía a abrir moito os ollos na penumbra do cuarto do hospital, entre ramos de flores e xente, enfermeiras e auxiliares que ían e viñan, o instinto de mamar ben aprendido e os avós felices. Todos felices, a verdade, cos ollos postos nas súas mans de velliña, as uñas longas que habería que cortarlle, á espera do primeiro sorriso que aínda tardará (ou non, porque logo parecerá que foi onte), os pés en harmonía co resto do corpo e tamén coas orellas, detalle este importante, talvez o máis importante.
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son da familia hai que aturalos,
superlativo
Faltava-nos a energia de estarmos vivos...
Ele disse vim para morrer, bem o sabes. Ele disse vim para morrer, porque pensaba que sabia a resposta a todas as perguntas do mundo. Ele disse não sabia uma resposta. Ele disse não sabia que morrer custa muito. É muito difícil morrer, disse ele. Sabendo tudo, ou não sabendo nada sobre o mundo e sobre a vida, morrer custa muito, disse ele. É muito difícil morrer, disse ele. Não dissemos nada. Ele disse a morte é impossível. Ele disse o amor é impossível. Ele disse tudo o que desejamos é impossível. Cada palavra do príncipe de calicatri era verdadeira, como era verdadeira a lentidão dos rostos. Faltava-nos a energia de estarmos vivos e, no entanto, a morte era impossível. Também eu já sabia isso.
José Luís Peixoto. Uma casa na escuridão. Quetzal Editores. 2002
terça-feira, 19 de abril de 2011
E nem a nós nos vemos
31. ELA
Não te vejo mas vejo
um qualquer fogo sobre mim pairar.
Se mais ninguém o vê, nem sequer tu,
que fazemos aqui, e escondidos de quê,
e que teatro é este em que nos movemos?
Nem o fogo nem nós: ninguém nos vê
e nem a nós nos vemos.
Que fazemos aqui, quando não sinto
uma força de carne
e um luar nos olhos?
Pedro Tamen. Um teatro às escuras. Publicações Dom Quixote. 2011
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Fóra do pozo
Ás veces basta parar un momento, pousar as mans no teclado, sen tocar tecla ningunha. Despois estrícanse un chisco os dedos, devagar, como temendo que vaian escochar no esforzo, e vírase a cabeza... ―está tan sucio o raio do velux, tereino que limpar un día destes ou pensarei que aínda non levantou o neboeiro aí fóra, como aquí― e séntese entón, por primeira vez no día, o reloxo da sala que dá as horas, seis badaladas, e un refoleo de vento que zoa e a pardellada toda a chiar nos bordos xaponeses, que de súpeto e sen saber por que calou e calou tamén o vento, deixando paso a un coro de grilos e o asubío fugaz dun melro. Esgurricho a caneca do té, que xa arrefeceu, e noto tamén agora, só agora, o resaibo amargo. E regreso ao pozo*.
*E isto non é senón un pozo ficticio, en canto pozo descrito dunha novela que ando a traducir, pero real, en canto pozo que me absorbe.
*E isto non é senón un pozo ficticio, en canto pozo descrito dunha novela que ando a traducir, pero real, en canto pozo que me absorbe.
domingo, 17 de abril de 2011
sábado, 16 de abril de 2011
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Apañado
Pronto, aí o está o guicho. Conste que eu nin reparaba nel, se non é a lurpia da faisá a levantar voo cun escándalo de carrilana cos rolamentos sen aceitar, deixando o compañeiro alí chantado a fazer de diana colorida. Aínda tivo sorte o coitado, porque se eu en vez de ser persoa que anda por aí coa cámara ao pescozo fose individua que anda por aí de escopeta ao ombro, destas horas esas plumas estaban a enfeitar un sombreiro e os interiores integrando a cadea trófica.
terça-feira, 12 de abril de 2011
domingo, 10 de abril de 2011
O ogro mascarado de plácida leitora de poesia (3)
E não, não morreu ninguém. É melhor já saberem que o final da estória não foi nada uma carnificina, não passarem a agonia de a lerem para depois vir o desengano coma uma lâmina fria que decepa cabeças de olhar perplexo... Era, dizia, domingo de entrudo.
Numa crise de fastio, cheia daquela merda que nem para quincalha dava, a Fada Cor-de-Rosa (ou era uma princesa?!) renega de pedras e tesouros que não aparecem e enfia para a varanda que dá ao jardim da Biblioteca proclamando que vai fazer arcosiris com as serpentinas que ficaram lá enredadas, tentando persuadir os primos para se unirem a ela. Desprezada por estes, que preferem o amparo do muro... (não penseis mal, ó tarados!, estavam a brincar mesmo a encontrar tesouros, a abrir buracos entre as pedras), sem mais nem mais a Fada Cor-de-Rosa Helena perde subitamente a condição de ser sobrenatural.
―Ó mãe! ―diz ela― Quero fazer chichi!
E saltita nos bicos dos pés, as pernas muito, mas muito mesmo, juntas, enquanto a Minnie Marianna reclama que vá ali para onde eles estão fazer chichi...
―Ó Helena, anda cá fazeres chichi!
Eu abafo um brado num silêncio que me rasga, era já só o que (me) faltava. Mas a mãe reage, levanta-se rápido, arrasta a fada à casa de banho coma se fosse o mais comum dos mortais e quando regressam, as pernas já mais desembaraçadas de urgências, a família levanta-se da mesa e sai da esplanada, em direcção ao terreiro, deixando as serpentinas partidas em pedaços pelo chão, pelas cadeiras, pelas mesas, pela varanda... e o trabalho de apanha-las ao empregado, que não perde a pachorra nem o sorriso. Até que em fim tenho paz para continuar a ler... só que, hélas!, fiquei sem vontade. Pago o que devo e vou também embora, assanhando-me com os pneus ardentes da mota sobre uma esteira de arcosiris que agonizam no empedrado do terreiro.
Numa crise de fastio, cheia daquela merda que nem para quincalha dava, a Fada Cor-de-Rosa (ou era uma princesa?!) renega de pedras e tesouros que não aparecem e enfia para a varanda que dá ao jardim da Biblioteca proclamando que vai fazer arcosiris com as serpentinas que ficaram lá enredadas, tentando persuadir os primos para se unirem a ela. Desprezada por estes, que preferem o amparo do muro... (não penseis mal, ó tarados!, estavam a brincar mesmo a encontrar tesouros, a abrir buracos entre as pedras), sem mais nem mais a Fada Cor-de-Rosa Helena perde subitamente a condição de ser sobrenatural.
―Ó mãe! ―diz ela― Quero fazer chichi!
E saltita nos bicos dos pés, as pernas muito, mas muito mesmo, juntas, enquanto a Minnie Marianna reclama que vá ali para onde eles estão fazer chichi...
―Ó Helena, anda cá fazeres chichi!
Eu abafo um brado num silêncio que me rasga, era já só o que (me) faltava. Mas a mãe reage, levanta-se rápido, arrasta a fada à casa de banho coma se fosse o mais comum dos mortais e quando regressam, as pernas já mais desembaraçadas de urgências, a família levanta-se da mesa e sai da esplanada, em direcção ao terreiro, deixando as serpentinas partidas em pedaços pelo chão, pelas cadeiras, pelas mesas, pela varanda... e o trabalho de apanha-las ao empregado, que não perde a pachorra nem o sorriso. Até que em fim tenho paz para continuar a ler... só que, hélas!, fiquei sem vontade. Pago o que devo e vou também embora, assanhando-me com os pneus ardentes da mota sobre uma esteira de arcosiris que agonizam no empedrado do terreiro.
sábado, 9 de abril de 2011
sexta-feira, 8 de abril de 2011
quinta-feira, 7 de abril de 2011
quarta-feira, 6 de abril de 2011
O sapo morto
Acho que matei eu o sapo e nem sequer fui consciente disso. Só reparei no seu corpo esmagado de ali a dois dias, quando levantei a porta da garagem. Apenas nesse momento é que vi o cadáver de sapo morto e esmagado e soube que só eu o podia ter morto e esmagado ali onde ele estava. Era tão triste ter um sapo morto e reparar nisso. Era tão triste ter morto um sapo sem sequer ter reparado nisso. Até porque de ter reparado em que o sapo, enquanto sapo vivo, estava ali onde estava, na mesma noite em que eu estivera com um outro sapo ―este vivo e inchado ainda, espero― a falarmos de coisas tristes, de coisas alegres, de crianças lindas que sorriam em fotografias com um mar de riscos de cores entre as mãos e o cabelo todo na cabeça, de coisas inevitáveis que puderam ser evitadas mais não foram, de amigos que iam embora fazer as Américas com tudo o que tinham ou sem nada do que tiveram... de ter reparado, digo, em que o sapo que eu já tratava por tu estava vivo à porta da garagem quando ia entrar com o carro, teria descido, ter-lhe-ia chegado o bico do pé delicadamente para ele apartar o seu corpo gordo e pesado de tantos anos a devorar bicharada ao luar e ter-lhe-ia dito, anda, sai de aí, sapinho, não vamos querer que sejas esmagado e morto a seguir ou no acto sendo eu consciente disso.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
Cá está abril
Já chegou o cuco a apropriar-se de ninhos alheios desocupando-os dos legítimos inquilinos que esmorecem ao pé de coluna partida e bico aberto ou de fome, chegou a poupa a deixar uma esteira de cheiro à merda no seu esvoaçar triangularmente ondulado e faisões e faisoas andam por aí a namorar escandalosamente com o prazo de validade marcado para o primeiro dia de caça, quer de tiro, quer de enfarte.
De melgas falar-se-à noutra altura.
De melgas falar-se-à noutra altura.
domingo, 3 de abril de 2011
sexta-feira, 1 de abril de 2011
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