quinta-feira, 4 de setembro de 2008

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É apenas um número. É mais um número visto ao longe: cadáveres estendidos na praia na fotografia dum jornal. Ao perto, incluso, não deixam de ser cadáveres anônimos, mesmo nas lágrimas, na raiva, contidas dos voluntários que os resgatam, que os acolhem. São corpos sem vida, mortos mortos, a morte nos olhos dos sobreviventes.
Nalgum outro lugar distante, amigos, familiares, amantes... pronunciam nomes próprios em ecos que se multiplicam. E choram, suspiram, lembram, esperam novas daquelas peles, daquelas voces que partiram, sem saber ainda, talvez para nunca mais saber.

10 comentários:

condado disse...

Quen dicía que era imposible acabar cos soños?

Sun Iou Miou disse...

Non sei quen o dixo, Condado, pero talvez falaba de especie, non de individuos.

condado disse...

Non creo que veñan pensando en liberar nada que non sexan eles mesmos, tal vez a súa familia... Pero quen sabe...

Sun Iou Miou disse...

Condado, cada persoa é cada persoa, cada unha cos seus motivos, ¿non? Alguns haberá mesmo que non deixen nada atrás, para descubriren que tampouco aquí hai nada para eles.

Anónimo disse...

Sabes, nunca quero perder a minha capacidade de espanto e horror quando olho o sofrimento dos outros, porque é o meu também. Não há teoria alguma no mundo que explique aquelas mortes, nenhuma teoria trará à vida aqueles homens e mulheres afogados. Nem a poesia, nem o afogamento simbólico de Flebas, o fenício, é capaz de atenuar em mim, o que julgo ser uma das mortes mais agonizantes que existe, perder a consciência e a vida na escuridão de mar desconhecido. Cada pessoa é cada pessoa. Todos os motivos são justos e legítimos para imigrar, a injustiça é impedir esse direito. Eu sei de lado eu estou na história, no dos vivos, a compartilhar esse fenómeno estupendo que é a vida ao lado de muitos injustos.

Lindo blogue eu encontro aqui!

Sun Iou Miou disse...

Obrigada, Oscar, pela tua maneira de pensar, de sentir e de transmiti-lo.

Beijo

leticia disse...

Y nosotros venga a quejarnos de crisis... Lo triste es que ellos son los poseedores del oro negro y el dinero se lo llevan quienes menos lo necesitan.

"Éche o que hai"
Últimamente esta frase que me gustaba está empezando a asquearme.

Sun Iou Miou disse...

Leticia: "Éche o que hai", certo, pero non ten por qué ser o que haxa por sempre e para sempre.

Tá-se bem! disse...

É triste quando tudo nos remete para um número - apenas mais um...

Beijoo

Sun Iou Miou disse...

Pois, Tá-se, só temo o dia em que já nem o número me sacuda.