terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Nzumbi
Hoje fui visitar um cadáver virtual muito vivo, oito dias após o enterro, o tempo que me levou seguir o rastro do álcool que ia desprendendo. Ele próprio colocara uma campa por cima que me custou bem levantar para comprovar a identidade. Mas lá estava ―apenas tive de escavar dez centímetros de nostalgia―, a sorrir com a queixada arreganhada e a piscar-me um olho, que tem o seu mérito com as órbitas oculares vazadas. Foi esse pormenor o que me alertou de que ainda respirava. Quando coloquei a campa de novo no sítio, deixei-a ligeiramente escorada na parte que corresponde à boca e entornei uma garrafa de whisky até escorropicha-la. Ainda o senti gritar desde dentro:
―E o gelo, raistepartam?
―Tu tem calma ―disse-lhe―, que a noite traz geada.
―A noite?! Posso morrer de aqui à noite!
―Não tenhas medo, que quem não existe nunca morre. Mas vai aproveitando isto.
E arranquei um coalho gelado do peito.
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33 comentários:
Xoves (5ª feira x mais datos) madrugarei (8 horas) para ir cara ao interior de tras-os-montes (viño e aceite) e quizá tamén patacas (ou sexa, un percorrido polo mar enteiro que coñezo), digo por se podes deixar de choiar un día e pode aguantarme a min e as miñas cámaras...
Por certo, non sei que significa Nzumbi, pero eu sintome así moitas mais veces das que quixera, digo no exterior, falando con mortos que non o están tanto... Como dice Berlanga: Va un abrazo
Quen non existe nunca morre... Abrazo forte
Oi, Suso Lista, por un segundo asusteime: mira ti que vén a callar agora aquilo.
Só que este cadáver canta a do Pirata Cojo.
Condado, chámaslle madrugar a calquera cousa.
E non sei que me doe máis, se dicirche que non podo ir ou que me dixeses que vas, que ás veces, só ás veces, a felicidade está na ignorancia.
Pregúntalle ao teu amigo Alberto Mvundi, que ha de saber o que significa nzumbi.
(Espero que saíses ileso do partido. Para a próxima, desafíovos a un futbito en patíns.)
Dez centímetros não foi muito. Mas nostalgia é nostalgia e não sei se tem dimensão. O diálogo está excelente. A conclusão óptima.
Dez centímetros de nostalgia? Às vezes nem é preciso cavar tanto, acorda-se com ela. Quando não nos deitamos já nostálgicos, a "pensar na morte da bezerra".
Beijinho.
PreDatado, bem-vindo. E obrigada pelos elogios, mas o mérito não é meu, que os diálogos com quem não existe sempre foram excelsos. A conclusão, sim, deixou-me mais leve.
Quando tiver tempo, passo pela tua cubata, que hoje está a coisa difícil.
Nzumbi ou Zombi?
Então, que tens hoje CãoSarnento, que estamos tão delicados? Depois dizemos que a culpa e da chuva e cá está o sol, já, cegando-nos depois de tanto inverno.
A ti vou-te confessar o que são os dez centímetros. "Coveiro, quando cavares a minha sepultura, que seja pouco funda para eu sentir a chuva".
Mas isso só o cadáver é que sabe.
E já agora que whyskie é que o cadáver virtual vivo costuma consumir? Contenta-se com novo, ou é exigente e não fica satisfeito com nada com menos de 25 anos?
Saudações etílicas do zombie Marreta.
P.S.: Gosto do novo "look".
Imagino que a palavra zombi vem de nzumbi, Rafeiro. Em qualquer caso, em quimbundo: "alma de antepassado, alma errante, espírito". Deixo-vos à escolha, que eu já fiz a minha.
Hoje está isto que parece tenda de animais.
Acho que é JB, Marreta, e tu conheces, por acaso, esse cadáver (`_^), que também te tem visitado nestes dias. Não sei é se se importa com os anos, mais sim o quer com gelo (algum defeito ela tinha de ter, aliás).
Bem-vindo da ressaca blogofárrica.
(E obrigada, também eu gosto mais assim, ficam melhor as fotos.)
Xa ves, retomando do que falabamos hai unhas semanas, non fai falta rima, nin sequera versos para facer poesía.
Ai, Couselo, é que só necesitaba un estímulo. Xa tiven días peores. (`_^)
Quem nao existe nunca morre... Fermosísimo.
Ah, Gato Negro, non me digas que entendeste?! Ti é que sabes!
Ainda vou ter que desenterrar ese cadáver e que se lixe quen o enterrou.
Não me digas que o morto vivo é o Jonas (não o Savimbi)!
Saudações do Marreta.
Ah, ah, ah! "Um cadáver virtual muito vivo", a dimensão da nostalgia, o piscar de olho de órbitas vazias, e o whisky a reclamar por falta de gelo??? E quem não existe nunca morre?!
Um espanto!!! (*_*)
Pois é, Marreta, mas o Jonas já não existe -disse ele. E como quem não existe não morre, anda agora um tal Jota Bê (JB) imbuído da sua alma errante.
A Sun Iou Miou, Teté, de quando em quando até tem minutos gloriosos.
(`_^)
Fooogo! Não estás farta de chuva em vida eheheh.
Obrigado pela explicação. Sabes que línguas estrangeiras não são o meu forte (à excepção do castelhano eheheh).
E como podes verificar, o sol já fez o seu efeito. Hoje acordei mais "saudável", que isto de andar para aqui "a cair da boca aos cães", dá uma tristeza danada. Como dizem na minha terra: "elas não matam mas moem".
Beijinho.
Entrei lá no teu canto hoje, CãoSarnento, escarrapichei uma estupidez qualquer sobre mamas, photoshop e estoiradas e apaguei.
Hoje toca-me a mim e nem o sol me fez efeito. Mas alegro-me por ti.
Beijo
Eres moi considerada, eso é o menos que se pode facer por un cadaver.
Deíxoche un encargo no meu blog por si che presta seguir o xogo. Si non che apetece non te preocupes que non haberá represalias, he,he!!
E o maldito que não se cala com o gelo! ;)) Kestamerda?? Para mim já lo sabes... simples "Famouse.." de preferência! ahahah
Beijoooooo nostálgico de sexta ;))
É así, Raposo, que mellor que unha bebida espirituosa para alimentar o espírito, a ver se sai da cova, cando menos para ir procurar o xeo a unha bomba de gasolina.
Vou lá ver entón, pero non che son moito de desafíos.
Tomo nota, Tá-se bem!, e se algum dia decides mudar virtualmente de vida havemos emborcar uma pipa de Famouse com muito Grouse.
Beijo etílico de sexta sem gelo nenhum!
estou errado ou tamén é verdade que o que non morre é porque non existe?
(máis que filosofía de todo a cen son ganas de retorcer o argumento
Talvez, meu prezado Kaplan, se poida aplicar, desde un punto de vista lóxico o de que a orde de factores non altera o produto, pero aquí non vale a matemática, pois o diálogo perderia sentido, non cre?
"-Posso morrer de aquí à noite!
-Não tenhas medo, que o que não morre não existe." ?!
Do cal se debera deducir que cada palabra que está escrita nese relato en aparencia inocuo é unha arma cargada de sentido e e está xusto onde debe estar, non ao lado, nin máis para atrás, nin máis para diante. E mesmo que poida haber infinitas interpretacións, se houbese infinitos lectores ou infinitas circunstancias diferentes para un só lector, só existe en realidade un lector potencial que poida percibir todo o sentido con que a Sun Iou Miou escribiu o seu encontro cun cadáver moi vivo que non pode morrer porque non existe.
Pero talvez ese lector non exista, polo menos como lector.
O resto dos lectores teñen licenza para interpretar o que quixeren e poren patas abaixo o argumento. E a miña beizón por me aturaren.
Feliz dia dos Namorados
Para ti!
Beijoooo de Sábado com cariño :)
pássaro pousa em ponta de flecha?
Namorados, Tá-se bem!? Vou ter de procurar essa palavra no dicionário.
Beijo de domingo!
Obrigada, Anónimo, que me deste a peça que me faltava para o título do texto seguinte, que sempre é o mais importante.
Abraço
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