quarta-feira, 6 de abril de 2011
O sapo morto
Acho que matei eu o sapo e nem sequer fui consciente disso. Só reparei no seu corpo esmagado de ali a dois dias, quando levantei a porta da garagem. Apenas nesse momento é que vi o cadáver de sapo morto e esmagado e soube que só eu o podia ter morto e esmagado ali onde ele estava. Era tão triste ter um sapo morto e reparar nisso. Era tão triste ter morto um sapo sem sequer ter reparado nisso. Até porque de ter reparado em que o sapo, enquanto sapo vivo, estava ali onde estava, na mesma noite em que eu estivera com um outro sapo ―este vivo e inchado ainda, espero― a falarmos de coisas tristes, de coisas alegres, de crianças lindas que sorriam em fotografias com um mar de riscos de cores entre as mãos e o cabelo todo na cabeça, de coisas inevitáveis que puderam ser evitadas mais não foram, de amigos que iam embora fazer as Américas com tudo o que tinham ou sem nada do que tiveram... de ter reparado, digo, em que o sapo que eu já tratava por tu estava vivo à porta da garagem quando ia entrar com o carro, teria descido, ter-lhe-ia chegado o bico do pé delicadamente para ele apartar o seu corpo gordo e pesado de tantos anos a devorar bicharada ao luar e ter-lhe-ia dito, anda, sai de aí, sapinho, não vamos querer que sejas esmagado e morto a seguir ou no acto sendo eu consciente disso.
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5 comentários:
Coitado do bicho! Mas já se sabe que há coisas que acontecem sem querermos ou mesmo desconhecendo que um dos nossos actos prejudicou um outro ser vivo... ;)
Acontece a todos, por vezes somos nós os prejudicados. Apontar o dedo a quem? Exercício desnecessário, evidentemente... ;)
Beijoquitas!
Hai sapos cancioneros e sapos suicidas...
Sem ir mais longe, cada vez que abrimos a boca para comer prejudicamos um ser vivo, Teté, nem que seja uma linda alface! ;)
Xa había tempo que non me acordaba da do "sapo cancionero", Condado.
http://www.youtube.com/watch?v=5WOnHE4ZNlU
Tadinho!
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