segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Pais e filhos

Como hoje foi o regresso ás aulas aí da outra margem, lembrei-me desta cena que me comoveu a semana passada em Lisboa:

Um puto duns quatro anos —talvez menos, não sei calcular—, os olhos brilhantes e o sorriso mais lindo e feliz que já vi, atravessa a rua de braços abertos ao encontro do pai:

—Pai, ó pai! Vais-me levar à escola?!

O pai não responde, está sério e triste. Não acaricia sequer o pequeno. Fala com a mãe, têm o aspecto de divorciados a resolver questões de ordem prática...

E esta outra vivi-a no sábado na margem do Minho:

Chegam de lancha ao snack-bar da praia um casal e duas crianças. A mãe pede dois cachorros com batata para as crianças e mais dois cachorros especiais para eles, onde "especial", feitas as aclarações pertinentes, significa com molho francês, sem batata! Como demora um pouco, o normal, o pai diz ao filho umas quantas vezes para ir lá dentro da cozinha espreitar. Felizmente o miúdo é tímido ou tem mais juízo do que o pai e não vai. Chegam primeiro os dois com batata. O pai, sem dizer ai, pega num. A mais pequena chora —na verdade, já levava tempo a chorar, eram 3:30 (HP) e ainda não almoçara, 'tadita, mas agora com máis força. O pai leva-o à boca pronto a meter os dentes. Perante os choros a mãe diz: Para aí! Pergunta de más maneiras ao empregado:

—Isto é cachorro com batata?

Ele não percebe nada. É evidente que aquilo é cachorro com batata: tem salsicha, tem pão, tem batata. O pai mete o cachorro na boca. A pequena chora. O mais velho protesta. A mãe insiste:

—Mas não é cachorro especial? —insiste num tom de voz desagradável e arrogante que atrapalha o moço.
—Olhem, os senhores pediram à minha colega. Eu não sei. Eu vou lá dentro ver que se passou.

Evidentemente pensa que houve engano. Mas é só o egoísmo dum pai, que pega na merda do cachorro, com batata ou sem batata, antes de lho ceder aos filhos.

Não é que a mim me interessasse nada daquilo, mas estava a esplanada praticamente vazia e tiveram de sentar ao meu lado, até que depois disto, acabei a minha Pedras, peguei no Os da minha rua do Ondjaki que estava a tentar ler em vão, com aquela gritaria constante, e fui sentar baixo uma árvore. A paz do mundo.

16 comentários:

Anónimo disse...

Vieste a Lisboa...! Na próxima tomamos um café!

Sun Iou Miou disse...

Fui, Óscar. Talvez estiveste uns dias sem entrar no blogue. Lá mais abaixo (Vou para o Sul) anunciei a que foi uma brevíssima visita. Mas prometi outra para o outono/inverno, quando faça menos calor, de maneira que tomaremos esse cafezinho.

condado disse...

deberías facer unha entrada mais ou menos así: cousas que meter na mochila para ir a Lisboa en outono... En serio...

Sun Iou Miou disse...

Agora na distancia, Condado, que xa non ouvo o tránsito, nin me repelen os fedores varios, nin me tolda a vista a calima, nin me abafa a calor... neste neboeiro miñoto, até teño saudades de Lisboa.

Teté disse...

Bom, esse segundo pai é o que se chama de verdadeiro burgesso. Como é que pode ser um bom educador se age dessa maneira??? Quanto ao primeiro, pronto, já se sabe, é o pão nosso de cada dia...

Está visto que quando voltares a Lisboa vais ficar entupida de café... (`_´)

condado disse...

A proposta é para que os lisboetas, ou non, metan aquilo que máis gosten da cidade, seguro que haberá sorpresas neste blog meio tuga... e cafés

Sun Iou Miou disse...

E não referi a conversa que eles tinham, Teté, para não fazer uma postagem cumprida demais. Nem sei como suportei cinco minutos ali ao lado. O pai é que parecia uma criança consentida e andava bem pela nossa idade...

A primeira cena, na verdade, tinhas de ver os olhos da criança e os do pai... a tristeza toda. Talvez não fossem divorciados nem nada disso, mas foi o que me evocou. Olha que não sou contra o divórcio, antes ao contrário, só estou a referir-me ao sofrimento que provoca a separação entre os pais e os filhos, mais nada.

Sun Iou Miou disse...

Abriremos a mochila para os amantes de Lisboa, entón, Condado. (Vou ter de comprar uma maior.) E para os cafés.

La queue bleue disse...

Sun... um comment um tanto off-topic: podo-che roubar o sistema este que empregas de raias e letra de cor gris afinal dos posts para engadidos e comentários que nom fazem parte propriamente do corpo do post?
É que me me dava cá um jeitão! Mas tb entendo que igual nom che chista, a mim às vezes tb n me mola que me "copiem".

Sun Iou Miou disse...

Gama lá o que quiseres, LQB! Era o que faltava! Nem reparara em que isso fosse tão meu. Mas é todo um detalhe pedires licença, isso sim.

Beijão com jeitão.

La queue bleue disse...

Obrigadão! :)

Anónimo disse...

Provavelmente não se nasce egoísta. Aprende-se a sê-lo com pais assim.

Sun Iou Miou disse...

Garanto-te que fiquei siderada com a atitude daquele pai, Opinador, e da mãe, enfim, mesmo que estivesse a defender os cachorros dos filhos, era bem daquelas do nariz levantado quando falam para pessoas que consideram 'inferiores' (só me estou a colocar na mente dela).

Fica o 'provavelmente', porque o filho demonstrou bastante mais educação e bom senso, mas talvez com o tempo acabe por assumir aquelas atitudes também. Quem sabe?

Sun Iou Miou disse...

De nada, La Queue Bleue. Estou certa de que se chegas a roubar sem licença nem repararia. Já sabes, eu sempre na verça.

Tá-se bem! disse...

Será por isso que cada dia me delicio mais a ver a mãe gata a educar os seus pequeninos? :)

Beijooo de terça (quarta?) upssss tenho-me desligado de tudo.. :)

Sun Iou Miou disse...

Assim é que é. E o pai gato à boa vida, o sacana!

Beijo da feira que for!