segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Os meus quedes vermelhos










Acho que ela percebeu que se me sacudisse muito podiam cair mais lágrimas.

Ondjaki, Os da minha rua

O que eu dava por ter na memória da infância as palavras precisas como tem ele, tão simples, tão escolhidas e colocadas no sítio certo. Lembraria assim o aroma da terra húmida que traz o vento a anunciar as trovoadas; aqueles rapaces a maltratar no cachorro, que tanto me fizeram chorar de raiva e incompreender o mundo, discípulos de seus irmãos mais velhos nas 'soltas de novilhas'; o verão pintado de papoulas nos campos de trigo; a sopa de arroz da avó e a sua mão a despedir-nos com os olhos molhados até que o carro se perdia na curva quando chegava o outono... No entanto, conformo-me, qual conformo-me?!, contento-me, digo, sou feliz de ler as suas estórias em ternura tecidas, em fios de coisas mínimas que encantam a mirada de criança que perdura em nós, de lá, cá dentro.

2 comentários:

Teté disse...

Aguçaste-me o apetite para este livro... logo eu, que tenho cerca de uma vintena de livros em espera!

Quedes são anotações? Não vem no dicionário... (`_^)

Também as faço, mas a lápis! Isto porque não gosto de ler livros anotados por outras pessoas, de modo que penso que se alguém quiser ler o meu livro, basta apagá-las...

Beijoca!

Sun Iou Miou disse...

Quedes é palavra angolana: são sapatos de lona e borracha, desportivos. O livro tem um conto com o título: "Os quedes vermelhos da Tchi", e como eu tenho uns ténis vermelhos que adoro (não sei se viste aí no meu outro blogue, o Bocanegra, a foto), pois de aí o título.

Anotações também faço a lapis. Em vermelho só é nos textos que corrijo por trabalho, pois tem de ser assim, que é por acaso o que se vê nas folhas baixo o livro.