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quarta-feira, 23 de março de 2011

Ar iluminado

Para o besugo

Que eles e nós eramos feitos de ar ninguén dubidaba e quen dubidase, dentro das excepcións pertinentes, era apenas por ser feito duns outros gases raros e extravagantes. Sabíase isto a pesar de que nas horas de ceos moi toldados, en que as augas se espellan así mesmo toldadas, un manto de líquida cinza oculte as borbullas de peixes e algas que acolá nos medios fundos trocan os seus osíxenos e os seus hidróxenos en desproporcións dispares. Era tamén verdade científica comprobada até proba en contra que había ademais bastante carbono ao barullo, o que a todos nos daba a solidez táctil, pois un exceso de permeabilidade na esencia implicaba risco de fusións infindables. E en relativas porcentaxes de chisca e migalla, os corpos contiñan outros elementos tales coma o ouro dos dentes, o titanio das próteses internas e externas e os fósforos do cerebro, eses que resplandecen en noites desluadas e nalgúns casos notorios se localizan en cristais polas nádegas, distinguíndose así as especies que salpican a atmosfera a aboiar en dous grandes grupos indiverxentes de escaso peso, os poéticos vagalumes e os prosaicos lucecús, xente, ao final, sempre de palabra, ou como dicía, ar. Ar, con todo, iluminado.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Locuras (ou sons)

Não tarda em propalar-se aldeia fora o rumor. A mulher ―dirão num burburinho no segredo dos confessionários, comentarão em surdina na mercearia, vociferarão sem pejo nos cafés― endoideceu e vagueia ao lusco-fusco pela margem do rio... sozinha.

O problema não é as pessoas nos julgarem doidos, mas não sabermos nós que estamos. Talvez, afinal, endoideceu mesmo, mas os cães agradecem tanto...

Depois estão as perspectivas, porque a mulher não vagueia sozinha: acompanham-a o alento dos cães, os patos que regressam ao ninho apregoando-se, o gralhar duma garça indecisa, um coro estridulíssimo de grilos, o plof-plof dos sapos que lhe abrem passo não os pise, os remos duma barca de pesca a chapinhar sobre tanta calma...

quinta-feira, 17 de março de 2011

Mala baba

Na caixa do supermercado, cando me toca a vez, deixo de ter présa, a tensión reláxase e escoito as conversas que aboian arredor. A metro e medio de min unha muller di que non entende a xente que non quere revelar os anos que ten. Eu penso que alá cada un co seu corpo e os seus espellos. Non, non quero bolsas, grazas, repito en ton automático antes que me pregunten. Vou gardando no carro as cousas que antes tirei para colocar na cinta transportadora e que a caixeira foi pasando polo lector de códigos de barras, que emite un zunido de cada vez, zunido que se transforma en cifras. (De súpeto sinto nostalxia daquelas caixas que dicían money, pola estética clara da boca que se abre e canta o seu contento, sen enganos, transacción física de papel e moedas que manchan as mans... non que eu desexe de forma e en forma ningunha regresar á puta (avaliación adxectiva crítica e enfática sen connotación literal substantiva ningunha) da adolescencia, á merda (ídem de idem) toda da vida miña que felizmente foi quedando atrás. Ela, a outra, insiste en que non entende esa xente, que ela ten corenta e mal lle importa recoñecelo. Eu por fin acabei de gardar as cousas no carro, e pásolle a tarxeta e mais o dni á caixeira. Aproveito a pausa para pór corpo á voz da señora cunha leve ollada de esguello e penso que fai ben en confesar que ten corenta anos, porque non parece. Eu botáballe bastantes máis. Sen dó. Mala baba teño.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Rutina

Pasou unha semana máis, e nesta tocoume rescatar do fondo do mar un tesouro da frota de Indias, desenmascarar unha rede de tráfico de drogas dirixida por militares estadounidenses no Panamá, asistir impotente á escena en que unha tarada, dunha puñalada polas costas, deixa un médico paralítico e a outra en que o machote do colega lle ve o cu á curuxa cando lle diagnostican un cancro de mama, acompañar un grupo de soldados españois durante un atentado en Iraq... O que mudou foi a temperatura, aí fóra, que arrefeceu.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Zaragata matinal com nevoeiro ao fundo

É domingo de manhã (cedo) e, quando tudo prometia um pequeno-almoço tranquilo e triste, descubro que não há coisa melhor no mundo para bem acordar de repente do que partir em cacos de variado tamanho e grossura o jarrinho do leite...

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Autopsia

Cando o forense, para apurar as causas da morte, lle abriu as tripas a aquel monte de pel e ósos, encontroulle o estómago e os intestinos ateigados de recoñecementos enteiros, medallas trituradas, títulos de toda especie, varias palmadas no ombro, medios sorrisos e moitas, moitísimas boas palabras xa case ilexibles.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Pecata minuta?

Eu pensei que iria ser triste coisa se um dia me tirassem o café. Digo, triste não, um drama, um drama trágico com assassínios não sei se em série se em massa e um suicídio, o meu, no fim, para burlar a efémera injustiça humana na estúpida esperança duma misericórdia divina eterna. Como em tudo o mais, enganei-me nos adjectivos.

Quase um ano depois que me fosse diagnosticada uma hipertensão assustadora (pena não vissem a expressão horrorizada do meu médico, que ia caindo fulminado perante a exorbitância das cifras com que me acusava o aparelho de pressão, porque a cena esteve a pique mesmo de ser engraçada), sobrevivemos todos os implicados na quase destruição do meu vício: o médico, que safou por um triz com um sorriso meigo de última hora; empregados de café que, nos primeiros dias da abstinência, traziam nos lábios a frase feita pelo costume ou até já no tabuleiro, ó torturante tentação impediosa!, a chávena pequenina sobre o pires, fumegante e aromática; a caixeira do supermercado que introduzia sem dó na máquina o código do sucedâneo desenxabido e a fila inteira de clientes desacautelados que nunca imaginaram o perto que estiveram de saírem do local sem pagar; eu própria e mais os meus cães, alminhas. Diga-se em honra da veracidade que, advertidos por diligência preventiva dos Serviços Sociais, já na mesma tarde da consulta passou um par da Guarda Civil na minha casa a requisitar as armas mortais todas, faquinhas de untar manteiga incluídas, e mais uns rebuçados suspeitosos de cor castanha que guardava numa gaveta com dobre fundo da secretária.

Com certeza, não renunciei ao da manhã. Reconheço para o meu desdouro, no entanto, que é esse apenas uma água chilra para iludir o olfacto, que me arranca dos lençóis e me conduz como autómato à cozinha numas horas em que ninguém suspeitaria que a alva, nem que seja toldada, possa vir a existir. Vedei-me, porém, os outros milhentos que ingeria ao longo do dia. Eis uma gaja com força de vontade, dirão vocês. E eu digo, não. Digo, eis uma senhora que deixou de ter umas dores de cabeça infames e sem causa até então explicável a acordarem-a mesmo nos dias santos.

Ora bem, isto aqui, o reino do meu corpo, não é fortaleza inexpugnável, antes tem na epiderme do desejo alguma fenda por que em noites extraordinárias, sem exageros, uma ou duas vezes por mês, como quem vai a um lupanar satisfazer os mais elevados instintos prévio pagamento, vence o pecado e peço, sem um tremor de mãos, um cafezinho, diminutivamente e em voz muito baixa, que me sabe à glória bendita. Eu aí fico embasbacada a sentir a fragrância entrar pelas narinas e atingir os capilares minúsculos que nem em dissecação ocular se vêem e noto os espinhos de dentro amolecerem e uma alegriazinha simples de viver mais um dia. E depois, a beberagem mágica enxota-me a soneira, como se tivesse no cérebro um anjo enjoado com o universo todo pelos esvoaçares monótonos que lhe calhou viver uma perpetuidade inteira, quer-se dizer a tempo completo, e consigo voltar a casa sem adormecer ao volante ou sobre o guidão da mota, facto que, julgo eu, contribui um bocado a amortecer a tragédia e à causa do mais um dia.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Meios de subsistência

Calhou-me uma semana poética. Terça foi na Fundacão Cupertino de Miranda em Famalicão com o Isaque Ferreira e a Ana Deus de dizentes. Esta noite há no Porto sessão das Quintas de Leitura com o valter hugo mãe. E ainda sábado, aqui/aí em Cerveira, na Porta Treze, um acto em volta do Eugênio de Andrade. Para equilibrar em prosa, fui agora às compras de víveres e investir na aposta semanal única de quinta e sábado da lotaria primitiva.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A rapaza pálida (divertimento)

A rapaza que pasa as páxinas da partitura ao pianista é pálida. Por veces, unhas poucas apenas, permítese un palpitar no peito, que pronto reprime, penso, por pudor, e pugna por imprimir ao rostro, héctico, unha actitude estática, estatuaria, de estética tan estrita canto críptica, inescrutable. Le nas lendas e logo, lánguida, louro o cabelo abala e se alza, leva lentamente a man alada, aloumiña o limbo foliar, tal que linda lencería lene e leve. Olla de esguello ao vello mestre e ao seu tácito explícito xesto, presta, pasa a páxina da partitura e recompón a pousada posición do corpo como pantasma a rapaza pálida.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Vista panorámica





Centro Cultural "Miguel Delibes". Valladolid

domingo, 16 de janeiro de 2011

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Amarração










Sinto um fascínio um nada lógico pelas sugestões que, peneirados os textos das cartas, me oferece, de balde e em balde, o servidor do correio electrónico. Num dia destes calhou um que dizia (sic): "Trabalhos espirituais: Amarração, Afasta rival, Magias poderosas, traga o seu amor definitivo...". E não sei o que me chocou mais: se que os trabalhos fossem espirituais (seria também espiritual o pagamento, ou material, pecuniário ou pecuário, carnal...?), se a questão da "amarração", se a ausência de concordância na redacção, se as vírgulas, se as maiúsculas ora sim ora não. Só faltou lá o caldo de aranha. Mas, definitivamente, foi a amarração que me prendeu.

Vá lá, não neguem que ficaram curiosos por saber o que eu tratava nessa carta para receber tal sugestão. Lamento, é privado. Até aparecer uma mail-leaks qualquer, claro.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Torradas de mel e azeite

A vida das abelhas é fascinante... para quem a estuda. Eu li na primeira adolescência um livro sobre elas (dá para um livro, pois, e não era magro, nem um tijolo, por isso), quando ainda me sonhava etologista. Acabei filóloga armada em tradutora, mas continuo a lembrar a dança das abelhas... ao pequeno-almoço.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

E non me fechedes os ollos












Como parece os deuses están tan distraídos nos seus incestos, orxías e bacanais que nin se lembram dos mortais contribuíntes que por aquí andamos, turrando contra todo e nada, facede o favor de esforzarvos (uffff!) en construir un 2011 mellor, porque o futuro, non che me vos enganedes, somos nós quen o diriximos a cada paso que damos (ou non damos).

P.S.: Se celebrades o rito da pasaxe ao Aninovo com uvas ou pasas, tentade non esganarvos, que a familia e os amigos non teñen culpa ningunha da vosa torpeza.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

De sentenças de morte (e indultos)

Como propósito para o ano novo é mesmo nada disparatado. Vive-se tantas vezes, às vezes, sem dar por isso, pela vida, que incomoda. Sentir os dedos doer, por exemplo, e os olhos a perseguir sonhos é um exercício de concentração estrito. Não foi isso o que aconteceu ao touro. Quis não morrer na hora que lhe marcaram e fugiu. Mas assim morreram-o antes ainda, matado, a caminho do regresso ao matadouro, adormecendo-lhe o instinto, domesticando-o quimicamente para virar de ali a uns dias posta com arroz e salada, filet-mignon com batata a murro ou rabo estufado com ervilhas. Assim morremos antes da hora nós tantas vezes, às vezes, e no fim, miséria, só daremos boa janta aos vermes... ou nem, incineraditos, que é moda de poupar espaço, as cinzas a entrar por olhos e bocas e narinas alheios, raispartam o vento, rosmam os presentes cuspindo lixos do defunto.

Pois não indultaram o bicho depois de eu ter escrito esta porcaria? E agora faço o quê?! Mando o rascunho à lixeira? Vou ver eu se quando me chegar a hora me indultam também, e os vermes que se lixem.

domingo, 26 de dezembro de 2010

sábado, 25 de dezembro de 2010

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Estado: invísivel

A poeta futurista dum século passado atravessa com uma sombra ao lado o vestíbulo do teatro em direcção à sala onde se vai concelebrar um recital poético e um nu integral. No caminho, que nem é tal, antes passagem, um editor pedrês de abrigo azul, com um chocolate em cada mão, detém a poeta e oferece-lhe o chocolate da mão direita e um sorriso. A poeta, que nem gosta de chocolates, hesita, devolve o sorriso, toma o chocolate também na mão direita e dissimuladamente deita-o ao lixo, de onde a sombra com a mão esquerda, num gesto discreto, o resgata, o desembrulha e, antes de introduzi-lo na boca, diz:

―Gracias.

O editor, pedrês e de abrigo azul, a suster uma perna no ar e um chocolate na mão esquerda, lança um remoque à poeta, futurista e dum século passado, que leva uma sombra ao lado:

―E então? Agora falas castelhano?

Ninguém responde. Ensinaram-lhe a não falar de boca cheia e a não dar muito nas vistas.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Riscos






Em Vila Praia de Âncora



É o mundo, a vida. Tem riscos.