Mostrar mensagens com a etiqueta xente e xentiña. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta xente e xentiña. Mostrar todas as mensagens

domingo, 11 de julho de 2010

Fatuidades (e não só) confessas










Gosto de espectáculos à borla, pois. Assisto a um concerto num anfiteatro ao ar livre, pré-instalada na insónia duma noite de verão, e gasto em poemas, ali mesmo na feira do Livro, o dinheiro que pagaria pelo bilhete. Vocês já sabem como eu sou fraca quando passo ante uma capa com um título a dizer come-me: abandono-me à tentação e ainda sucumbo à sobremesa. Além do mais, enfio na mochila os versos assinados, de costas leves por ter sabido engolir no ponto certo as vogais, na breve (breve, pronto, está bem) conversa que mantive com o autor, até conseguir que não desconfiasse do meu sotaque. E parece que deva bastar isto como justificação para o amanhecer de mais um dia.

Os deuses da pátria a cavalgar nos sonhos

Se eu tivesse segura a eternidade [como tenho as contas diárias
para pagar] renunciaria aos livros que ainda tenho para ler.
Nem poria os óculos que me tonteiam a realidade. Nem
ouviria o Peter Grimes que agora oiço -que me interessaria
o bramir da música contra os rochedos da poesia?
Se eu tivesse segura a eternidade [como a geada que esta manhã
me gelou os olhos] deixava-me dormir o dia inteiro
com os deuses da pátria a cavalgar nos sonhos. Talvez
inventasse um planalto qualquer, com uma pedra em forma
de destino e sentado esperasse os animais de Zaratustra
no seu aparecer alto e circular
O animal eólico do corpo. Nuno Higino


Mas há sempre quem julgue que 'gratuito' significa direito a entrar à hora que melhor lhe parece, sentar ao lado da senhora essa da câmara na mão que foi procurar um lugar bem afastado para ninguém a incomodar, falar em voz muito alta para se fazer ouvir perante a barulheira dos gajos que estão para ali à sua vida no palco, deixar às criancinhas aos pinotes e aos berros pela bancada. E eu estou com muito pouca paciência ultimamente. Nenhuma, digo, sou franca. Nem eu me aguento. De modo que, sem mais nem mais, virei-me para os pândegos vizinhos e ―presunções minhas, atingindo o nível avançado das indignações exprimidas naturalmente em língua alheia― mandei-os calar se faziam favor e não se importavam, que eu até a esguichar dardos tóxicos pelos olhos sou bem-educada. Fez-se, portentosamente, o silêncio. Quando mais tarde me lembrei deles, espantada da sua resistência em susterem a léria e as rédeas dos selvagens que criavam, tal qual deusezitos, à imagem e semelhança, descobri que foram pastar embora. Não digam a ninguém mas estou muito à vontade comigo assim intratável.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

O meu primeiro fã ou... no tecto "pital" da maralha pita

No mesmo dia em que descobri que estava já, já!, no tecto "pital" da maralha pita, nem que nunca tenha proferido um grito histérico, encontrei, com poucas horas de diferença, o meu primeiro fã, que também não gritou nem histérica nem gravemente, mas olhou para mim com uma admiração que nunca me julguei capaz de suscitar em ninguém, menos numa pessoa de tamanho tão enormemente pequeno.

Fora feriado aqui dia inteiro e imaginei a invasão no jardim, na outra margem do rio, por isso fui um bocado mais tarde do costume. Todavia, ainda havia lá galegos para dar e vender (se houvesse quem comprar...). Suspirei. Vamos ver se não atropelo ninguém, vai estar difícil, disse para os meus botões, que não responderam. Ao rematar, balanço feito, somei alguma travada brusca, mas nenhuns mortos nem sequer óculos partidos.

Já no final, aproveitando que apenas sobraram seres humanos na contorna, pus-me a praticar a marcha atrás e os giros. Reparei num puto duns sete anos (digo eu, que sou incompetente nisto de cálculos que não sejam renais) quieto a um lado do trilho. Acabou por sentar na relva, o corpo afincado sobre um braço, as pernas ligeiramente dobradas, baixo os cabelos curtos, louros, o olhar triste e doce, o rosto pálido, redondo, de bochechas coloradas, a seguir-me os passos. Sorri para ele e falei-lhe em galego, quer-se dizer, não me perguntem, mas notava-se que era galego.

―Gústache patinar?

Acenou afirmando, tímido, movendo um quasemente a cabeça.

―É divertido, non é?

Sorriu.

Eram horas e decidi que chegava de piruetas. Fui para a mota, o puto atrás de mim. Falamos. Perguntei-lhe se tinha patins. De duas rodas não, respondeu, daqueles outros.

―En liña?
―Iso.
―Xogas ao hóquei?

Sacudiu a cabeça, a olhar-me ainda, de fite, desde ali em baixo, frente a mim, os dedos roçando a mota.

―Tes que practicar moito para despois xogares ao hóquei. Vas ver que ben que se pasa.
―E vas montar na moto así cos patíns? ―atreveu-se-me a perguntar baixinho, case num murmúrio.

Ainda falamos um bocado, apareceu o irmão mais velho, mais loquaz também, muito diferente, morenote, forte, cabelos de ouriço-cacho, a tratar-me de "vostede". Perguntei-lhes de onde eram. De Pereira, respondeu o pequeno, como se Pereira fosse o centro do mundo, o centro do seu orgulho. Pereira? Ourense, esclareceu o mais velho. Ah, Pereira de Aguiar. Xiça, isso é longe. Pois é. E fazem aqui ainda o quê? Pus cara de gente que finge seriedade. Não têm escola amanhã?

Sacudiram os dois a cabeça. Estavam tristes. Não tinham escola. Fiquei sem saber porquê. Depois continuamos a falar de motas, de bicicletas, e os sorrisos voltaram. Apareceu a avó a chama-los para irem embora.

―Cóllenos aquí ―pediu o mais velho.

A avó chegou logo ao volante do carro.

―Espera máis un pouco ―voltou pedir o mais velho.
―Se estades á espera de verme saír a facer caballitos, ides dados. Nunca souben facer caballitos... nin na bici.

Sorriram com todos os dentes. Cavalinhos era coisa que eles sabiam fazer. Eu vai ser difícil que aprenda já, estando, como disse, no tecto "pital" da maralha pita, mesmo com a admiração ingénua e meiga dum puto de sete anos capaz de me ensinar.

domingo, 9 de maio de 2010

O parvo, se é anónimo, passa igualmente por parvo









A propósito desta embaraçosa questão, encontrei na casota do Rafeiro Perfumado um comentário que me permiti roubar e cujo autor ou autora não cito simplesmente porque aquilo é obra! (força de expressão) dum ser que se ampara na modéstia pudibunda do anonimato. É assim que nos mostra a luz no fim do túnel a mente privilegiada e esclarecedora:

Depende. Há casos provados em laboratórios de biologia de que a própria mulher pode ter um filho seu sem haver fecundação por parte de um espermatozóide. É um caso em cada mil milhões (óbvio que aproximado e exagerado) mas ocorre. Há uma interacção neurológica e a mulher quando está em ovulação, esse óvulo (oócito II) começa a desenvolver-se sem haver penetração e fecundação. Origina um ser humano (óbvio que cheio de problemas* genéticos pois contém um cariótipo reduzido e nem chega a sobreviver. Há casos que sobreviveu.

Perante tamanha evidência científica e pomposo domínio da gíria, impõe-se a interrogação retórica: o tal anónimo assinante não será fruto sobrevivente (óbvio que cheio de problemas genéticos e interacções neurológicas) duma dessas fecundações sem penetração nem espermatozóide que nos valha? Há casos, há, um cada dois mil dez anos, mais ou menos.

_______________
* Ignorava que ser preto pudesse ser entendido como problema, mas pronto, se a ciência o diz quem sou eu ―que deixei o curso de Biologia ao meio e nas aulas de Genética só fiz experimentos com moscas― para rebater nada?

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Medo meten algúns

Isto a Gaspar pásalle por non ser xouba ou simple chincho con ácidos graxos omega3. Se fose xouba ou chincho, aínda que non dese a medida, acababa no prato ben fritido acompañado duns pementos do padrón de Murcia. Pero o moi animal, que non é peixe -aínda que a impersona non asinante que perpetra a noticia e o titular así o xulgue-, ten ese tamaño por causa da xenética e non hai quen lle meta o dente. E para que serve un bicho que non se come nin sabe facer acrobacias nunha piscina?

Para a próxima, en lugar de darlle cunha changarallada dun remo, métanlle unha descarga de metralladora, a ver se aprende.

_________
Esqueci esclarecer: xoubas são sardinhas pequeninhas; chinchos, idem em versão carapauzitos.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Dilema perverso










Ía eu camiño da clase de patinaxe, polos auriculares os Coldplay duro e dalle co fix you, e eu pois, ala, veña, fix me, fix me, cando desde a outra beirarrúa chamou por min a Berta, que sempre anda á caza de leria xunto á cancela.

—Entón? Hoxe nin bici, nin moto, nin coche nin nada?
—Nada, hoxe toca a pé.
—Ouviste, que te ía facer eu unha pregunta, porque as mulleres que vivimos soas é o que temos. É que non sei se vaia logo á misa ou me meta na cama.
—Vai á misa, muller, vai á misa.

En que andaría eu pensando...?

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Leria

Agora decidín que vou escribir unha historia só de ideas. A idea disparatada é, pero non absurda, ollo, xurdiume mentres lía. Ler e escribir parecen actividades unidas mediante vasos comunicantes: parte do proxecto consiste, logo, como se ve, en empregar no texto frases superfluas.

A historia iníciase pois nunha lectura... interrumpida por unha muller con voz de galiña que cacarexa en pé sobre doenzas e médicos contra dúas atentas e sufridas interlocutoras sentadas nunha terraza, a mesma terraza na que estou eu sentada. Ai! E para iso sae unha da casa a tomar un cafeciño? Non me facía falla ningunha a min esa conversa (velaquí un exemplo de como reciclar escenas inservibles) e non obstante, deume que pensar: non haberá quen invente un sistema sen cables que conecte mentes, ao estilo da telapatía de toda a vida, pero con dispositivo tecnolóxico eficaz? Ósperas! Até parece que lle chegou a miña mala onda á señora sen necesidade de bluetooth, e iso que non lle dirixín unha mirada nin medianamente homicida. As persoas que falan moito, está científicamente comprobado, teñen así esas arroutadas: de súpeto dan media volta e cun adeus conciso deixan os interlocutores -que por un casual acababan de empezar a meter baza- coa palabra nos labios.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Chapada letal

Vá, hoje podem malhar em mim sem dó, que já nada me pode ferir...

Cena X
Na véspera. Exterior. Dia. Contra o fim da tarde. Jardim do Castelinho na Nova

Um casal acompanhado da filha, uma criança duns oito anitos, passeia calmamente pelo trilho. Aparece a Sun Iou Miou a patinar, feliz como uma minhoca em cio, grácil que nem abutre pairando sobre vaca moribunda, o mp3 nos ouvidos baixinho a sussurrar músicas lindas (em má hora não estava aquilo a rebentar os tímpanos!, pensou depois, mas já era tarde!), tudo, como já deve imaginar o leitor imaginativo, uma harmonia etérea a roçar os níveis do enjoo, que as pedrinhas traiçoeiras do caminho podiam interromper... Só?

—Cuidado ahí, que hay que dejar pasar a la gente —diz a mãe, pegando na miúda para me darem preferência de passagem.
—Sí, sí, claro, aquí es mellor apartarse, que pasan abuelitas en patines... —responde aquele estupor.

E justamente nesse instante foi como se aparecesse do nada a brigada de controlo da doença das vacas tolas do Ministério de Sanidade a buscar para incinerar o cadáver tão cobiçado, como se uma enxada caísse sobre a terra, húmida e fértil, truncando um sonho hermafrodito de acoplamento ventral em livre troca de espermatozóides, como se um vírus mortífero infectasse o mp3 com isto. Mais não digo.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Assombração

Será que infelizmente todo o mundo tem
uma árvore abatida no coração
ou que ambos pinheiros são o mesmo?
Também não é nada má a versão da história do Manoel Carlos.


Já antes de comprarem a moradia estava ali o pinheiro. Com os anos foi crescendo, engordando o tronco, espairecendo pelo chão as acículas e no ar o aroma da resina. Ninguém lhe sabia a idade: só que era velho e manso. Quando chegou a carta o dono da casa não acreditava. A denúncia da viúva desdentada que morava ao lado recebera sentença favorável e o pinheiro devia ser abatido porque lhe fazia sombra no jardim. Baixou ao garagem e pegou na motosserra. Colocou-se ao pé da árvore, circundou-a medindo os passos em volta, olhou para cima: na copa avistou um pisco que cantava. Saíu à rua e timbrou no portal da vizinha.

—Bom dia, minha senhora. Vai me ter de desculpar, mas está a fazer sombra na minha vida.

Entre o barulho do trânsito e o da máquina ninguém sentiu os gritos.

______________
Moral da estória: Até um cadáver ruim dá bom esterco.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Qué va a ser, caballero?

Pois, si, xa non bastaba isto de asumir que unha xa non é unha rapariga, que a traten de vostede e incluso de señora. Tampouco son desas ás que cando alguén trata de "vostede" se defende cun non-por-favor-atúame, porque despois do choque inicial, ese que senta coma unha patada no cu, non queda outra que asumila e sempre lembro que cando tiña vinte anos, os de trinta (criaturiñas eles que me parecen agora), parecíanme anciáns decrépitos ao bordo da xubilación e agora até os sesentóns ao bordo da xubilación me parecen mozos.
Resumindo, que teño que máis que facer. Fun á Moinobreemoileal, por causas de choio, e como estaba na hora do café de despois do xantar, parei para tomar un, que sempre son dous, nun local que me dixeran que aínda estando da beira de acá facía café como se estivese da beira de alá. Total que aparco a moto á porta -non son unha incivilizada, non estorbaba-, entro co meu casco na man, a chupa posta, a mochila ao ombro, o meu metro e medio con todo o que ten que ter un corpo de muller, sen máis nin menos... e saúdo. O camareiro que anda a fedellar, arrombando non sei o que, responde case sen levantar a cabeza. Collo un xornal, e vou para a barra (son rapariga de barra... en fin, rapariga, quen me dera!, unha forma de falar). Entón achégase para me atender e cando vén a virar a curva dime, todo cheo el:
-Qué va a ser, caballero?
-Posme un café, por favor -E arrisquei medio sorriso, por non largar unha gargallada.
A cara do fulano, claro, até me deu pena, coitado, do que desinflou de golpe e sen terra que o tragase. Foi para a máquina e xa, sendo que parecía que era muller, seguíu porfiando nos roles establecidos, non fora ser o demo:
-Con leche? -case afirmando, coma con medio signo de interrogación se o houbese.
-Non, só, só -respondín, que unha con leite... só outras cousas.
Entón xa pasou a atuarme, pediume perdón pola confusión todo azorado, e aínda rimos un pouco.

Cando marchei, até me deu a impresión de que lamentaba bastante que non fose caballero, mira ti, e pudese chegar a ser algo máis ca café só.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Cena no jardim

É de tardinha, quase no lusco-fusco. Já estamos no outono, imaginem, que lindo, as folhas dos choupos a pintar de castanhos e amarelos o verde da relva. Os adolescentes estão no banco, ali juntinhos, a tentar aproximações. Num momento dado -talvez o ambiente aqueceu?-, o rapaz levanta-se, despe o casaco, incha o peito. Então tempera a garganta e larga o pigarro com prumo, feito homem.

Senta novamente e achega-se à moça, que se deixa beijar. Ah, l'amour. Fogo!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Pais e filhos

Como hoje foi o regresso ás aulas aí da outra margem, lembrei-me desta cena que me comoveu a semana passada em Lisboa:

Um puto duns quatro anos —talvez menos, não sei calcular—, os olhos brilhantes e o sorriso mais lindo e feliz que já vi, atravessa a rua de braços abertos ao encontro do pai:

—Pai, ó pai! Vais-me levar à escola?!

O pai não responde, está sério e triste. Não acaricia sequer o pequeno. Fala com a mãe, têm o aspecto de divorciados a resolver questões de ordem prática...

E esta outra vivi-a no sábado na margem do Minho:

Chegam de lancha ao snack-bar da praia um casal e duas crianças. A mãe pede dois cachorros com batata para as crianças e mais dois cachorros especiais para eles, onde "especial", feitas as aclarações pertinentes, significa com molho francês, sem batata! Como demora um pouco, o normal, o pai diz ao filho umas quantas vezes para ir lá dentro da cozinha espreitar. Felizmente o miúdo é tímido ou tem mais juízo do que o pai e não vai. Chegam primeiro os dois com batata. O pai, sem dizer ai, pega num. A mais pequena chora —na verdade, já levava tempo a chorar, eram 3:30 (HP) e ainda não almoçara, 'tadita, mas agora com máis força. O pai leva-o à boca pronto a meter os dentes. Perante os choros a mãe diz: Para aí! Pergunta de más maneiras ao empregado:

—Isto é cachorro com batata?

Ele não percebe nada. É evidente que aquilo é cachorro com batata: tem salsicha, tem pão, tem batata. O pai mete o cachorro na boca. A pequena chora. O mais velho protesta. A mãe insiste:

—Mas não é cachorro especial? —insiste num tom de voz desagradável e arrogante que atrapalha o moço.
—Olhem, os senhores pediram à minha colega. Eu não sei. Eu vou lá dentro ver que se passou.

Evidentemente pensa que houve engano. Mas é só o egoísmo dum pai, que pega na merda do cachorro, com batata ou sem batata, antes de lho ceder aos filhos.

Não é que a mim me interessasse nada daquilo, mas estava a esplanada praticamente vazia e tiveram de sentar ao meu lado, até que depois disto, acabei a minha Pedras, peguei no Os da minha rua do Ondjaki que estava a tentar ler em vão, com aquela gritaria constante, e fui sentar baixo uma árvore. A paz do mundo.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Bronzeado






Mobiliário urbano
Urbanita imóvel

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Embora










São quatro casais de mediana idade ao cair da tarde numa esplanada: as quatro mulheres juntas, os quatro homens em frente. Chegada a hora de partirem, as parelhas recompõem-se. Um dos casais sai de mãos dadas em silêncio; no outro, mulher e homem caminham lado a lado falando-se. Separados dos anteriores os restantes dois homens dirigem-se aos carros conversando, gesticulando, a mulher dum deles atrás. Resta ainda uma mulher que se demora, só, o passo lento, a mirada volta ao rio... Será que não tem vontade de regressar à casa?

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Disuasión política

Non, non é que o meu veciño estea a facer declaración de independencia. Dou fe de que non van por aí as súas tendencias. Só pretende, creo, axotar os melros da cereixeira. Que mecanismos perversos actuarán na súa mente para el crer que unha bandeira do BNG e un farrapo vermello poden disuadir os paxaros de lle petiscaren nas cereixas? Sairalle o conto coma aquela vez que lles puxo a radio de noite aos xabaríns para non lle fozaren na millaxe e aos dous días os animaliños xa tiñan lá o botellón montado? En todo caso, parece porfiar en non recorrer á violencia, o cal sempre é de agradecer.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Concurso de traslado de cadáveres

Os das pompas fúnebres están de folga contra a Consellería da Presidencia da Xunta, que quere montar un concurso de traslado de cadáveres. Como será o raio do concurso? Con azafatas a levar a contabilidade e o que sexa capaz de trasladar máis cadáveres en menos tempo leva o premio gordo? Non lle vexo o escándalo ao das autopsias dos cadáveres corruptos nas mesmas instalacións nas que se velan os cadáveres incorruptos. Até o podía emitir en directo algunha televisión en plan coma a vida mesma, total, xa estamos afeitos ás dos ceseís.
Se o sei antes, plántome esta mañá en Santiago para ver a manifa, desde fóra dos coches, claro, que dentro non me quero nin ver, e ademais penso que se fose dentro tampouco me vería nin vería a manifa nin nada e non polos vidros tintados que levan precisamente.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Ana

Fun a QuilometroCero para testemuñar a entrega á miña irmá e ao presunto da concesión por un período mínimo de dezaoito anos prorrogables dun modelo básico de última xeración cos gastos de actualizacións diarias non incluídos no paquete e sen manual de instrucións por tratarse dun trebello de reaccións imprevisibles, que debe ser manexado de modo intuitivo e racional. Tras unha revisión exhaustiva por parte de técnicos especializados de confianza, os encargados do mantemento e custodia recibiron, xunto cun cheque por valor de 2500 €, o certificado que acredita o perfecto estado de todos os elementos de serie que o integran.
Aproveitade a vela ao natural, que de aquí a nada empezan a pórlle extras e a tuneala.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Larica non é fome

Entrei na tasca a tomar un petisco para facer tempo antes de ir a unha clase de chinés á que ao final non fun conste que intención tiña, mesmo que ao final o sono e a vergoña de quedar frita e escachar a testa co golpe contra o pupitre, que somos cinco, puidese máis. Ao meu lado estaban dous guichos tirando a vellos, tirando a borrachos, tirando a desherdados... Falaban de baixo ao primeiro, pero era tan recorrente a frase que un deles repetía, que acabaron por me arrincar da lectura con que disimulaba o transo de comer máis con necesidade ca apetito.

Ti o que tes que facer é buscar unha muller maior dicía o que parecía menos ebrio dos dous.
Home non! Pensas que vou buscar unha rapariga? Eu quero unha de trinta e dous.
Estás parvo! ¿De trinta o que? Unha desas cómeche a vida, déixate sen nada. Tes que buscar unha de sesenta.
Si ho!
Lévacho todo, quedas sen nada. Unha de sesenta ou ou... e sacudía a man para arribates que buscar cortou, separándose do colega e saíndo sen despedirse.

Mentres esgurrichaba a cunca, o cata matinaba no consello, abaneando a cabeza, derrotado.

Eu, por unha vez, continuei a ler tranquila. Nin por arriba nin por abaixo entraba nos parámetros. Non había perigo de que me fixese as beiras.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Detesto os amorodos!

Hai conxuncións fatídicas que me fan ferver o sangue. Unha delas é a coincidencia temporal de eleccións e a chegada aos mercados dos primeiros amorodos (morangos, tugas). Explícome.
Como algún outro por aí eu tamén teño un pauto cos espellos (eu non miro para eles, eles não me devolven a mirada), de maneira que nunca penso na miña idade, o cal tampouco quere dicir que a negue, simplemente non me preocupa, fago o que me permite o corpo, que é case todo o que facía cando tiña vinte anos.
Dito isto, como os mais dos amigos do meu tempo están tan felizmente casados e prefiren emborrachar-se na casa, para evitar os controis de alcoholemia, cando quero saír teño que botar man dos trintóns, que me revitalizan sempre porque aínda soñan espertos e non van polo mundo coa cella do cinismo levantada.
Entre estes está un dos J (que vou ter que pensar en numeralos e, por que non?, montar un grupo de coros e danzas con eles) ao que cando vivía aí da outra beira do río lle fixen de choferesa en infinitas ocasións e daquela non había ponte aínda... non me quero acordar.
Foi a cousa que o rapaz tiña que votar por correo e pediume para o levar á oficina de Pombalnoseixo a facer a papelada. Como negarllo, con ese sorriso que ten que engaiola as vellas? Alá fomos. Cadrou que había feira, porque era mércores, coma hoxe, outro elemento para a conxunción fatídica que non axuda nada a escorrentar o mal que me sentou o café desta mañá. O J, que é antolladizo, viu uns amorodos e quixo. Achegámonos ao posto, pediu e tirou un billete de cincuenta euritos para pagar o quilo da merda aquela. A señora (putaqueapariu) preguntoulle se non tiña troco, de onde se deduce que ou carecía de luces ou sobráballe mala hostia, porque se o outro tivese troco, non quitaba o billete de cincuenta, digo eu, vamos. Entón, dixen, deixa, ho, que xa cho pago eu, xa mo darás... E pagueille á señora (putaqueapariu). O J, cabezudiño como é, insistía en pagar co seu billete, que nin que lle deran corda, ao que a señora (putaqueapariu) espetoulle (en realidade foi a min a quen lla espetou):
-Deixa, neno, que xa pagou túa nai... -putaqueapariu!
Non, non quedou aí a cousa. O J, mordendo os labios para tragar a gargallada, intentou arrincarme a faca que tiña chantada no peito, ignorante do contraproducente que iso é, e retrucou:
-Que non é miña nai!
-Bueno, bueno, o que sexa -dixo a señora (putaqueapariu) coma quen di, como se a túa amante ou a túa avoa...

Porque aquel día aínda non coñecía ao Rei da Lã, se non, pídolle a bota e arrebéntolle co posto todo.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Palabra e voz e rostro

Agora non sabería dicir cando entrei no seu blog por primeira vez, apenas sei que fun recuncando. Imaxino que é o proceso habitual: picar no nome que aparece nos comentarios propios ou alleos, picar na ligazón de blogs recomendados nun blog que che gusta... De moitos saio escopeteada sen pousar o pé, nalgúns vou tenteando a temperatura da auga, noutros mergullo a pulmón e instálome nun recanto da caixa de comentarios.
Onte púxenlle cara e voz á palabra e gañou puntos. E o seu libro, que estaba para aí na lista de espera da mesa de noite (que igual en calquera momento abate e me sepulta) pasou a ocupar o primeiro lugar. Prometo regurxitalo en breve.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Martes de Entroido ao mediodía

Acordáballe a primeira vez que sentiu nos labios —firmemente fechados en actitude defensiva— aquela delicada suavidade, lixeiramente salgada, ofrecéndoselle tras un recendo penetrante, que ao sacudir nas ventas unha conexión directa ás profundidades do hipotálamo, deu en vencer a súa resistencia. Soubo entón o que era o pracer prohibido. Intuíndo os remorsos, medio avergoñado, preparouse para consumar a repetición daquel ritual orxiástico entre diabólico e divino. Porco amore! Perdíao o touciño.