sexta-feira, 29 de maio de 2009

Tantas miradas / Tantos olhares










Sei que os meus olhos tinham uma mágoa tão grande como a manhã, uma mágoa invisível, num instante em que o invisível era a única coisa que se podia ver.

A filha da cozinheira em Nenhum olhar do José Luís Peixoto


Era o ceo a apagarse enriba iluminando o rio embaixo. En min era o lusco-fusco contra o que lidaba por aprehender nas derradeiras páxinas o final da historia. O final que foi final mesmo, onde o mundo acaba. E así foise extinguindo como a luz a melodía pola que até entón planara eu, incorporada en todos os personaxes, sendo tremor ante o sorriso do demo como o José pai e inocencia en Salomão; remorso que pesa da viúva que foi antes muller do José e nai do José fillo, o que dixo vou e non foi porque lle dixeron non vas; as mans que ven da prostituta cega e que no mestre Rafael foron primeiro ledicia e despois loito convertido en labras incendiadas; a tristura da cadela vellísima e a sabedoría dos anos infinitos do Gabriel; alimento esculpido polo espírito da cociñeira e paciencia na filla dela, sempre á espera, figura amasada tamén; e os dedos maimiños dos irmáns Elias e Moisés, que máis ca corpos unían sangue.

Era o céu a apagar-se acima iluminando o rio abaixo. Em mim era o lusco-fusco contra o que brigava por apreender nas derradeiras páginas o final da história. O final que era final mesmo, onde o mundo acaba. E assim foi-se extinguindo como a luz a melodia pela que até então pairara eu, incorporada em todas as personagens, sendo tremor ante o sorriso do diabo como o José pai e inocência em Salomão, seu sobrinho; remorso que pesa da viúva que foi antes mulher do José e mãe do José filho, o que disse vou e não foi porque lhe disseram não vais; as mãos que vêem da prostituta cega e que no mestre Rafael foram primeiro alegria e depois luto convertido em maravalhas incendiadas; a tristeza da cadela velhíssima e a sabedoria dos anos infinitos do Gabriel; alimento esculpido pelo espírito da cozinheira e paciência na filha dela, sempre à espera, figura amassada também; e os dedos mindinhos dos irmãos Elias e Moisés, que mais que corpos uniam sangue.

Polos ollos deles observei as paisaxes, as sensacións, as vidas e as mortes, con pinceladas de prodixio sobrenatural, mentres ao fondo se sentía baixiño o riscar da pluma contra o papel do home que está fechado nun cuarto sen ventás a escribir.

Pelos olhos deles observei as paisagens, as sensações, as vidas e as mortes, com toques de prodígio sobrenatural, enquanto ao fundo se ouvia baixinho o riscar da pena contra o papel do homem que está fechado num quarto sem janelas a escrever.

domingo, 17 de maio de 2009

Cidade, a cidade (a tarde)













Chega a hora do almoço e entro decidida a comer a francesinha comprometida (não, ainda não virei lésbica, haja calma!), mas no último momento recuo ante uns carapauzinhos com arroz de feijão, que pressinto mais ligeiros para vencer a soneca que me ataca sempre no post prandium. Um café e deixo-me embalar no Cais pelo sol morno e o vibrar dos motores sobre a ponte que apaga as vozes dos turistas coloridos e o fluir do rio, enquanto vai avançando a tarde à espera do sms que me avise de que a mota está pronta (não disse, mas a razão primeira da visita foi a revisão dos 50.000 e os rodamentos da direcção que me tinham numa dança pouco elegante).
Já sobre rodas dirijo-me a cumprir o plano para a noitinha: um filme que tinha interesse em ver desde há tempo e que felizmente continua em exibição. E eu ignorando que a cidade, não contenta em me desenhar sorrisos, está para me arrancar uma quase gargalhada, quando ao tirar o bilhete, a funcionária me pergunta:

—É estudante?

Pronto, eu sei que me falta uma fervura, que não consegui superar a adolescência, que ainda não troquei o stick de hóquei pela bengala e que tenho aspecto de rapaz vadio se vista de longe e com miopia, mas quando disse:

—Boa tarde. Um para a sala quatro, faça favor.

...as minhas rugas estavam a cinquenta centímetros dos olhos dela. Devi responder que sim, que sou estudante, aprendiz eterna, mas sendo que vou por livre e não tendo documento oficial que o justifique, se os factos davam direito a regalias, também queria desconto. Porém, só consegui mostrar a dentadura, e já aproveitei o esforço deixando-a em boa disposição para o filme, terno, canalha e simpático, em italiano de Roma em pleno Agosto (É caldo… É, é caldo, é Agosto...), que parece falado sem fôlegos de tanto arrastar a pronúncia. Belo não, belíssssssimo…

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(Vá, não me desiludam dizendo agora que a assistência aos cursos das Novas Oportunidades dá direito a carta de estudante e que também há reformados matriculados na universidade. Deixem cá a gente sonhar! E sorrir.)

sábado, 16 de maio de 2009

Cidade, a cidade (a mañá)










Vendo hoxe as follas dos arces xaponeses a se estremeceren coas pingas de mormallo acumulado que se desprende das pólas máis altas, desatando arreguizos vexetais de frío no pescozo, e tanta mansedume cincenta, ninguén diría que onte foi un paréntese de luz na única cidade en que as persoas me sorrín —ou son eu que me espello nos seus rostros coma nun eco?— nin me expulsa o estertor dos seus pulmóns decrépitos nun rouco constante alento de vida.

Dicir o nome dela é moito camiñar, sempre recunchos novos e mais os recunchos vellos de sempre, as ruínas que choran beleza a pedir socorro; é dicir xornal e café e torradas e calma, moita calma; é dicir café e cofres de tesouros que encontro nas librerías e que abro deixando que me ceguen iluminada, como agora que me encontro cara a cara con quen noutrora me agasallou poemas a me ofrecer prosa, prosa coma aquela de cando din nas Carrouchas:

—Ai, é que tes unha prosa...

E están querendo dicir que tes leria de poeta que engaiola. E quedo tan apampada a ler, que é como navegar polas liñas cun vento suave que máis ca empurrar, agarima e sustenta, convertida en folla de amieiro que por un instante se sonha asa de bolboreta. Ou como cando me sorprende nun escaparate un morto de segunda man, de tanto peso, a prezo de crise existencial, que non o podo crer e frego os ollos, porque aínda renunciara pasos atrás a el, e hai días que só por iso xa mereceron tanto ser días, e pódense celebrar con mais un café e unha Pedras, entón?, coxeguiñas na gorxa, para brindar en solitario.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Un nome de nada / Um nome de nada

Por dicilo dalgunha maneira non naceu, máis ben foi expulsado á vida cando aínda nin vida era, un envurulho de células latexantes de pouco futuro e escaso pasado. Por asignalo a unha sección, metérono en neo-natos —iso si, nun aparte—, que crear unha exclusiva para despexados do mundo era gasto oneroso en época de depresión económica e emocional. Así que alí o estaba, ou quizá deba dicir, alí o tiñan, aniñado, oculto por un biombo aos prantos dos que aínda non aprenderon a sorrir á mirada apampada dos pais babados e a chocheira dos avós.

Por dize-lo dalguma maneira não nasceu, antes foi expulso à vida quando ainda nem vida era, um embrulho de células latejantes de pouco futuro e escasso passado. Por assigna-lo a uma secção, meteram-o em neonatos —todavia, separado do resto—, pois criar um exclusiva para despejados do mundo era gasto oneroso em época de depressão económica e emocional. De modo que lá estava, ou quiçá deva dizer, lá o tinham, aninhado, oculto por um biombo aos prantos dos que ainda não aprenderam a sorrir à mirada pasmada dos pais babados e à doidice dos avós.

Da chocheira dos avós, diso ía o conto. Coa nai atordada pola traxedia, o pai deambulando polos corredores do hospital á procura dun recuncho onde abafar a magoa no fume dun cigarro, a avoa saíu do cuarto 358 esquivando risas alleas, ramos de flores con pernas, abrazos doutros, repenicar de bicos, seguíu as flechas e baixou lentamente as escaleiras.

—Ao fondo á esquerda —respondeulle amable un celador que empurraba suave a cadeira de rodas en que unha velliña translúcida sorría porque a radiografía que lle acababan de facer non lle doera nada, o que se di nada.

Da doidice dos avós, disso tratava o conto. Estando a mãe atarantada pela tragédia, o pai a deambular pelos corredores do hospital à procura dum canto onde abafar a mágoa no fume dum cigarro, a avó saiu do quarto 358 contornando risos alheios, ramos de flores com pernas, abraços doutros, repenicar de beijos, seguiu as flechas e desceu lentamente a escada.

—No fundo à esquerda —respondeu-lhe amável um auxiliar que empurrava suave a cadeira de rodas em que uma velhinha translúcida sorria porque a radiografia que lhe acabaram de fazer não lhe doera nada, o que é nada.

A avoa petou na porta e abriuna devagar, devagariño, para non os espertar, criaturas, todos tan durmidos, seica comeran xa. Foinos contemplando un por un, tratando de adiviñalo, a través do vidro, todos tan colocados, coma pintados nun lenzo enmarcado, tan pouca cousa e tanto.

—Cal é o meu? —preguntoulle á enfermeira.
—O seu? A nai como se chama?
—Marisa, digo, María Luísa, María Luísa Pereira Souto. É miña filla a nai —gabouse, e no peito collíalle un globo terráqueo dos grandes.

A avó bateu na porta e abriu-a devagar, devagarinho, para não os acordar, criaturas, todos tão dormidos, com certeza comeram já. Foi-os contemplando um por um, tentando adivinha-lo, através do vidro, todos tão colocados, como pintados num lenço emoldurado, tão pouca coisa e tanto.

—Qual é o meu? —perguntou à enfermeira.
—O seu? A mãe chama-se como?
—Marisa, digo, Maria Luísa, Maria Luísa Pereira Souto. É minha filha a mãe —gabou-se, e no peito cabia-lhe um globo terrestre dos grandes.

A enfermeira palideceu e por un segundo fundiuse contra a parede branca co seu corpo uniformado.

—O seu, é que o seu non está aí, non pode estar aí, que é un case nada.
—Eu queríao ver, que nada que sexa, é un nada de meu.
—Non queira, muller, que non é para ver o que fere na alma con agullas que non cicatrizan.
—Entón é así tan certo que non vai dar en nada?
—Xa nin agora é nada... en fin, case nada.
—Pois antes do... —e abaixou a cabeza para murmurar— antes do pasamento vai haber que bautizalo. Non lle ha facer mal a auga a quen nin ten esperanza.

A enfermeira empalideceu e por um segundo fundiu-se contra a parede branca com o seu corpo uniformado.

—O seu, é que o seu não está aí, não pode estar aí, que é um quase nada.
—Eu queria-o ver, que nada que for, é um nada meu.
—Não queira, mulher, que não é para ver o que fere na alma com agulhas que não cicatrizam.
—Então é assim tão certo que não vai dar em nada?
—Já nem agora é nada... enfim, quase nada.
—Pois antes do... —e abaixou a cabeça para sussurrar— antes do passamento era preciso baptiza-lo. Não lhe pode fazer mal a água a quem nem tem esperança.


—Don Máximo, que é que hai unha avoa en neo-natos, que quere bautizar o neto, o que naceu para non ser nada ao final.
—E chámasme para iso? Non terei máis que facer que andar a bautizar un quiñón de masa que non ten nin cara para recibir as augas.
—É que teño pena da avoa, coitada. Que lle custaba? É un bauticeiro de nada.
—Que me custaba? Que me custaba? Bautízao ti se tes tanta pena, que eu estou para salvar almas, non para panxemicadas. Teño que ir ouvir unha confesión á sexta e dar unha extremaunción na cuarta. E xa non sei se chego.

—Padre Máximo, que é que está cá uma avó em neonatos, que quer baptizar o neto, o que nasceu para não ser nada afinal.
—E chama-me para isso? Então a gente não tem mais para fazer que baptizar um bolo de massa que não tem nem cara para receber as águas?
—É que tenho pena da avó, coitada. Custava-lhe o quê? É um baptizado de nada.
—O que me custava? O que me custava? Baptize-o você se tem tanta pena, que eu estou para salvar almas, não para bobagens. Tenho de ir ouvir uma confissão ao sexto andar e dar uma extrema-unção no quarto. E já nem sei se vou chegar.


—Que di don Máximo, o capelán do hospital, que non pode vir, que llo bautice eu, que teño potestade. Pero vostede agarde aí, ouviu? É mellor. Mire de lonxe, se quere.

A enfermeira verteu dun envase de soro fisiolóxico, solución salina ao 5%, un chorriño na tapa vermella dun bote para análises de ouriños esterilizado, a falta da cuncha. Polo vidro a avoa observábaa a deitar sobre un vulto coma penuxe de leve —imaxinaba— a auga, a facer cruces seguido, todas cantas lembraba dos domingos da infancia.

—Xa está. Xa está bautizado.
—Deus llo pague, miña filla —agradeceu a avoa.
—Non foi na... —respondeu a enfermeira trincando na lingua a palabra antes de que se lle malograse a intención.

—Que diz o padre Máximo, o capelão do hospital, que não pode vir, pediu para o baptizar eu, que tenho potestades. Mas a senhora aguarde aí, ouviu? É melhor. Olhe de longe, se quiser.

A enfermeira verteu dum frasco de soro fisiológico, solução salina ao 5%, um esguicho na tampa vermelha dum vaso para análises de urina esterilizado, à falta da concha. Pelo vidro a avó observava-a a deitar sobre um vulto coma penugem de leve —imaginava— a água, a fazer cruzes seguido, todas quantas lembrava dos domingos da infância.

—Pronto. Já está baptizado.
—Deus lho pague, minha filha —agradeceu a avó.
—Não foi na... —respondeu a enfermeira mordendo na língua a palavra antes de se lhe malograr a intenção.

A avoa enfiou cara á porta, a enfermeira cara ao fondo da sala, onde un rabechas estaba na hora do refrán do que non chora non mama.

—E mire, que me esqueceu preguntar —acordou aínda a avoa desde a porta—. Como lle puxo de nome?

A avó enfiou em direcção à porta, a enfermeira ao fundo da sala, onde um pirracinhas estava na hora do ditado de quem não chora não mama.

—E ouviu, que esqueci perguntar —lembrou ainda a avó desde a porta—. Como lhe chamou?

Nada, decatouse a enfermeira, non lle puxera nada, entre as cruces e o raio da tapa coa solución salina despistáraselle o esencial, o que mesmo dá ser á nada.

—Xoán púxenlle —mentiu creando un universo.
—Xoán… É bonito, Xoán. Xoán, meu pequerrecho, meu queridiño, heiche de tecer un cesto de vimbio para ires ás troitas no regueiro das Pontellas, aí é nada.

Nada, deu-se conta a enfermeira, não lhe chamara nada, entre as cruzes e o catano da tampa com a solução salina esquecera-lhe o essencial, o que mesmo dá ser à nada.

—João chamei —mentiu criando um universo.
—João… É lindo, João. João, meu pequerrucho, meu queridinho, vou-te tecer um cesto de vimes para ires às trutas ao ribeiro das Pontelhas, aí é nada.

Acabei!










Ai, que ganiña de botar uns foguetes...

segunda-feira, 11 de maio de 2009

"Miss Pernas Bonitas"

Porque é de xustiza ouvir sempre a cara B...
Porque é de justiza ouvir sempre a cara B...

Chámome María, aínda que el porfiase en chamarme Dolores. Concidiramos a miúdo no ascensor. Máis dunha vez desexei que me arrincase a roupa alí mesmo, e polas miradas que me lanzaba crendo que eu non reparaba, a súa imaxinación debía de vagar por camiños similares, de entre os tres posibles. Tampouco é que fose un casanova, pero tiña o seu atractivo, as cousas como son. Porén, a timidez del —que nunca pasou do saúdo preceptivo cada vez que nos atopabamos—, se ben acentuaba o efecto sedutor, minguaba as probabilidades de que aquelas faíscas prendesen un incendio. Por iso cando a Nadia me comentou que o coñecía e que se quería nos presentaba, acepteille a proposta decontado.

Chamo-me Maria, ainda que ele teimasse em me chamar Dolores. Encontravamo-nos mos com frequência no elevador. Bem vezes desejei que me arrancasse a roupa ali mesmo, e pelas olhadas que me lançava julgando que eu não reparava, a sua imaginação devia vagar por caminhos similares, de entre os três possíveis. Também não era um casanova, mas tinha alguma coisa de atraente, de facto. Porém, a timidez dele —que nunca ultrapassou as saudações preceptivas cada vez que nos encontrávamos—, todavia acentuando o efeito sedutor, minguava as probabilidades de que aquelas faíscas ateassem um incêndio. De maneira que quando a Nádia me comentou que o conhecia e que se quiser nos apresentava, aceitei-lhe a sugestão imediatamente.

Tendemos a emboscada, que máis ou menos xa lle tiña controladas as entradas e saídas, e aínda que a primeira tarde —era mércores— fallou, ao día seguinte entraba ás sete e media, como un reloxo, no vestíbulo, onde a Nádia eu estabamos de leria demorando a despedida. Finxidos xestos de sorpresa pola parte da miña amiga (Anda! Manoel Carlos, meu rei! E ti por aquí? Ai, vives neste edificio? Nin idea! Sodes veciños, logo? A María coñécela entón? Home, por favor! Non me digas que non a coñeces? Non dou creto!), troca de bicos e miradas cumpriron o obxectivo previsto: quedamos para tomar unha copa ese mesmo sábado na casa del.

Montamos a armadilha, que mais ou menos já lhe tinha controladas as entradas e saídas, e ainda que na primeira tarde —era Quarta— falhou, no dia seguinte entrava às sete e meia, com pontualidade britânica, no vestíbulo, onde a Nádia e eu falávamos à toa demorando a despedida. Fingidos gestos de surpresa da parte da minha amiga (Então? Ó Manoel Carlos, querido! Você por aqui? Ai, mora cá no prédio? Não fazia ideia! São vizinhos, logo. Conhece a Maria com certeza? Ora essa! Não me diga que não conhece? Não acredito!), troca de beijos e olhares cumpriram o objectivo previsto: combinamos para beber um copo esse mesmo Sábado na casa dele.

Media hora máis tarde do acordado chamei no timbre —malia que non se puidese xustificar o atraso en embotellamentos de tráfico, pois só dous pisos nos separaban e en baixada ao meu favor. Entretivérame en escoller a saia que máis me realzase as pernas. Sabía que eran a mellor arma de que dispuña, non en balde os compañeiros me alcumaran “Miss Pernas Bonitas” na miña época de azafata e nelas o tempo non se asañara en exceso. Xa a punto de fechar a porta lembrei que non puxera perfume e volvín entrar. Cos nervios, vertín medio frasco no pescozo, e de nada serviu abanar as mans, que desprendía un recendo anestesiante: ben se notou cando me abriu, que vin como afincaba contra a parede, evitando caer desmaiado, os ollos chorosos.

Meia hora após o acordado toquei a campaínha —embora não se pudesse justificar o atraso em engarrafamentos de trânsito, pois só dois andares nos separavam e em descida ao meu favor. Entretivera-me em escolher a saia que mais me realçasse as pernas. Sabia que eram a melhor arma de que dispunha, pois não fora em vão que os colegas me alcunharam de “Miss Pernas Bonitas” na minha época de hospedeira e o tempo não as maltratara em demasia. Já prestes a fechar a porta lembrei que não pusera perfume e voltei a entrar. Com a excitação, entornei meio frasco pelo pescoço, e não adiantou abanar as mãos, que desprendia um aroma anestesiante: bem se notou quando me abriu, que vi como encostava à parede, evitando cair desmaiado, os olhos a lacrimejarem.

Convidoume a sentar no sofá mentres me servía un malte en copa, acompañado dun vaso de auga xeada. El serviuse outro, con xeo en vaso baixo, e acomodouse nunha butaca a unha distancia discreta. Eu cruzaba e descruzaba as pernas, tratando de atrapar a atención del, e non tardou en gabarmas cun brillo pícaro nos ollos, ou se cadra é que aínda lle proían por causa do perfume. Aí xa foi subindo de ton a conversa e como ambos sabiamos a que estabamos, logo me declarou as súas intencións nun españolés coxo que o meu portuñol manco compensou:

—Mi gustaría hacer amor con usted...
—A min tambén me gostaria...

Convidou-me a sentar no sofá enquanto me servia um malte em taça, acompanhado dum copo de água gelada. Ele serviu-se outro, com gelo em copo baixo, e acomodou-se num cadeirão a uma distância discreta. Eu cruzava e descruzava as pernas, tentando prender a atenção dele, e não tardou em mas gabar com um brilho maroto nos olhos, ou se calhar foi que ainda lhe ardiam por causa do perfume. Aí já foi esquentando a conversa e como ambos sabíamos o fim alvejado, logo me declarou as suas intenções num espanholês coxo que o meu portunhol maneta compensou:

—Mi gustaría hacer amor con usted...
—A mim também me gostaría...

Sen máis cerimonia, fomos para o cuarto. Co propósito de lle aumentar a ansia que se evidenciaba na respiración arfante, pretextei un baño de escuma no que mergullei ata o pescozo nun intento van de diluír o perfume, non se me fose marear no mellor.

Sem mais cerimónia, fomos para o quarto. No intuito de lhe acrescentar a ânsia que se patenteava na respiração ofegante, pretextei um banho de espuma em que mergulhei até o pescoço numa tentativa inútil de diluir o perfume, não me fosse ficar tonto no melhor.

Cando saín, Venus exultante, en coiro puro, da impresión que lle causei quedou apampado. De súpeto, nunha arroutada que sinceramente non agardaba, chimpoume na cama. Mentres apagaba a luz cunha man, coa outra baixou a cremalleira (ese invento do demo que permite espir os pantalóns nun visto e non visto!), aguillooume en seco, ceibou un xemido brevísimo e estremeceuse.

Quando saí, Vénus exultante, em pêlo puro, da impressão que lhe causei ficou apalermado. De repente, num estalo que sinceramente não esperava, arremessou-me contra a cama. Enquanto apagava a luz com uma mão, a outra abria o fecho-relâmpago (esse invento do diabo que permite despir as calças à velocidade dum idem!), alanceou-me em seco, soltou um gemido brevíssimo e estremeceu-se.

Deitado na padiola da ambulancia, o seu rostro era a viva imaxe (non é ironía, senón frase feita) do soldado que regresa derrotado dunha guerra que non era súa. Saiban só que desde esa noite nunca mais usei perfume.

Deitado na maca da ambulância, o seu rosto era a viva imagem (não é ironia, mas frase feita) do soldado que regressa derrotado duma guerra que não era sua. Fiquem sabendo que desde essa noite nunca mais usei perfume.

domingo, 10 de maio de 2009

Pontes











Sábado baixei á Foz do Lima coa única intención de sentar ao sol nunha terraza e ler, ler ata que me doesen os ollos, ler e seguir lendo a novela que non dou acabado e xa non sei se quero acabar... só porque non quero que acabe.

No sábado desci à Foz do Lima com a única intenção de sentar ao sol numa esplanada e ler, ler até me doerem os olhos, ler e seguir lendo o romance que não consigo acabar e já não sei se quero acabar... só porque não quero que acabe.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Lateralidade, aritmética e pitos / Lateralidade, aritmética e pintos










Os que me coñecen saben que non distingo dereitas de esquerdas, senón por aquís e por alís. E velaí por onde descubro que a miña eiva para o cálculo mental vén dependida do meu problema de lateralidade. Como vou saber sumar ou restar, se non sei nunca para que lado teño que mirar cando realizo a operación?

Quem me conhece sabe que não distingo direitas de esquerdas, mas por aquis e por alis. E eis por onde descobro que a minha incapacidade para o cálculo mental é consequência do meu problema de lateralidade. Como vou saber sumar ou restar, se não sei nunca para que lado tenho de olhar quando realizo a operação?

De todas maneiras, xa non me creo menos intelixente por non dominar os números. Porque se ao feito de que escaravellos e abellas saiban contar lle sumamos (ou restamos?) que os pitos —de apenas cinco días de idade!— son capaces de sumar... non me resta (ou suma?) máis ca concluír que a aritmética é cousa de mentes simples.

De toda a maneira, já não me considero menos inteligente por não dominar os números. Porque se ao facto de que escaravelhos e abelhas saibam contar sumamos (ou restamos?) que os pintos —de apenas cinco dias de idade!— são capazes de sumar... não me resta (ou suma?) mais que concluir que a aritmética é coisa de mentes simples.

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Se os pitos saben sumar, aí a parella da fotografía coma pouco debe saber facer raíces cuadradas...

Se os pintos sabem sumar, lá o casal da fotografia no mínimo deve saber fazer raízes quadradas...

terça-feira, 5 de maio de 2009

Nin todo o que brilla... / Nem tudo o que brilha...










Ao Paco, que di que anda cunha perna no aquén e outra no alén,
como se non camiñásemos todos no arame...


Ao Paco, que diz que está com uma perna no aquém e outra no além,
como se não caminhássemos todos na corda bamba...



Agora ninguén diría, pero o tío Paco tamén foi cativo no seu tempo, chegando a ter coma mínimo sete anos, que se saiba. E nesas dos sete anos andaba cando aconteceu o que se relata na trola que me alocou logo de me recomendar que arrendase un par de ovellas para librar de herba o eido. Porque unha cousa sempre leva a outra.

Agora ninguém diria, mas o tio Paco também foi criança no seu tempo, chegando a ter no mínimo sete anos, que se saiba. E nessas dos sete anos andava quando aconteceu o que se relata na patranha que me enfiou logo de me recomendar que alugasse um par de ovelhas para livrar de relva o quintal. Porque uma coisa sempre leva a outra.

Daquela o tío Paco —que aínda non ostentaba o título de respecto prefixado senón das mesmas letras en reviritado sufixo diminuínte— vivía en San Roque de Abaixo, desde onde subía a miúdo para o campo grande do Barrio da Rola, onde hoxe está o “Colegio Hogar”, pero que antes foi prado onde pastaban as ovellas alleas ao destino máis ilustrado do predio.

Naquel então o tio Paco —que ainda não ostentava o título de respeito prefixado mas das mesmas letras em reviravoltado sufixo diminuinte— morava em São Roque de Baixo, desde onde subía com frequência até o campo grande do Bairro da Rola, onde hoje está o “Colegio Hogar”, mas que antes foi prado onde pastavam as ovelhas alheias ao destino mais ilustrado do prédio.

O tío Paco —divagacións á parte das que o tiven que chamar á orde non lle eu fose perder o fío ao nobelo— contoume, apelando á inocencia da infancia, que había un vendedor de olivas que ás veces aparecía polo campo a ciscar as que se estragaban, advertíndolle á criallada que se achegaba a zoar coma vareixas que non as comesen por nada, que ben se vía na falta de lustre que estaban podres. Ao Paquito —ninguén di que non fose a fame da posguerra— as olivas privávanlle, foran verdes ou negras, enteiras ou estrulladas. E a visión dun campo estrado de olivas relucentes cegábao.

O tio Paco —divagações aparte das que o tive de chamar à orde não lhe eu fosse perder o fio à meada— contou-me, apelando à inocência da infância, que havia um vendedor de azeitonas que às vezes aparecia no campo a jogar as que se estragavam, advertindo à miudagem que se achegava a zumbir como moscas varejeiras que não as comessem por nada, que logo se via na falta de lustro que estavam podres. O Paquito —ninguém diz que não fose a fome da posguerra— adorava azeitonas, fossem verdes ou pretas, inteiras ou esmagadas. E a visão dum campo inçado de azeitonas reluzentes cegava-o.

Era, ao que parece, un día de maio contra o lusco-fusco, a merenda dixerida, a partida de bólas concluída e os amigos a fuxir en desbandada, cadaquén coas bólas que gañara ou perdera. O Paquito botou a andar campo a través, cando uns puntos brillantes entre a herba lle chamaron a atención. “Olivas!”, exclamou para dentro, cobizoso, con medo de que os outros o ouviran. Mirou para atrás, non quedaba ninguén. Tragou cuspe, agachou, atacou os petos do pantalón e saíu escopeteado para a casa.

Era, ao que parece, um dia de Maio quase ao lusco-fusco, a merenda digerida, o jogo de berlinde concluído e os amigos a fugirem em desbandada, cada um com as bolas que ganhara ou perdera. O Paquito ia atravessando o campo, quando uns pontos brilhantes entre a relva chamaram a sua atenção. “Azeitonas!”, exclamou para os seus botões, cobiçoso, receando que os outros ouvissem. Olhou para trás, não ficava ninguém. Engoliu saliva, agachou, entulhou os bolsos das calças e despencou-se para a casa.

—Mamá! Mamá! Mira o que traio! Mira cantas!—gritou ao entrar pola porta da cociña, onde a nai picaba as patacas para a tortilla sen ovo, mentres baleiraba os petos do tesouro sobre o mármore da meseta.

—Mamãe! Mamãe! Olha o que trago! Olha quantas!—gritou ao entrar pela porta da cozinha, onde a mãe cortava batata para a tortilha sem ovo, enquanto ia despejando os bolsos do tesouro sobre o mármore da bancada.

O berro que deu a mamá foi de tal calibre, que ata as ovellas do tío Pepe que pasaban nese momento pola rúa camiño da corte levantaron a cabeza como dicindo “E eu que fixen?"

O brado que deu a mamãe foi de tal calibre, que até as ovelhas do senhor Pepe que passavam nesse momento na rua caminho da corte levantaram a cabeça como dizendo “E eu que fiz?"

domingo, 3 de maio de 2009

Sentido non é sentidiño










Na procura do sentido da vida, isto é, do por que e para que da realidade, botei o Día do Trabalho coa desbrozadora ao lombo, das dez da mañá ata as nove menos cuarto do serán, con pequenos intervalos para cargar de combustible a máquina e mandarlle un petisco ao corpo, admirándome a cada hora de que canto mais minguaba a herba máis eu me crecía... Esa noite despertei ás dúas e media da madrugada, queréndome arrincar a cabeza, que me estoupaba castigándome pola brasa que lles metera ás cervicais. Tras tomar un paracetamol que nin cóxegas me fixo, practiquei todas as posturas dun kamasutra solitario, tentando atopar alivio en balde. Só o café da mañá acompañado dunha aspirina que inxerín facéndolle figas ao estómago me deron disfrazado un chisco a perforación cranial que padecía, ben que non o suficiente para acometer un documental de pingüíns —que pospuxen inevitablemente para me alegrar un domingo máis non santificado.

Pola tarde, comida e algo máis feita xente, enfiei cara á Foz do Lima, disposta a ver a única película da carteleira que me espertaba algún interese, nin que fose para non acabar tirada na cama, alimentando a dor de cabeza co pretexto da noite mal durmida. E non me arrepentín, porque entretida en persecucións e tiroteos que ata me provocaron algún que outro sorriso (tanto os impactos de bala contra as inmaculadas paredes e as pantallas indiferentes ao espectáculo coma a caída da lámpada en cámara lenta son relativamente memorables, xa non digo a escena do quen che mandou quitar o chaleco anti-balas antes de rematar a festa...) acabei por descubrir na frase dun dos actores —secundario el— un detalle vital no que nunca reparara. E foi que o coronel Wexler, por esixencias do guión, nin me lembra a ton de que, afirmou todo cheo de razón:

—A diferenza entre ficción e realidade é que a ficción sempre ten que ter sentido.

E eu aquí a debandar a miolada, en vez de me deixar arrolar polo maio que vai chegando e atacarme cos bolos de pan de Castro Laboreiro que me trouxeron o Condado e a Condadesa Con-Sorte... Ai, cando vou coller sentidiño?