quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

De sentenças de morte (e indultos)

Como propósito para o ano novo é mesmo nada disparatado. Vive-se tantas vezes, às vezes, sem dar por isso, pela vida, que incomoda. Sentir os dedos doer, por exemplo, e os olhos a perseguir sonhos é um exercício de concentração estrito. Não foi isso o que aconteceu ao touro. Quis não morrer na hora que lhe marcaram e fugiu. Mas assim morreram-o antes ainda, matado, a caminho do regresso ao matadouro, adormecendo-lhe o instinto, domesticando-o quimicamente para virar de ali a uns dias posta com arroz e salada, filet-mignon com batata a murro ou rabo estufado com ervilhas. Assim morremos antes da hora nós tantas vezes, às vezes, e no fim, miséria, só daremos boa janta aos vermes... ou nem, incineraditos, que é moda de poupar espaço, as cinzas a entrar por olhos e bocas e narinas alheios, raispartam o vento, rosmam os presentes cuspindo lixos do defunto.

Pois não indultaram o bicho depois de eu ter escrito esta porcaria? E agora faço o quê?! Mando o rascunho à lixeira? Vou ver eu se quando me chegar a hora me indultam também, e os vermes que se lixem.

2 comentários:

Anónimo disse...

E deixe estar, non faga nada: non entendo eu estes indultos marcados pola opinión pública, sempre tan infantil e tan manipulable, como cando se falaba de traer o polbo Paul a un zoo en España.
Enfín, que teña unha feliz entrada e saída de ano, e que o próximo lle sexa óptimo e levadeiro.

Sun Iou Miou disse...

Co a gusto que estaría o bicho convertido en entrecó de boi no meu prato, don Kaplan.

Que é vostede o meu heroi, e non é por rimar con boi, pero tiña unha gana de ouvir o de boa saída e boa entrada que nin imaxina. Mil veces para vostede.

E que teñamos algo que contarnos tamén.