domingo, 12 de dezembro de 2010

Cadeiras, bonés, batatas... uma visão (pintura abstracta*)










Era essa a lista da compra para uma sexta-feira de dezembro. Tantos quilómetros para isto. Um chocolate quente em Verín, com churros: paragem tópica obrigada. Depois um troço pela A-75, recente o asfalto (só por vê-la, que a gente já sabe que leva ao casino e não íamos vestidos adhoc-uadamente) e retorno à estrada velha, à fronteira abandonada, Feces de Abaixo - Vila Verde da Raia. Até que enfim, Chaves. Estacionamos. Atravessamos o Tâmega, que nem repara em nós, no olhar de nosso a deslizar, céu contra água. Azul de inverno, está um dia bom, até que mesmo bom, de passeantes, ciosos, ociosos, flâneurs que contemplam nas montras nada de nada, ou aí que sim, chapéus, o capricho: dois bonés por un módico prezo... talvez, que a loja fecha já, nós depois voltamos, voltaremos após o almoço.

Ei-lo: presunto, sopa (de legumes), salada de bacalhau ou alheira com grelos, leite-creme, tinto e broa. Assim tudo, todos, tão nós de ementa turística, e o sotaque brasileiro do empregado, a música. O gajo, um dos gajos, que se levanta com a desculpa de ir mijar e paga a conta ―pouca finura para tanta gentileza.

O café num café que cheire ao café. Três. Um por cada. Chega e já foi de mais. Paga-se ao balcão.

Os bonês, então, foram dois e mais a conversa: total, meia hora e quase não nos deixávamos largar com a história do chapéu de pêlo de rato (!), em Lisboa, nessas lojas tão careiras cento e vinte euros, quando aqui... Aqui agora fiquem vocês com a curiosidade desconfortável, que eu não digo (mas a senhora disse, sou eu que não digo).

As cadeiras, seis, máximo de comensais admitidos em casa nova, fique assim claríssimo, depois não digam que também queriam. A mala e a estratégia da disposição. Uma cómoda que ficou atrás, que a carrinha é grande mas não é camião.

Passa-se a fronteira e agora é sim, desvio a Riós, a vez das batatas. Vermelhas. Reviravoltas da estradinha até Piornedo. No cu do mundo, num deles. E afinal, haviam-de lhas dar, as batatas, aos porcos, que eles, que as plantam, que as sacham (regar é que não, antes regavam, antes toda a gente regava as batatas, agora ninguém as rega), só comem das brancas, ou só come das brancas o homem, porque a mulher cozinha-as, não as quer (ou não as pode querer?), são para os porcos e para nós. E um saquinho de castanhas, de primeira. No Natal irão a Barcelona, a casa dos filhos, de autocarro.

E nós continuamos o regresso. E atravessámos a fronteira, mais uma vez, em Valença. E jantamos. Nem merece a pena dizer o quê. Excessos nem se contam em público. Ou não haveria caixilhos que chegassem para esta tela.

______________
* Não tenta aqui ser arte, é apenas a falta dela. Estou desinspirada.

1 comentário:

Sun Iou Miou disse...

E não, não digo. Não perguntem que não adianta.