segunda-feira, 21 de março de 2011

Locuras (ou sons)

Não tarda em propalar-se aldeia fora o rumor. A mulher ―dirão num burburinho no segredo dos confessionários, comentarão em surdina na mercearia, vociferarão sem pejo nos cafés― endoideceu e vagueia ao lusco-fusco pela margem do rio... sozinha.

O problema não é as pessoas nos julgarem doidos, mas não sabermos nós que estamos. Talvez, afinal, endoideceu mesmo, mas os cães agradecem tanto...

Depois estão as perspectivas, porque a mulher não vagueia sozinha: acompanham-a o alento dos cães, os patos que regressam ao ninho apregoando-se, o gralhar duma garça indecisa, um coro estridulíssimo de grilos, o plof-plof dos sapos que lhe abrem passo não os pise, os remos duma barca de pesca a chapinhar sobre tanta calma...

2 comentários:

Teté disse...

Afinal a Primavera tem as suas vantagens, mais que não seja por esses sons quase poéticos na calmaria da paisagem e o agradecimento dos canídeos... :)

Sun Iou Miou disse...

O inverno tem as suas vantagens também, Teté. E durante o dia o sol não me derrete os miolos, já bastante derretidos. ;)