terça-feira, 5 de maio de 2009

Nin todo o que brilla... / Nem tudo o que brilha...










Ao Paco, que di que anda cunha perna no aquén e outra no alén,
como se non camiñásemos todos no arame...


Ao Paco, que diz que está com uma perna no aquém e outra no além,
como se não caminhássemos todos na corda bamba...



Agora ninguén diría, pero o tío Paco tamén foi cativo no seu tempo, chegando a ter coma mínimo sete anos, que se saiba. E nesas dos sete anos andaba cando aconteceu o que se relata na trola que me alocou logo de me recomendar que arrendase un par de ovellas para librar de herba o eido. Porque unha cousa sempre leva a outra.

Agora ninguém diria, mas o tio Paco também foi criança no seu tempo, chegando a ter no mínimo sete anos, que se saiba. E nessas dos sete anos andava quando aconteceu o que se relata na patranha que me enfiou logo de me recomendar que alugasse um par de ovelhas para livrar de relva o quintal. Porque uma coisa sempre leva a outra.

Daquela o tío Paco —que aínda non ostentaba o título de respecto prefixado senón das mesmas letras en reviritado sufixo diminuínte— vivía en San Roque de Abaixo, desde onde subía a miúdo para o campo grande do Barrio da Rola, onde hoxe está o “Colegio Hogar”, pero que antes foi prado onde pastaban as ovellas alleas ao destino máis ilustrado do predio.

Naquel então o tio Paco —que ainda não ostentava o título de respeito prefixado mas das mesmas letras em reviravoltado sufixo diminuinte— morava em São Roque de Baixo, desde onde subía com frequência até o campo grande do Bairro da Rola, onde hoje está o “Colegio Hogar”, mas que antes foi prado onde pastavam as ovelhas alheias ao destino mais ilustrado do prédio.

O tío Paco —divagacións á parte das que o tiven que chamar á orde non lle eu fose perder o fío ao nobelo— contoume, apelando á inocencia da infancia, que había un vendedor de olivas que ás veces aparecía polo campo a ciscar as que se estragaban, advertíndolle á criallada que se achegaba a zoar coma vareixas que non as comesen por nada, que ben se vía na falta de lustre que estaban podres. Ao Paquito —ninguén di que non fose a fame da posguerra— as olivas privávanlle, foran verdes ou negras, enteiras ou estrulladas. E a visión dun campo estrado de olivas relucentes cegábao.

O tio Paco —divagações aparte das que o tive de chamar à orde não lhe eu fosse perder o fio à meada— contou-me, apelando à inocência da infância, que havia um vendedor de azeitonas que às vezes aparecia no campo a jogar as que se estragavam, advertindo à miudagem que se achegava a zumbir como moscas varejeiras que não as comessem por nada, que logo se via na falta de lustro que estavam podres. O Paquito —ninguém diz que não fose a fome da posguerra— adorava azeitonas, fossem verdes ou pretas, inteiras ou esmagadas. E a visão dum campo inçado de azeitonas reluzentes cegava-o.

Era, ao que parece, un día de maio contra o lusco-fusco, a merenda dixerida, a partida de bólas concluída e os amigos a fuxir en desbandada, cadaquén coas bólas que gañara ou perdera. O Paquito botou a andar campo a través, cando uns puntos brillantes entre a herba lle chamaron a atención. “Olivas!”, exclamou para dentro, cobizoso, con medo de que os outros o ouviran. Mirou para atrás, non quedaba ninguén. Tragou cuspe, agachou, atacou os petos do pantalón e saíu escopeteado para a casa.

Era, ao que parece, um dia de Maio quase ao lusco-fusco, a merenda digerida, o jogo de berlinde concluído e os amigos a fugirem em desbandada, cada um com as bolas que ganhara ou perdera. O Paquito ia atravessando o campo, quando uns pontos brilhantes entre a relva chamaram a sua atenção. “Azeitonas!”, exclamou para os seus botões, cobiçoso, receando que os outros ouvissem. Olhou para trás, não ficava ninguém. Engoliu saliva, agachou, entulhou os bolsos das calças e despencou-se para a casa.

—Mamá! Mamá! Mira o que traio! Mira cantas!—gritou ao entrar pola porta da cociña, onde a nai picaba as patacas para a tortilla sen ovo, mentres baleiraba os petos do tesouro sobre o mármore da meseta.

—Mamãe! Mamãe! Olha o que trago! Olha quantas!—gritou ao entrar pela porta da cozinha, onde a mãe cortava batata para a tortilha sem ovo, enquanto ia despejando os bolsos do tesouro sobre o mármore da bancada.

O berro que deu a mamá foi de tal calibre, que ata as ovellas do tío Pepe que pasaban nese momento pola rúa camiño da corte levantaron a cabeza como dicindo “E eu que fixen?"

O brado que deu a mamãe foi de tal calibre, que até as ovelhas do senhor Pepe que passavam nesse momento na rua caminho da corte levantaram a cabeça como dizendo “E eu que fiz?"

18 comentários:

Teté disse...

Estou enganada, ou não eram exactamente azeitonas (olivas) que o Paco levava à sua nai??? (^_^)

Beijocas!

Tá-se bem! disse...

Será que a Teté tem razão? O que seria então? tradução por favor... ehehehe :p

Beijooo desconfiado :)

Anónimo disse...

Compra ovelhas que ficas com a erva "cortada" e ainda ganhas "azeitonas". eheheh
A minha cadela é como o Paquito. Não pode ver caganitas de ovelha (ou de coelho) que pensa logo que são para comer eheheh.

...levantaron a cabeza como dicindo “E eu que fixen?"...
Muito bem observado e melhor ilustrado.
Há coisas que só a "alma de poeta" consegue ver.

Beijinho.

Sun Iou Miou disse...

Até tinha "fotografia" para ilustrar melhor, Teté, mais ao final decidi deixar a trabalhar a fértil imaginação dos leitores, hehehe!, com bons resultados.

Sun Iou Miou disse...

Tenho a tradução quase amanhada, Tá-se bem! Mas já te digo que a Teté tem razão. Vou ver se consigo terminar ao longo da manhã.

Beeeeijo!

Sun Iou Miou disse...

Como vês, Cão, não foste o único a sugerir a utilização das ovelhas para terminar com a erva. E depois, para terminar com as caganitas sempre me podias alugar a Nina! (Nem que eu não tivesse aqui "família" bastante para dar conta do recado...)

Somos os poetas da blogosfera tu e eu, rapaz!

Rafeiro Perfumado disse...

Acho que o tal Tio Paco confundiu azeitonas com "conguitos"! ;)

Deliciosa a frase "teve no mínimo sete anos"

Abracinho!

Sun Iou Miou disse...

Acredita, Rafeirito, que até comprei uns Conguitos para tirar uma foto e colocar aí (fora dos outros "conguitos" que também fotografei, mas esses no campo...). Mas isso é mais do meu tempo. Na época do Paco os conguitos não se inventaram ainda: todos os amendoins eram brancos!

Abração

R.R. disse...

O perigo das ovellas. Que vén sendo o mesmo perigo que temos os humanos.

Sun Iou Miou disse...

Sei que teño unha débeda con vostede, R.R., que nin lin "aquilo" aínda. Supoño que xa é tarde, pero hei de lelo de todas todas, non sei é cando.

E si, os humanos cagámola con frecuencia.

Marreta disse...

Esse Paco era mesmo azeiteiro! Ou será azeitoneiro?...
Coitadinhas é das ovelhas que a partir daí devem ter começado a dar leite azedo, pelo menos aquelas que para isso o destino as havia preparado.

Saudações do Marreta.

Sun Iou Miou disse...

Azeitoneiro com certeza, Marreta. Essas ovelhas já há tempo que deixaram de dar nem leite nem lã nem azeitonas..., que o conto, de ser, foi há mais de 60 anos. (`_^)

condado disse...

Eu, que coñecín ao tal Paco ese do que aquí se fala, aseguro que o conto é certo, sempre foi un pouco parvo... :)

Sun Iou Miou disse...

Non me digas que tamén che contou a trola a ti, Condado. En fin, só se foi no verán e as cagarruchas estaban ben secas e duras. (^_^)

(Talvez haxa algunha imprecisión nos detalles, pero a miña memoria, xa sabes, non é moi alá. Ti que es do barrio ese saberás perdoarme a licenza prosaica.)

ana v. disse...

Parabéns pelo blogue, que é curiosíssimo e de muito bom gosto! A Galiza é um fraquinho meu também, até porque é de lá que vem o meu nome. Mas não sei falar, e fico fascinada quando ouço ou leio.

Sun Iou Miou disse...

Obrigada, Ana V. Vou tentando traduzir os textos ao português porque os leitores da margem de lá me pedem, mas por vezes é difícil para mim e confio em não fazer muitos destroços na língua. Sempre agradeço as correcções que me quiserem fazer.

Depois com mais vagar dou uma espreitadela nos seus cantos.

Paz Zeltia disse...

parece que é facil trabucarse.
estabamos uns cuantos a facer unha sardiñada, nun campo, alguén filmou e quitou fotografías.
o domingo xuntámonos a comer e ver os videos. a nena do dono da casa, salía no video, alá o fondo... apaña e come, apaña e come... tres aniños escasos.
quedamos abraiados.
mais a nena xogaba no pasillo, sana coma unha leituga
ninguén ousamos preguntarlle se estaban ricos "os conguitos que medran entre a herba"

Sun Iou Miou disse...

Benvida, Zelta. O de rillar cagarruchos é un clásico. Antes eran olivas, agora conguitos... Aínda que con tres anos tampouco fai falla procurar semellanzas: os nenos levan á boca todo que o apañan e se está bo non hai prexuízos para seguir comendo. (`_^)