terça-feira, 10 de março de 2009

En todo cabe ben a medida

Miss Anyeska non parou a mirar para atrás. Se fose millonaria había correr así o mundo enteiro, sen parar, sen pisar nunca dúas veces no mesmo palmo de chan (ai, non me veñan agora con Heráclito...). Pero os réditos das falcatruadas, aínda que daban para vivir con xeito, obrigábana a choutar fronteiras ao ritmo que a xustiza lle marcaba. Ao final tampouco era así tan libre. Na esquina, agardaba o coche xa co motor en marcha.

—Benvida de volta ao mundo, rapariga.
—Era sen tempo. Trouxéchesme roupa?
—Trouxen. Imos á miña casa ou tes outra idea prevista?
—Case mellor tira para a pensión da francesa. Vai ser o último sitio no que me busquen.

A Cedofeita estaba deserta, coma sempre desas horas. Un gato branco e cincento espreitoulles os pasos desde o fondo castaño dos ollos. Cando pasaron por el, Miss Anyeska detívose un segundo estrañada.

—Que cara coñecida.
—Quen? —a señorita Jennifer mirou ao redor.
—O gato.
—Ti estás parva.
—Estarei.
—Rrrrrr… —rosmou o gato, confiado, pousando os ollos no abanar das ancas das dúas amigas.

Timbraron ao chegar ao número 13. A dona da pensión asomou a cabeza espeluxada desde a fiestra do primeiro andar.

Oui! Quen vai?
—Son eu! Acórdase de min?
—Ai, avemariapurísima! Quelle surprise! Anda, sube, que xa vos abro.

Sentiuse estralar o cordel que tiraba do pasador. A porta non se abriu. Nerviosas, agardaron uns segundos infinitos ata que sentiron pasos polas escaleiras. Un mozo louro da raíz ás puntas apareceu do outro lado da porta, descalzo, metendo a camisa por dentro dos vaqueiros e axeitando o pelo revolto.

—Pasen, pasen —dixo con acento de lonxe e voz de pito.
—Moi boas noites —contivo o alento a señorita Jennifer, chanchándolle o cóbado á compañeira nun costado.
—¡Oi, que rachou o cordel da porta! ¡Vou ver se llo amaño nun segundo! —grallou o milmañas, porfiando en estragar tanta beleza.
—Non tardes, rei, que arrefece a cea!

O ton confirmaba que a voz do mozo non canxaba en absoluto co seu bico. La Queue Bleue franqueoulles o paso, cunha bata de seda violeta acabada de estrear e o labio superior escaldado nunha depilación urxente.

—Pasade, pasade! Esta si que non a esperaba! Veña unha alegría pola outra —murmurou acenando para abaixo, saudosa da folga interrompida.
—Seica non dispensa a boa mesa —chiscoulle a fuxitiva o ollo.
—Ai, a este cangallo xa non lle queda outra que soltar a galiña para comer quente —salaiou agudizando as palabras de ecos franceses.
—Non sexa modesta, que está esplendorosa. Tomara eu chegar así aos seus anos. En todo cabe ben a medida —mentiu Miss Anyeska citando un apotegma dos antigos sofistas gregos, disque.
—É, caber cabe ben, cabe —concordou, desta vez falando verdade a amante da sabedoria experimentada.

11 comentários:

condado disse...

Tupendo...

Sun Iou Miou disse...

Tamos elocuentes, Condado. (`_^)

Anónimo disse...

Sun, estou aqui para te dar um beijinho, mas não me atrevo a dizer nada sobre um texto que não entendi.
Paciência, fica para a próxima. Afinal as minhas lições de gallego ainda não dão para tanto eheheh.
Beijinho.

Sun Iou Miou disse...

Vou-me ter de esforçar mais então, CãoSarnento, ver se invento aí uma terceira lição de galego, todavia pensando que não é problema de idioma, mas da inevitável -por ser produto dos meus dois neurónios- complicação do texto.(`_^)

Anónimo disse...

Não será complicação mas erudição a juntar à dificuldade de entender a língua.
Não digo que não entendi algumas frases soltas mas sabes, melhor do que ninguém, que a língua tem certas nuances próprias da cultura local, que é difícil de entender a quem não esteja culturalmente integrado.
Nós, aqui do centro/sul, temos dificuldade em entender até o modo de falar do norte, especialmente da zona de Bragança, Chaves, Vila Real, porque mesmo as palavras sendo as mesmas há regionalismos que só os próprios entendem.
Por vezes basta a entoação de voz para fazer a diferênça.
Mas isto é o mesmo que eu estar "a ensinar o padre nosso ao vigário" (nalguns locais é: "ensinar o padre nosso ao cura"). De línguas percebo o português e mal eheheh.
Beijinho.

Rafeiro Perfumado disse...

Tinhas razão, não percebi um boi, nem mesmo um que tivesse a cara familiar! ;)

Beijoca!

Sun Iou Miou disse...

A mim acontece-me o mesmo com o português, CãoSarnento. Ontem estive a ouvir o informativo duma televisão portuguesa e não percebi um naditita. Mas não tenho certeza de que fosse problema de idioma... e de erudição também não devia ser.

Bico (galego)

Sun Iou Miou disse...

Eu bem te disse, Rafeirito: isto nem para galegos é. Vou começar a postar em chinês para ninguém se sentir tentado a fazer um test de QI. (`_^)

Anónimo disse...

Agora não podes dizer que me não esforcei para entender o texto.
Mas valeu a pena o tempo ganho na tradução.


Miss Anyeska não parou a olhar para trás. Se fosse milionária havia de correr assim o mundo inteiro, sem parar, sem pisar nunca duas vezes no mesmo palmo de chão (ai, não me venham agora com Heráclito... «Aqui tive de recorrer aos livros: heracliteísmo: doutrina que considera como prevalecente a constante mobilidade das coisas»). No entanto, os réditos (rédito = lucro; rendimento; existe com o mesmo significado no português, mas pouco utilizado na linguagem corrente) das falcatruas, ainda que dessem para viver com desafogo, obrigavam a passar fronteiras ao ritmo marcado pela justiça. No fim tampouco era assim tão livre. Na esquina, aguardava o carro já com o motor em marcha.

— Bem-vinda de volta ao mundo, rapariga.
— Não era sem tempo. Trouxeste-me roupa?
— Trouxe. Vamos à minha casa, ou tens outra ideia prevista?
—É melhor irmos para a pensão da francesa. Vai ser o último sítio onde me vão procurar.

A Cedofeita (no Porto?) estava deserta, como sempre a essas horas. Um gato branco e cinzento espreitou-lhes os passos desde o fundo castanho dos olhos (os olhos dos gatos não são amarelos na Cedofeita eheheh). Quando passaram por ele, Miss Anyeska deteve-se um segundo, desconfiada.

— Uma cara conhecida.
— Quem? — a menina Jennifer olhou ao redor.
— O gato.
— Tu estás parva.
— Estarei.
— Rrrrrr… — ronronou (os cães rosnam, os gatos ronronam) o gato, atrevido, pousando os olhos no abanar das ancas das duas amigas.

Tocaram a campainha ao chegar ao número 13. A dona da pensão assomou a cabeça despenteada(?) à janela (dúvida: por analogia com a finestra italiana, ou a fenetre francesa sem certezas de alguma delas estar correctamente escrita eheheh) do primeiro andar.

—Oui! Quem é?
— Sou eu! Recorda-se de mim?
— Ai, avemariapurísima! Quelle surprise! Anda, sobe, que já vos abro a porta.

Sentiu-se estalar o cordel que saía do passador. A porta não se abriu. Nervosas, aguardaram uns segundos infinitos até que sentiram passos pelas escadas. Um moço louro da raíz às pontas do cabelo apareceu do outro lado da porta, descalço, metendo a camisa por dentro das calças de ganga (ou jeans) e ajeitando o cabelo revolto.

— Passem, passem — dito com pronúncia de longe e voz de adolescente(?).
— Muito boas noites — contivo o alento a señorita Jennifer, chanchándolle o cóbado á compañeira nun costado. (com esta é que me lixaste eheheh)
— Oi, que se partiu o cordel da porta! Vou ver se o amanho (“arranjo” é mais utilizado por cá) num segundo! — gritou com voz de gralha (pássaro da família dos corvídeos que tem um piar estridente e irritante) o atrevido(?), com receio de estragar tanta beleza.
— Não demores, rei, que arrefece a ceia! (frase retirada, provavelmente, de algum clássico da literatura? Perdoa a minha ignorância)

O tom confirmava que a voz do moço não batia, em absoluto, com o seu aspecto (aqui poderia dizer-se que “não batia a bota com a perdigota” eheheh). La Queue Bleue franqueou-lhes a passagem, com uma bata de seda violeta acabada de estrear e o lábio superior escaldado numa depilação apressada.

— Passem, passam! Não estava à sua espera! Vale uma alegria pela outra — murmurou acenando para baixo, saudosa do descanso interrompido.
— Seica (nome próprio?) não dispensa a boa mesa — disse a fugitiva piscando o olho.
— Ai, a este cangalho já não lhe resta outra coisa que soltar a galinha para comer quente (a esta também não entendi o sentido) — brincou(?) agudizando as palavras com pronúncia afrancesada.
— Não seja modesta, que está esplendorosa. Tomara eu chegar assim à sua idade. Em tudo cabe bem a medida — mentiu Miss Anyeska citando um apotegma (apotegma existe no português mas será utilizado talvez em linguagem mais erudita. Eu própria a desconhecia, apesar de agora verificar que uso bastantes “apotegmas” na minha linguagem corrente eheheh) dos antigos sofistas gregos.
— É, caber cabe bem, cabe — concordou, desta vez falando verdade a amante da sabedoria experimentada. (aqui talvez se pudesse utilizar “sabedoria popular”, em vez de “sabedoria experimentada”, se bem entendi o sentido )

Tá-se bem! disse...

Eu acho que conheço o gato! :|

O Cão sarnento usou o nice translator?? ehehehehehe :p

Besoooo de sexta?? Ohhhhh

Sun Iou Miou disse...

Não será um dos teus por acaso, Tá-se bem? Hmmm.... Paciência.

Beijoquita de sexta, sim, sim!