quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Garrafas com mensagem (1)

Em tempos tive um amigo catalão cuja mãe, ainda solteira, face à inchação crescente da barriga, num outro milénio em que a prenhez fora dos limites do matrimónio era, além de opróbrio, pecado (ou viceversa), defendeuse da ira paterna e a vergonha materna alegando que aquilo vinha dependido de se ter banhado repetidas vezes (reparem na reincidência a lata da pecadora, se não é isto tentar o demo...) na praia da Barceloneta. Hoje, oito anos depois do lavado de cara das Olimpíadas, presumo aquelas águas tão limpas que a gente pode afogar nelas sem qualquer risco para a saúde, mas naquele então os argumentos da futura mãe do meu amigo eram de peso e evidente gravidez.

Primeira garrafa com mensagem
Lembrei isso há dias, ao deparar no Alpendre da Lua com uma notícia, em cujo final, aliás, o administrador do coiso citava, muito amavelmente, um texto deste blogue (estamos aqui num puxa-saquismo quase patético). Vejam.

Um executivo com ar de não ter pisado nunca fora do rego (talvez não é muito feliz a escolha da expressão) colocou repetidas vezes sémen próprio na garrafa de água duma colega de trabalho. Até aqui tudo bem: uma ideia perfeita para a mente dum tarado conceber. Mas há algumas incógnitas de índole para-científica não esclarecidas no jornal que me têm desde a data numa de insónias inquietantes.

Como é que fez o Michael Kevin (este pessoal tem mesmo nomes de telenovela) para enfiar o esperma pela boca (quase ia utilizando à galega "bico" para dar nisto um toque etno-medieval, mas depois ficam-me todos nervosos) da garrafa? Eu só imagino aquilo tudo esporrado por fora, visto que a maioria dos homens nem para mijar, com a pila bem segurada e fixa, acertam no wc, que tem um diâmetro consideravelmente maior, quanto mais...

Ora, a água é, como bem aprendemos na escola, um líquido incolor, inodoro e insípido. A mim não me digam que uma gota de esperma que seja não dá nas vistas por ali a aboiar com aquela corzinha esbranquiçada? Quanto ao sabor, ainda levou três meses a gramar água choca antes de notar qualquer coisa de estranho?! Se calhar, a papalva ia pensando, "Olha que isto que estou a beber é bom como a água, tem um gosto que me traz belas recordações mas não identifico" e tal. Acontece muito nos cursos de cata entre pessoas inexperientes. Já relativamente ao odor, aí pronto, concede-se-lhe o benefício da dúvida, pois nem toda a gente consegue farejar que um colega de trabalho possa trazer água no bico ou que essa água não fosse flor que se cheirasse.

Porém, um dos poucos pormenores que levou a vítima a desconfiar foi o facto de ela ficar indisposta depois do acto, vamos denomina-lo assim, de libidinagem. Esta também não percebi. Eu já fiz inquéritos para me documentar seriamente e das 1637 mulheres entrevistadas, 78% afirmou que jamais se sentiram indispostas por ingerirem esperma pela boca, muito ao contrário, algumas (67'9% destas) sentiram-se muito bem dispostas; houve 12% que alegou preferirem água com gás; 7% declararam-se lésbicas; e o 3% restante não souberam barra não responderam (aqui incluo uma senhora que me bateu impiedosamente com a mala).

É por isso que, ao meu parecer, este insólito episódio só se explica através das subtis apreciações feitas no Alpendre, o que me leva a animar os governos das sociedades mais avançadas a proverem de fundos à comunidade científica para investigar na linha aventada com tão pouco êxito pelo Michael Kevin.

8 comentários:

Rafeiro Perfumado disse...

Em primeiro "fora do rego" realmente não é uma expressão feliz. Em segundo, esse tipo era doente! E ela parva, por não reparar na mudança da água. Será que foi nesse episódio que se inspiraram para criarem as águas com sabores?

Sun Iou Miou disse...

Não dês ideias, Rafeiro, às multinacionais sem registares antes a patente! Com esta tens a quinta nos Açores garantida!

Teté disse...

Ahahah, já me fartei de rir! Já tinha lido por aí a história, mas confesso que não liguei muito - coisas de vinganças entre colegas ou coisa, sendo que esse género de "vendetta" me pareceu parva de todo!

Mas pensar como é que ele pôs o esperma na garrafa, não me tinha ocorrido. Pensei vagamente que a mulher devia ser distraída, pois ou era uma quantidade de esperma irrisória na água que não se notava ou então todos dariam por isso, mas não lhe dei importância! E agora entro aqui encontro uma teoria bem elaborada sobre o caso! Fora a doida que te deu com a mala na cabeça, mas às vezes é perigoso chegar a descobertas científicas importantes... :)))

Beijocas!

Sun Iou Miou disse...

Qualquer trivialidade pode dar para uma história quando a gente está virada para aí, Teté. É só pena que por vezes não vejo além da ponta dos sapatos ou nem isso. :)

Beijoquita

Alexandre de Castro disse...

Sun Iou Miou:
Está enganada. O tal executivo utilizou um funil e a garrafa era verde escura. A rapariga não deu por nada. Bebeu e gostou!...

Sun Iou Miou disse...

O Alexandre é que sabe, a noticia era sua. Mas se a rapariga gostou, porque é que apresentou queixa? Viciou-se e queria mais e foi vingança?

Alexandre de Castro disse...

Sun Iou Miou:
Eu penso que a rapariga não gostou da ideia do funil e da garrafa. Ela pretendia que a transacção se processasse directamente do produtor para o consumidor, sem intermediários. E temos de dar-lhe razão!

Sun Iou Miou disse...

Só se for isso, Alexandre. Vou ter de lhe dar a razão eu também. As bebidas misturadas com água não prestam... fora um bom whisky. ;)