sexta-feira, 23 de abril de 2010

Hoje é que é sexta...

Em declaro vençut
Em declaro vençut. Els anys que em resten
els malviuré em somort. Cada matí
esfullaré una rosa ―la mateixa―
i amb tinta evanescent escriuré un vers
decadent i enyorós a cada pètal.
Us llego la meva ombra en testament:
és el que tinc de més perdurable i sòlid,
i els quatre pams de món sense neguit
que invento cada dia amb la mirada.
Quan em mori, caveu un clot profund
i enterreu-m’hi dempeus, cara a migdia,
que el sol, quand surt, m’encengui el fons dels ulls.
Així la gent que em vegi exclamarà:
―Mireu, un mort amb la mirada viva.

Miquel Marti i Pol, La pell del violí


Declaro-me vencido
Declaro-me vencido. Os anos que me restam
mal vive-los-ei amortecido. Cada manhã
esfolharei uma rosa ―a mesma―
e com tinta evanescente escreverei um verso
decadente e saudoso em cada pétala.
A vocês lego a minha sombra em testamento:
é o mais perdurável e sólido que tenho,
e os quatro palmos de mundo sem aflição
que invento com o olhar cada dia.
Quando eu morrer, cavem um buraco profundo
e soterrem-me em pé, de frente ao meio-dia,
para me acender o sol, quando sair, o fundo dos olhos.
Assim as pessoas que me vierem exclamarão:
―Olhem, um morto com o olhar vivo.

Miquel Marti i Pol, A pele do violino

3 comentários:

Teté disse...

Tinha deixado aqui um comentário de manhã, mas não apareceu: este blogger às vezes prega-nos partidas!

Dizia mais ou menos o seguinte: Gostei do poema! Mas se há coisa em que os poetas insistem é em puxarem-nos para o túmulo...

Beijoquitas!

Teté disse...

Olha, agora saiu em duplicado! São uns doidos... :)

Sun Iou Miou disse...

Pois, Teté, parece que o comentário ficou mesmo gravado, só que demorou a sair. Quem sabe por onde andou?!

Na verdade, não esperava que gostasses disto, justamente tu, que tens aversão à minha parte negra. ;)

Adoro essa frase final do morto com o olhar vivo. O Miquel Marti i Pol é um dos meus poetas preferidos. Vou tentar traduzir ao português algum mais dele.

Bom fim de semana!