quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Dizem que o sistema falhou

Não sei se chove em Málaga, mas será precisa muita água para lavar tanto sangue, para escoar tanta dor, para encher tanto vazio que resta, para amparar tanto abraço que se perde no ar. Eu não te conhecia, Susana. Apenas ouvi uma vez a tua voz ao telefone, nem tanto há, este natal, quando liguei para mandar um beijo a tua avô, minha tia, e a tua mãe, minha prima. Atendeste tu e gritaste mãe! Não sei se vou encontrar palavras para dizer agora à tua mãe, nem se a tua mãe vai encontrar palavras para dizer à tua filha. Não sei sequer se servem dalguma coisa as palavras quando não se escutam aquelas de quem pede protecção contra a barbárie dum deusezito miserável que se julga com poder sobre a vida doutrem, e somando horror ao horror, destrói de vez e à machadada a vida que não pôde continuar a destruir aos poucos, torturando, como quem arranca a uma mosca as asas, uma por uma, e os olhos, um e outro, e por fim o coração, o coração único... Porque tu, a Susana que eu nem conhecia, fugiste mesmo assim, já sem asas, já sem olhos, com voz ainda para gritar mãe!, já sem coração, esse que não encontrará quem te fizer a autópsia para redigir um relatório sobre as causas da morte, tão claras, tão bem definidas: uma falha no sistema. Mais um número nas estatísticas.

5 comentários:

pau disse...

Deus! tanta dor...

Anónimo disse...

Non o dou entendido, é algo que me sobrepasa.

Zé Marreta disse...

Sendo eu um anti-sistema, mais convencido fico de que há que combater o sistema, seja ele qual for.

Saudações do Zé Marreta.

Teté disse...

Não li a notícia, que o link não estava a funcionar, mas penso ter entendido que alguém da tua família foi barbaramente assassinado. E para isso não há palavras...

Rafeiro Perfumado disse...

Que pena os vizinhos em vez de o segurarem não lhe terem feito o mesmo.

Abracinho.