quarta-feira, 20 de abril de 2011

Faltava-nos a energia de estarmos vivos...










Ele disse vim para morrer, bem o sabes. Ele disse vim para morrer, porque pensaba que sabia a resposta a todas as perguntas do mundo. Ele disse não sabia uma resposta. Ele disse não sabia que morrer custa muito. É muito difícil morrer, disse ele. Sabendo tudo, ou não sabendo nada sobre o mundo e sobre a vida, morrer custa muito, disse ele. É muito difícil morrer, disse ele. Não dissemos nada. Ele disse a morte é impossível. Ele disse o amor é impossível. Ele disse tudo o que desejamos é impossível. Cada palavra do príncipe de calicatri era verdadeira, como era verdadeira a lentidão dos rostos. Faltava-nos a energia de estarmos vivos e, no entanto, a morte era impossível. Também eu já sabia isso.

José Luís Peixoto. Uma casa na escuridão. Quetzal Editores. 2002

2 comentários:

xenevra disse...

E tão só hà ums dias que venho de descubri-lo pelo conselho certeiro da verónica Martínez.
Cada vez gosto mais dele. Fermoso fragmento

Sun Iou Miou disse...

Então aconselho-te a leres Nemhum olhar, xenevra.

Alguma coisa escrevera sobre esse livre aqui (e sobre a sua poesia há também alguma coisa no blogue):

http://istononeuncabare.blogspot.com/2009/05/sei-que-os-meus-olhos-tinham-uma-magoa.html