terça-feira, 12 de outubro de 2010

De violências verbais

[Repórter TVI: O céu visto da terra, de Ana Leal]






Escultura de Buciños 
Morto pela sua própria sombra?


Não gosto de censurar o que acontece em terras em que não moro, mas por vezes desata-se uma revolta cá nas tripas de moi même pelo vejo e ouço que nem sempre dá para um poema, antes dá para fazer abrolhar em mim reacções duma brutalidade em que não me reconheço. Verbi gratia, ontem ouvi num programa de televisão falar uma senhora ministra da Ignorância e a Insensibilidade com tal arrogância e desprezo pela dor, pelos sentimentos, pela vida e a morte das pessoas ―pessoas com rosto, pessoas com lágrimas secas sobre a pele seca― que me veio aos dedos uma vontade sinistra de se fecharem em punho, um desejo do punho de se transformar em trompada contra a fuça da senhora, uma trompada única e contundente que lhe partisse o nariz e lhe escachasse os óculos, pelo prazer de ver, depois, o sangue a rebentar-lhe pela boca dentro e o queixo abaixo e os vidros estilhaçadinhos espetados nos olhos inúteis dela... sem anestesia.

8 comentários:

Sun Iou Miou disse...

Não lhe desejei à senhora ministra que a corroesse um cancro muito lenta e dolorosamente, nem que corroesse um cancro, muito lenta e dolorosamente, à pessoa que ela mais possa querer (se quer alguém) porque isso nem no pior arrebato de raiva sou capaz de desejar a ninguém.

Anónimo disse...

Deixe, deixe, non se lixe con malos pensamentos e desexos ruíns para quen non ten humanidade nin, con certeza, corazón.

Sun Iou Miou disse...

Ten poder, Kaplan, ten poder sobre a dor dos outros. Como non me vou lixar?!

Teté disse...

Ainda bem que não vi, que essas cenas também me irritam profundamente!

E sim a eutanásia devia ser discutida seriamente, bem como melhoradas/aumentadas as unidades de tratamentos e cuidados paliativos. Mas não me parece que isso conste em nenhum programa deste ou de outros governos... :(

Beijoquitas!

Sun Iou Miou disse...

Aplica-se a eutanásia a cães, Teté, e não se pode aplicar a pessoas? Alguma coisa não funciona bem. Aquele ditado de "morreu como um cão" vai ter de ser trocado por "morreu como uma pessoa".

A sociedade deve debater em sério as questões relacionadas com a eutanásia, a necessidade de cuidados paliativos ao alcance de toda a população e o direito ao testamento vital: a morte, afecta-nos a todos. Só quem com arrogância se julga imortal (ou tem dinheiro para pagar uma morte digna!) pode olhar para outro lado.

E não é só problema dos outros, de doentes terminais: qualquer um de nós pode ser, dum dia para o outro, doente terminal.

Porém, a sociedade parece estar cada vez mais virada de costas à morte, ocupada só em alcançar uma ilusória juventude eterna.

ella disse...

Uf!! rápidamente voy a hacer el testamento vital. Pero antes te ayudo a lo del puñetazo a la ministra. Este es un asunto al que estoy sensible. Me pregunto si no podemos elegir como y cuando morir igual que no podemos elegir como y cuando vivir...

Anónimo disse...

Sempre as piadosas persoas foron partidarias das piadosas apariencias. De feito, non viven doutra cousa.
Declárome co-culpable da puñada dende xa. Pero eu levarei luvas, miña amiga.

Sun Iou Miou disse...

E fai moi ben en pór luvas, setesoles, que é unha cousa é sentir rabia e outra ser parvo.