sábado, 9 de outubro de 2010

E a luz agora é da tua cidade?

Leio algures que Cidadeabertaaomar tem uma luz invulgar ou coisa do género, do género extraordinário, dia sim dia não. Que ontem, que era dia sim, na hora do entardecer a tal cidade era dona absoluta e senhora duma luz laranja não de artificial poste que para si quiseram as hecatombes e os juízos finais com redobre de tímpanos e pífaros, antes resultado do seu magnético engodo (engasgei no vaidosismo) para os fenómenos lumínicos exclusivos. Ai tinha? E então isto que cá havia pelas mesmas horas a me amarelecer nos olhos e nos carvalhos, nos azevinhos (em angular menage à trois de duas por um), nos bordos vários e no desacompanhado magnólio, no zimbro, no sobreiro, na figueira-da-índia-galega, nas ameixeiras e nos mirabéis, nas macieiras e nas pereiras (as autóctonas e a japonesa já também raiana), na cerejeira, na romãzeira (que tem cinco romãs primogénitas amadurecendo), nos liquidâmbares e nas gardénias, nos hibiscos, nos buxos, nas roseiras, em saramagos e noutras muitas e adversas-diversas ervas humílimas (vítimas de anonimato pela minha ignorância aprendiz), no monte da Pena, no do Cervo e no do Meio-Dia, na Cabra Fanada e no Ninho do Corvo e, também, no canto emudecido do melro e nos cagalhões dos cães... isto, pergunto, foi surripiado à supradita? Aiué...

Mágoa da minha imperícia infotográfica ou agora tinha eu aqui alguma para vos mostrar, sem photoshopismos, como é que a luz é do mundo-universo e não património dos urbanizados olhares seduzidos. Mágoa ou aiué...

8 comentários:

condado disse...

Chegou entón a marea vermella?... Tanto colorín me da qué pensar, o Jonas con azuis infante e ti con vermellos utópicos... Cogumelos alucinóxenos? Ai, ai...

Sun Iou Miou disse...

Então, Condado, o do Jonas era bola? O meu vai ser dos cogumelos, logo.

ella disse...

Está claro que este texto es para iniciados. Pero gusta como suena a mi nada entender ¿me estoy contagiando?

Sun Iou Miou disse...

Será música entón, Ella? :)

(Te estás contagiando y ya no tiene remedio.)

Alexandre de Castro disse...

Falta saber qual é essa cidade, banhada pelo mar, e que irradia essa luz mágica, a inspirar poetas. O que eu conheço, é uma cidade , banhada por um grande rio, e cujo largo estuário, com reflexos de prata, a ilumina e a transforma, reflectindo nela um rutilante colorido de irisados cambiantes, o que lhe dá aquela tonalidade mediterrânica, a incendiar os olhares e os desejos. Dela falaram Plínio, O Velho, e Varrão, quando lhe enalteciam a fertilidade das terras em redor, a alargarem-lhe o horizonte pela grande lezíria, e se referiam à velha lenda que dizia que, naqueles campos, até as éguas emprenhavam com o vento, metáfora esta que não seria enjeitada nos dias de hoje pelos nossos afamados poetas pós-modernos, de tão bela que é.
É por esta cidade de feitiços e encantos que eu passeio o meu olhar cansado, levando na bagagem outros olhares tão cansados como o meu, mas que esperam ainda a carícia do Sol e e o embalo da brisa, ao fim da tarde, contemplando a majestade do rio, que se chama Tejo. E será aí que deixarão de dizer que não têm nada para contar.

Unknown disse...

Se fosse assim tão difícil dizer o nome dessas flores, desses arvoredos como tu dizes, querida Maria, eu me perderia (engasgaria) e deixava de sentir a beleza natural e o aroma, o perfume, o colorido dessa
cidade tão extraordinariamente luminosa como a que tu desenhas...tão diferente. Só não tive dificuldade na tradução "cagalhões dos cães"!

Por onde andas buscando outras luzes?

Ich liebe dich

Sun Iou Miou disse...

Cidadeabertaaomar (muito ironicamente chamada) é neste blogue, Alexandre, a cidade que me fez a mim detestar cidades: Vigo.

Mas valeu a pena a descrição que faz da Cidade da Luz. Esse é um comentário que dava uma postagem.

Sun Iou Miou disse...

No inferno, Manoel Carlos, no inferno é que ando à procura de luzes.